A alimentação enteral domiciliar é uma terapia nutricional contínua indicada quando a via oral é insuficiente ou insegura. Este guia prático reúne orientações para seleção de indicação, prescrição de fórmula enteral, escolha da via (sonda nasogástrica ou gastrostomia), treinamento do cuidador e monitorização clínica no domicílio.
Alimentação enteral domiciliar: indicações e avaliação
Antes de iniciar a alimentação enteral domiciliar, confirme indicação com avaliação multidisciplinar (médico, nutricionista, enfermagem). Indicações frequentes incluem disfagia grave com risco de aspiração, desnutrição ou impossibilidade de ingestão oral por tempo prolongado. Avalie comorbidades (diabetes, insuficiência renal ou hepática), estado funcional e ambiente domiciliar para garantir segurança da terapia.
Alimentação enteral domiciliar: escolha da via de acesso
A decisão entre sonda nasogástrica e gastrostomia/jeyunostomia depende da duração prevista e do risco de complicações. A sonda nasogástrica é indicada para suporte de curto prazo; a gastrostomia é preferível quando se espera terapia prolongada. Planeje curativos, fixação adequada do tubo e educação sobre cuidados com a estomia quando optar por gastrostomia.
Alimentação enteral domiciliar: formulação e prescrição
A seleção da fórmula enteral deve considerar digestão, absorção e comorbidades. Fórmulas poliméricas são indicadas para pacientes com função digestiva preservada; fórmulas oligoméricas servem para má digestão ou insuficiência pancreática; fórmulas hiperproteicas ou moduladas adaptam-se a necessidades aumentadas de proteína.
- Proteínas: meta usual 1,0–1,5 g/kg/dia (ajustar conforme catabolismo, lesão aguda ou insuficiência renal).
- Carboidratos e lipídios: ajustar carga glicêmica em diabetes e evitar sobrecarga lipídica em disfunção hepática.
- Hidratação e micronutrientes: considerar aporte hídrico da fórmula e suplementar vitaminas/minerais conforme exames.
- Regime de administração: iniciar de forma progressiva (por exemplo, 10–40 ml/h) e ajustar para reduzir náuseas, diarreia e distensão.
Inclua na prescrição: via de acesso, tipo e concentração da fórmula, velocidade inicial e metas calóricas, plano de avanço, metas glicêmicas (se houver diabetes) e orientações sobre interação entre medicamentos e dieta enteral.
Alimentação enteral domiciliar: preparo, armazenamento e segurança
Oriente o cuidador sobre preparo asséptico, armazenamento e descarte da fórmula. Fórmulas abertas devem ser refrigeradas e descartadas conforme fabricante (geralmente 24–48 h). Higienização das mãos, limpeza de superfícies e uso de seringas dedicadas reduzem risco de contaminação. Durante a infusão, mantenha o paciente com cabeceira elevada para diminuir risco de aspiração.
Alimentação enteral domiciliar: treinamento do cuidador
O cuidador precisa dominar técnica de conexão ao equipo (bombas ou alimentação por gravidade), flushing do tubo, reconhecimento de sinais de complicação (tosse persistente, febre, dor abdominal, alteração do nível da consciência) e procedimentos em caso de obstrução da sonda. Materiais educativos claros (listas de verificação, vídeos e fluxogramas) melhoram adesão e segurança. Consulte recursos de educação terapêutica e adesão para estruturar o ensino.
Alimentação enteral domiciliar: monitorização e seguimento
Monitore clinicamente e laboratorialmente para identificar precocemente problemas. Parâmetros essenciais:
- Peso, sinais de edema e avaliação da tolerância gastrointestinal (náusea, vômito, diarreia, constipação).
- Eletrólitos (potássio, magnésio, fósforo), glicemia capilar em pacientes diabéticos, função renal e hepática.
- Balanço hídrico: ajuste conforme perdas gastrointestinais, febre ou insuficiência cardíaca/renal.
- Registro da adesão do cuidador e eventos adversos; use telemonitoramento sempre que disponível para acompanhamento remoto.
Recursos sobre telemedicina na prática clínica podem ser úteis para monitoramento e suporte à equipe e ao cuidador entre consultas presenciais.
Alimentação enteral domiciliar: principais complicações e manejo
As complicações mais comuns incluem:
- Diarreia: rever fórmula enteral, taxas de infusão, interação medicamentosa e investigar causa infecciosa ou malabsorção.
- Aspiração: prevenir com posicionamento adequado, revisar refluxo gastroesofágico e considerar mudança de via se recorrente.
- Obstrução da sonda: flush com água morna conforme protocolo; não utilizar objetos rígidos para desobstruir.
- Alterações hidroeletrolíticas (hiponatremia, hipofosfatemia): ajustar aporte e monitorar laboratorialmente.
- Descompensação glicêmica: ajustar velocidade ou composição da fórmula em pacientes com diabetes e monitorar glicemia capilar.
Alimentação enteral domiciliar: considerações éticas, custos e governança
As decisões por alimentação enteral domiciliar devem envolver consentimento informado, explicação clara de objetivos, riscos e alternativas. Estruture protocolos institucionais que incluam critérios de início, revisão periódica e descontinuação. Planeje logística para acesso a fórmulas, reposição de materiais e suporte ao cuidador para reduzir interrupções do tratamento e hospitalizações evitáveis.
Resumo prático
- Confirme indicação com equipe multiprofissional e escolha a via adequada (sonda nasogástrica vs gastrostomia).
- Prescreva a fórmula enteral conforme digestibilidade, comorbidades e metas nutricionais; ajuste proteínas e carga glicêmica quando necessário.
- Treine o cuidador em preparo, conexão, flushing e reconhecimento de sinais de complicação; utilize materiais de educação terapêutica e adesão.
- Monitore peso, intolerância gastrointestinal, eletrólitos e glicemia; use telemonitoramento para suporte remoto quando possível.
- Previna a aspiração com posicionamento e revisão da via; mantenha protocolos claros para obstrução de sonda e infecções.
Com prescrição individualizada, treinamento adequado do cuidador e acompanhamento clínico sistemático, a alimentação enteral domiciliar pode manter o estado nutricional, reduzir internações e melhorar a qualidade de vida do paciente.