Como avaliar e reduzir a carga anticolinérgica em idosos: escala, riscos cognitivos e guia prático de desprescrição

Carga anticolinérgica: o que é e por que importa

A carga anticolinérgica (CA) corresponde ao efeito acumulado de medicamentos com atividade anticolinérgica que um idoso pode receber. Em idosos, esse acúmulo aumenta risco de delirium, acelera o declínio cognitivo em pacientes com demência, favorece quedas, retenção urinária e constipação, além de reduzir a funcionalidade e a qualidade de vida. A avaliação sistemática da CA permite equilibrar benefícios terapêuticos e riscos, especialmente em cenários de polifarmácia.

Escalas de carga anticolinérgica (palavra-chave: carga anticolinérgica)

Várias ferramentas auxiliam a quantificar a CA e orientar decisões clínicas. Escolha a escala que melhor se integra ao seu fluxo de trabalho (consultório, ambulatório ou internação).

ACB (Anticholinergic Cognitive Burden)

A Escala de Carga Anticolinérgica (ACB) atribui 0–3 pontos por fármaco; pontuações mais altas associam-se a maior risco cognitivo. Útil para monitoramento rotineiro.

ADS (Anticholinergic Drug Scale)

Lista fármacos com classificação de 0 a 3 e é prática para triagem rápida em consultas clínicas.

ARS e outras abordagens

A Escala de Risco Anticolinérgico (ARS) foca em fármacos comuns em geriatria e em desfechos como quedas e delirium. Complementarmente, revisões farmacológicas institucionais e alertas em prontuário eletrônico ajudam a identificar polifarmácia e risco anticolinérgico.

Riscos cognitivos e impacto funcional da carga anticolinérgica (palavras-chave: delirium, demência, quedas)

Dados observacionais e ensaios clínicos mostram associação entre CA elevada e:

  • delirium agudo em contexto de infecção, cirurgia ou medicação nova;
  • piora da memória, atenção e velocidade de processamento, com impacto sobre demência pré-existente;
  • aumento do risco de quedas e comprometimento da autonomia;
  • efeitos autonômicos como boca seca, constipação e retenção urinária, que também contribuem para risco de infecção e hospitalização.

Idade avançada, fragilidade e polifarmácia amplificam esses efeitos. Por isso, a desprescrição dirigida pode reduzir eventos adversos sem comprometer o controle das condições crônicas.

Guia prático de desprescrição de fármacos com carga anticolinérgica (palavra-chave: desprescrição)

Passo a passo prático para a rotina clínica:

1) Identificação e priorização

Realize revisão farmacêutica completa (incluindo OTC e fitoterápicos). Some a pontuação da escala escolhida e identifique fármacos com maior contribuição para a CA total.

2) Avaliação da necessidade terapêutica

Para cada medicamento com CA relevante, confirme indicação atual, benefício observado e existência de alternativas com menor perfil anticolinérgico.

3) Planejamento individualizado

Defina metas claras (por exemplo, reduzir 1 medicamento a cada 4–8 semanas), comunique paciente e cuidador e registre sinais de alerta. Priorize intervenções que melhorem função e qualidade de vida.

4) Estratégia de retirada e substituições seguras

Quando a retirada apresenta risco de rebound, tapering gradual é preferível. Considere substituições: ISRS com menor anticolinergicidade para depressão, terapias comportamentais para insônia, alternativas não antimuscarínicas para sintomas urinários. Evite anti-histamínicos sedativos em idosos.

5) Monitorização e follow-up

Agende retorno em 2–6 semanas para avaliar tolerabilidade, sinais de abstinência, evolução cognitiva e funcional. Ajuste conforme necessário e envolva equipe multiprofissional (enfermagem, farmacêuticos, terapia ocupacional).

Substituições e decisões terapêuticas (palavra-chave: antimuscarínicos)

Orientações gerais — sempre individualizar:

  • Antidepressivos: considerar ISRS com menor perfil anticolinérgico e monitorar função cognitiva.
  • Antimuscarínicos urinários: avaliar alternativas comportamentais, neuromodulação ou agentes com menor atividade anticolinérgica conforme evidência clínica.
  • Antipsicóticos/ansiolíticos: priorizar intervenções não farmacológicas para agitação; quando indispensável, optar por fármacos com menor CA e monitorização rigorosa.
  • Antihistamínicos sedativos: evitar e substituir por anti-histamínicos não sedativos ou medidas não farmacológicas para alergia e insônia.

Comunicação e implementação na prática clínica (palavra-chave: polifarmácia)

Explique de forma simples o que é carga anticolinérgica e como a desprescrição pode reduzir risco de delirium, quedas e declínio cognitivo. Utilize materiais educativos para pacientes e cuidadores, planeje mudanças em etapas e documente o raciocínio clínico.

Para apoiar a prática, consulte conteúdos relacionados como Polifarmacia geriátrica: avaliação e segurança e Prevenção de quedas em idosos: avaliação e intervenção — ambos úteis para integrar medidas de segurança à desprescrição.

Casos clínicos exemplares

Caso 1: 78 anos, demência leve e polifarmácia (>8 medicamentos). Ao revisar a medicação, retirou-se um anti-histamínico sedativo e substituiu-se um antidepressivo de alto perfil anticolinérgico por alternativa com menor carga. Em 6 semanas houve melhora da atenção e do sono sem piora do humor.

Caso 2: idoso com histórico de quedas e insônia crônica. Substituiu-se agente sedativo de alto risco por medidas comportamentais e melatonina em baixa dose quando indicado. CA total caiu e houve redução de episódios de queda em 3 meses.

Recomendações práticas sobre carga anticolinérgica

Em idosos, priorize revisão farmacêutica periódica, uso de escalas (ACB/ADS/ARS) para quantificar a carga anticolinérgica, planejamento compartilhado da desprescrição e monitorização ativa de delirium, função cognitiva e quedas. Envolva a equipe multiprofissional e o cuidador, documente decisões e ajuste conforme resposta clínica. A desprescrição, quando bem conduzida, reduz eventos adversos e favorece autonomia e qualidade de vida.

Ferramentas para o consultório

  • Checklist de revisão farmacêutica com foco em CA a cada consulta geriátrica.
  • Alertas de prontuário eletrônico para high CA e lembretes de reavaliação.
  • Material educativo para pacientes e cuidadores sobre sinais de alerta.

Observação: este artigo destina-se principalmente a profissionais de saúde que atuam em geriatria e atenção primária. Decisões sobre desprescrição devem ser individualizadas e discutidas com o médico responsável, considerando o quadro clínico do paciente, preferências e metas de cuidado.

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