Arboviroses no Brasil: diagnóstico e manejo na atenção primária
As arboviroses transmitidas por Aedes aegypti — especialmente dengue, zika e chikungunya — continuam a representar carga importante para serviços de saúde no Brasil. Sintomas sobrepostos, janelas diagnósticas e risco de evolução para formas graves exigem abordagem clínica padronizada na atenção primária, além de articulação com vigilância e ações comunitárias.
Arboviroses: diagnóstico
Dengue
A dengue tipicamente apresenta febre de início súbito, cefaleia, dor retro-orbitária, mialgia, artralgia intensa e exantema. Em avaliação inicial, é essencial identificar sinais de alarme (dor abdominal intensa, vômitos persistentes, hemorragias, hipotensão, redução da diurese) que indicam necessidade de encaminhamento urgente. Para confirmação laboratorial, PCR é útil nas fases iniciais (até 5–7 dias do início dos sintomas) e a sorologia (IgM/IgG) auxilia em fases mais tardias.
Zika
A infecção por zika costuma cursar com febre baixa, exantema maculopapular, conjuntivite não purulenta e artralgias. O principal impacto epidemiológico é o risco gestacional de malformações congênitas; por isso, toda gestante com suspeita deve receber orientação específica, investigação laboratorial conforme janela diagnóstica e vínculo com serviços de referência.
Chikungunya
A chikungunya caracteriza-se por febre alta e artralgias/artrites intensas, frequentemente incapacitantes e com possível evolução para dor crônica. Nos exames, PCR e sorologia ajudam na identificação etológica; o reconhecimento precoce da persistência de dor articular permite encaminhamento à reabilitação.
Diagnóstico diferencial e exames complementares
Devido à sobreposição clínica entre as três doenças e com outras causas de febre (influenza, COVID-19, infecções bacterianas), orienta-se a solicitação racional de exames: hemograma para avaliar hemoconcentração e plaquetas na dengue; PCR para confirmação viral nas janelas iniciais; e sorologia quando apropriado. A interpretação deve considerar a epidemiologia local e o tempo de doença.
Manejo na atenção primária
Medidas gerais
- Hidratação oral orientada (reposição de volume adequada para sinais vitais e diurese): peça atenção a sinais de desidratação ou hemoconcentração.
- Controle da febre e da dor com paracetamol; evitar ácido acetilsalicílico e anti-inflamatórios não esteroides nas suspeitas de dengue até estabilização plaquetária, por risco de sangramento.
- Orientação quanto ao repouso relativo, uso de repelentes e proteção domiciliar (telas, mosquiteiros).
Abordagens específicas
No caso da dengue, monitorize plaquetas, hematócrito e sinais de choque; encaminhe quando houver sinais de alarme ou queda marcada de plaquetas. Para chikungunya com dor articular persistente, considere analgesia escalonada e encaminhamento para fisioterapia e reabilitação. Em gestantes com suspeita de zika, articule investigação laboratorial e seguimento obstétrico especializado.
Para padronização de condutas e fluxos de encaminhamento, utilize protocolos clínicos atualizados e linhas de cuidado locais; isso facilita decisões sobre internação e encaminhamento para urgência/emergência. Consulte materiais de referência e protocolos institucionais para manejo de casos graves e choque (fluxos e cuidados iniciais) em situações de complicação.
Notificação, vigilância e articulação com a comunidade
A notificação imediata de suspeitas é obrigatória e fundamental para rastrear surtos e ativar medidas de controle vetorial. O Ministério da Saúde disponibiliza orientações e sistemas de notificação para vigilância epidemiológica, que devem ser seguidos por unidades básicas e equipes da atenção primária.
Prevenção e controle vetorial
- Eliminação de criadouros domésticos e comunitários (recipientes que acumulam água), vistoria e mobilização social como medidas centrais.
- Uso regular de repelentes aprovados e barreiras físicas (telas, mosquiteiros) especialmente para gestantes e populações vulneráveis.
- Educação em saúde e planejamento territorial integrado com equipes de saúde local para campanhas de controle e redução da transmissão.
Recursos de treinamento e materiais educativos podem ser acessados em plataformas de educação em saúde e portais governamentais para fortalecer ações de prevenção comunitária e orientação a pacientes.
Orientações práticas finais
Na atenção primária, priorize a estratificação de risco (identificar sinais de alarme), hidratação adequada, controle sintomático com paracetamol, e encaminhamento rápido quando indicado. Utilize protocolos clínicos locais para definir condutas e articule com vigilância epidemiológica e serviços de referência. A integração entre atenção primária, vigilância e comunidade é determinante para reduzir impacto das arboviroses.
Fontes e leituras recomendadas: Ministério da Saúde sobre arboviroses (Diretrizes e publicações oficiais), revisão sobre desafios diagnósticos (análise clínica e limitações) e guias de prática clínica (UNA-SUS: especial Arboviroses).
Conteúdo complementar e protocolos locais podem orientar triagem, prescrição segura de analgésicos e fluxos de encaminhamento: veja também os protocolos clínicos e diretrizes disponíveis em protocolos clínicos, orientações sobre prescrição segura em ambulatório em prescrição segura de analgésicos e estratégias de mobilização e planejamento territorial em planejamento territorial de saúde.
Em situações de dúvida clínica ou sinais de agravamento, siga os fluxos de referência local e comunique a vigilância. A atuação rápida e integrada salva vidas e reduz transmissão.