Doenças inflamatórias intestinais: reconhecimento, encaminhamento e monitorização na clínica geral

Doenças inflamatórias intestinais: reconhecimento, encaminhamento e monitorização na clínica geral

As doenças inflamatórias intestinais (DII) — principalmente a Doença de Crohn e a retocolite ulcerativa — exigem diagnóstico precoce, encaminhamento adequado e seguimento estruturado para reduzir complicações como estenoses, fístulas e anemia. Este texto prático orienta o clínico geral sobre quando suspeitar, quais exames solicitar e quando referir ao especialista.

Doenças inflamatórias intestinais: sinais e sintomas

Manifestações gastrointestinais e extraintestinais

Sintomas que aumentam a probabilidade de DII incluem diarreia crônica (>4 semanas), dor abdominal persistente, perda de peso não intencional e presença de sangue nas fezes. Manifestações extraintestinais comuns são artrite periférica, lesões cutâneas (eritema nodoso, pioderma gangrenoso), uveíte e alterações hepáticas. A presença de sofrimento sistêmico com febre e perda de peso deve elevar a suspeita clínica.

Fatores de risco e história clínica

Investigue histórico familiar de DII, uso crônico de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e tabagismo (associado diferentemente à Crohn). Perguntas sobre padrão das fezes, urgência evacuatória, noctúria intestinal e história prévia de trombose ou colites infecciosas ajudam a orientar o diagnóstico diferencial.

Diagnóstico diferencial

Diferencie DII de síndrome do intestino irritável, infecções intestinais (incluindo parasitárias), doença celíaca, isquemia mesentérica e neoplasias. Em pacientes com dor abdominal inespecífica, a abordagem clínica inicial é fundamental — para isso, consulte orientações sobre dor abdominal inespecífica no ambulatório.

Encaminhamento e quando referir

Critérios para encaminhamento ao gastroenterologista

Encaminhe com prioridade pacientes com: quadro sugestivo de DII confirmado por exame inicial; complicações (estenose obstructiva, abscesso, fístula); sangramento digestivo intenso; perda ponderal significativa; falha terapêutica com tratamentos convencionais. Para orientações sobre manejo na atenção primária e encaminhamento, veja o material sobre doenças inflamatórias intestinais na atenção primária.

Preparação para o encaminhamento

Inclua no encaminhamento resumo clínico, exames laboratoriais (hemograma, PCR, VES, função hepática), coproculturas quando indicado e imagens prévias. Documente tratamento já tentado (antiespasmódicos, antibióticos, corticoides) e resposta. Em casos de suspeita de neoplasia ou sangramento persistente, priorize consulta especializada.

Monitorização e seguimento na clínica geral

Avaliação clínica periódica

Monitore sintomas, perda de peso, sinais de atividade inflamatória e efeitos adversos de terapias. Use escalas de atividade quando disponíveis e registre qualidade de vida. A adesão terapêutica e a vacinação devem ser revisadas regularmente.

Exames laboratoriais e biomarcadores

Hemograma é essencial para rastrear anemia ferropriva e inflamação crônica; a dosagem de proteína C-reativa (PCR) e velocidade de hemossedimentação (VES) ajudam a avaliar atividade inflamatória sistêmica. A calprotectina fecal é útil para diferenciar inflamação intestinal de síndromes funcionais e para monitorizar resposta ao tratamento.

Endoscopia e exames de imagem

Colonoscopia com biópsia permanece padrão-ouro para diagnóstico e estratificação. Exames de imagem (TC ou enterografia por ressonância) são recomendados para avaliar extensão da doença, estenoses e fístulas. Além disso, mantenha atenção ao rastreamento colorretal em pacientes com colite crônica de longa duração; consulte recomendações sobre rastreamento colorretal para alinhamento de seguimento.

Tratamento inicial e coordenação com especialista

Na linha de atenção primária, medidas iniciais incluem reposição de fluidos, correção de anemia, suplementação nutricional quando necessário e início de terapias anti-inflamatórias conforme orientação especializada. A decisão sobre imunossupressores e agentes biológicos (anti-TNF, vedolizumabe, ustekinumabe) deve ser compartilhada com o gastroenterologista. Em pacientes sob biológicos, o monitoramento de infecções e atualização vacinal são cruciais.

Recomendações práticas para a clínica geral

  • Suspeite de DII em presença de diarreia crônica, sangramento retal, perda de peso e sintomas sistêmicos.
  • Solicite hemograma, PCR, calprotectina fecal e coprocultura quando indicado antes de encaminhar.
  • Encaminhe prontamente em casos de complicações (fístula, abscesso, obstrução) ou quando houver falha terapêutica.
  • Monitore anemia e estado nutricional; investigue causas de anemia com base em ferro sérico e ferritina.
  • Integre educação do paciente, revisão vacinal e adesão terapêutica ao plano de seguimento.

Para formação continuada e apoio na tomada de decisão, materiais de referência e eventos científicos são úteis: o manual da Sociedade Brasileira de Coloproctologia traz orientação prática sobre diagnóstico e tratamento, disponível em seu repositório institucional (Manual de Doença Inflamatória Intestinal), e discussões recentes do V Workshop de DII complementam atualizações clínicas (V Workshop DII – FMUSP). Revisões clínicas com enfoque em diagnóstico diferencial também são relevantes para o clínico geral (revisão prática).

Com suspeita clínica bem documentada, exames iniciais apropriados e encaminhamento criterioso ao gastroenterologista, o médico de família ou clínico geral desempenha papel central na detecção precoce, no manejo inicial e no seguimento de pacientes com DII, contribuindo para melhores desfechos e qualidade de vida.

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