Gestão da polifarmácia em idosos: avaliação e desprescrição
Polifarmácia em idosos é um desafio clínico crescente: como equilibrar benefícios e riscos quando um paciente idoso usa vários fármacos? Dados locais mostram que até 82,2% de idosos octogenários em ambulatório de cardiogeriatria usavam em média seis medicamentos, o que ilustra a magnitude do problema e a necessidade de uma abordagem estruturada.
Por que avaliar medicamentos em idosos agora?
O envelhecimento altera farmacocinética e farmacodinâmica, elevando o risco de interações e efeitos adversos. A avaliação sistemática reduz hospitalizações, quedas e piora funcional. Ferramentas e diretrizes, como os Critérios de Beers, ajudam a identificar fármacos potencialmente inapropriados, mas a decisão final depende do contexto clínico e das metas do paciente.
Avaliação clínica: passos essenciais
1. Levantamento completo e revisão de registros
Reúna lista de todos os medicamentos: prescritos, OTC, fitoterápicos e suplementos. Confirme doses, horários, adesão e finalidade terapêutica. Esta etapa evita duplicidades e identifica fármacos sem indicação atual.
2. Avaliação criteriosa do risco-benefício
- Confirme indicação atual e objetivo terapêutico (curativo, preventivo, sintomático).
- Avalie tempo esperado para benefício vs expectativa de vida e fragilidade.
- Use checklists como os Critérios de Beers e sinalize classes de risco (ex.: benzodiazepínicos, anticolinérgicos, sulfonilureias de longa ação).
3. Identificação de prioridades para desprescrição
Priorize fármacos a interromper com base em: risco de eventos adversos, falta de indicação, duplicidade, e interação com outros medicamentos essenciais. Exemplo prático: benzodiazepínicos de uso crônico por maior risco de quedas e delírio.
Desprescrição segura: um processo passo a passo
Desprescrição segura não é simplesmente parar medicamentos: é um processo planejado, compartilhado e monitorado. Abaixo um algoritmo prático.
- Passo 1 — Planejar: explique motivos e objetivos ao paciente/familiares; obtenha consentimento.
- Passo 2 — Reduzir ou interromper gradualmente: considerar tapering para benzodiazepínicos, opioides e antidepressivos quando indicado.
- Passo 3 — Substituir quando necessário: substituições terapêuticas seguras (ex.: ajustar anti-hipertensivo com menor risco de hipotensão ortostática).
- Passo 4 — Monitorar e ajustar: agendar seguimento, monitorizar sinais de retirada, recidiva da doença ou efeitos adversos.
- Passo 5 — Registrar e comunicar: documentar rationale e plano no prontuário e comunicar equipe e cuidadores.
Sinais de alerta no pós-desprescrição
- Recidiva ou piora dos sintomas originais.
- Sinais de abstinência (ansiedade, insônia, sintomas autonômicos).
- Novas quedas, confusão ou desequilíbrio.
Ferramentas e recursos complementares
Além dos Critérios de Beers, integre avaliações geriátricas completas (função cognitiva, funcional e risco de queda) ao processo. A farmacogenética pode orientar ajustes individuais e reduzir eventos adversos; veja informações práticas sobre farmacogenômica aplicada à polifarmácia em idosos em nosso guia: farmacogenomica-polifarmacia-idosos.
Para protocolos e checklists específicos de desprescrição e segurança de prescrição, consulte também: polifarmacia-idosos-avaliacao-desprescricao-seguranca e materiais sobre adesão e educação para pacientes: adesao-terapeutica-educacao-consulta.
Priorizar intervenções: critérios práticos
Ao priorizar, considere:
- Medicamentos com alto potencial de dano imediato (ex.: anticoagulantes sem indicação, sedativos que aumentam quedas).
- Fármacos sem indicação documentada ou duplicidades terapêuticas.
- Medicamentos preventivos cujo benefício só aparece a longo prazo quando a expectativa de vida ou metas do paciente não justificam manutenção.
Papel da equipe multiprofissional
Uma gestão eficaz exige médico, farmacêutico, enfermeiro, fisioterapeuta e, quando possível, geriatra. O farmacêutico contribui com revisão de interações e plano de descontinuação; o enfermeiro e fisioterapeuta atuam na monitorização funcional e prevenção de quedas — tema que se integra à estratégia global: prevencao-quedas-idosos-avaliacao-intervencoes.
Evidências e leituras recomendadas
Estudos locais demonstram alta prevalência e fatores associados à polifarmácia (hipertensão, diabetes e multimorbidade). Um estudo em Porto Alegre mostrou média de seis medicamentos em idosos octogenários — reforçando a necessidade de revisão periódica da terapêutica. Fonte: artigo sobre estudo em Porto Alegre disponível na BVS.
Leituras úteis e confiáveis no resumo consultado incluem material educacional e revisões sobre polifarmácia e desprescrição. Para orientação prática adicional, verifique as páginas com recomendações clínicas e revisões sistemáticas citadas nas referências.
Links externos de referência usados para embasar recomendações: artigo de sensibilização sobre a importância do geriatra na polifarmácia (hsv.org.br), estudo de prevalência em Porto Alegre (pesquisa.bvsalud.org) e revisão sobre polifarmácia e polimorbidade no contexto brasileiro (revistas.usp.br).
Fechamento: aplicar na prática
Para profissionais de saúde, a gestão de polifarmácia em idosos deve ser rotineira: sistematize revisões periódicas, utilize instrumentos como os Critérios de Beers, planeje a desprescrição segura com o paciente e conte com a equipe multiprofissional para monitorar e prevenir eventos adversos. Pequenas mudanças — interrupções direcionadas, redução de doses e melhor comunicação — podem reduzir quedas, internações e melhorar qualidade de vida.
Quer transformar esta abordagem em rotina na sua prática? Comece pela revisão completa da lista medicamentosa em sua próxima consulta e utilize os recursos e guias internos indicados para apoiar decisões compartilhadas com pacientes e cuidadores.