O que é HIFU: indicações, eficácia e segurança no tratamento de tumores

O que é HIFU: indicações, eficácia e segurança no tratamento de tumores

O ultrassom focalizado de alta intensidade (HIFU) é uma técnica não invasiva que concentra energia ultrassônica em um ponto focal, gerando aquecimento rápido e necrose térmica localizada. Desde sua implementação clínica, o HIFU tem se expandido como opção de terapia focal para tumores localizados e para o tratamento de algumas condições benignas, como miomas uterinos, oferecendo preservação de função e recuperação mais rápida em pacientes selecionados. Este texto, direcionado a profissionais de saúde e a leitores leigos com interesse clínico, resume fundamentos, indicações, eficácia, segurança, técnica e acompanhamento clínico, com linguagem acessível e baseada em evidências.

O que é HIFU e como funciona

HIFU (High‑Intensity Focused Ultrasound) concentra ondas ultrassônicas em um ponto preciso do tecido, causando aquecimento local que leva à coagulação e necrose tecidual. O procedimento não exige incisão e, quando bem planejado, preserva estruturas adjacentes. Os componentes essenciais do procedimento incluem: foco preciso da energia, monitoramento térmico em tempo real (por ultrassom ou ressonância magnética) e planejamento do feixe para cobrir o volume-alvo com margens seguras.

As vias de acesso variam conforme o sítio alvo: transrectal (comum no câncer de próstata), transcutâneo/transabdominal (miomas, fígado) ou por outros acessos adaptados à anatomia. Na prática oncológica, o HIFU é usado como ablação térmica focal ou como parte de estratégias multimodais, combinando-se com radioterapia, quimioterapia ou tratamentos sistêmicos quando indicado.

Indicações e seleção de pacientes

A indicação do HIFU depende de características anatômicas, extensão tumoral, função do órgão envolvido e evidência clínica disponível. A seguir, as aplicações com maior suporte na literatura e pontos de seleção clínica.

HIFU para câncer de próstata localizado

  • Opção para pacientes com câncer de próstata localizado que se enquadram em critérios de lesão focada ou em múltiplas lesões passíveis de cobertura pelo feixe de energia.
  • Alternativa em riscos baixo a intermediário que desejam preservação de função urinária e sexual ou em pacientes com comorbidades que aumentam risco cirúrgico.
  • Decisão deve ser tomada em equipe multidisciplinar (urologia, radioterapia, radiologia intervencionista) e com consentimento informado sobre alternativas e necessidade de seguimento.

As evidências em próstata vêm sobretudo de séries e estudos observacionais; diretrizes reconhecem o HIFU como opção de terapia focal em casos selecionados, com necessidade de monitoramento de longo prazo.

HIFU para miomas uterinos e outras lesões benignas

  • Pacientes com miomas sintomáticos que desejam preservar a fertilidade ou evitar cirurgia podem se beneficiar do HIFU guiado por RM ou por ultrassom, conforme disponibilidade e experiência local.
  • Estudos mostram redução de volume e alívio de sintomas (sangramento, dor) em coortes selecionadas, com menor tempo de recuperação comparado à miomectomia em centros experientes.

Lesões hepáticas, renais e pancreáticas

  • Em lesões hepáticas ou renais não ressecáveis ou em doença oligometastática, o HIFU pode oferecer controle local quando a cirurgia é de alto risco.
  • No pâncreas, os dados são menos robustos; a técnica requer planejamento rigoroso para evitar lesões a estruturas críticas adjacentes.

A aplicabilidade nesses órgãos depende de planejamento da dose térmica, distância de estruturas sensíveis e monitoramento por imagem; a indicação deve passar por comissão multidisciplinar.

Outras aplicações

  • Uso complementar em cuidados paliativos para redução de dor por lesões ósseas e como ferramenta experimental em protocolos clínicos.
  • Tratamento de algumas lesões vasculares ou nodulares em que a ablação focal pode melhorar qualidade de vida em pacientes selecionados.

Eficácia, segurança e perfil de risco do HIFU

A avaliação clínica do HIFU baseia-se em três pilares: eficácia local, preservação de função e segurança. Os resultados variam conforme o órgão tratado, a experiência do operador e a qualidade do monitoramento por imagem.

Eficácia local e controle da doença

  • No câncer de próstata, séries clínicas apontam taxas relevantes de controle local e melhora de sintomas relacionados à função urinária e sexual em pacientes selecionados, com necessidade de seguimento para detecção de recorrência.
  • Em miomas uterinos, a redução volumétrica geralmente se associa a melhora de sangramento e dor, refletindo ganho em qualidade de vida.
  • Para fígado e rim, o sucesso da ablação depende da delimitação precisa do alvo e de margens seguras; resultados promissores existem, mas dependem de critérios de elegibilidade rigorosos.

Segurança e eventos adversos

  • Eventos adversos dependem do sítio e do método de orientação (ultrassom vs RM). Complicações comuns incluem desconforto perioperatório, sangramento leve e disfunção transitória de órgãos próximos. Complicações graves (lesão visceral, queimaduras cutâneas, dano nervoso, fístulas) são raras quando há monitoramento adequado.
  • Riscos aumentam com planejamento inadequado, limitações anatômicas ou falta de experiência; por isso, treinamento e protocolos institucionais são fundamentais.

Custos e disponibilidade

  • O HIFU exige equipamentos específicos, softwares de planejamento e equipe treinada. Centros com maior volume costumam apresentar melhores resultados e perfis de segurança.
  • Avaliar custo‑benefício considerando alternativas (cirurgia, radioterapia, ablação por radiofrequência, vigilância ativa) e impacto sobre qualidade de vida.

Técnica, dispositivos e planejamento da ablação

A técnica do HIFU influencia diretamente eficácia e segurança. A seguir, pontos práticos sobre vias de acesso, dispositivos e planejamento do feixe.

Modos de imagem e acesso

  • HIFU guiado por RM (RM‑HIFU): permite monitoramento térmico em tempo real e melhor delimitação de margens, útil em miomas e em áreas pélvicas.
  • HIFU guiado por ultrassom: mais disponível em alguns centros, com feedback em tempo real; rotas incluem transrectal e transcutânea.
  • Ambos os modos exigem integração de sistemas de planejamento e protocolos para evitar superaquecimento de tecidos não alvo.

Planejamento do feixe e dose térmica

  • Delimitar o volume-alvo com margens seguras, considerando proximidade de uretra, nervos pélvicos, trato gastrointestinal e vasos.
  • Entregar energia em pulsos com pausas para resfriamento, ajustando com base no mapa térmico quando disponível.
  • Posicionamento e reposicionamento do transdutor podem ser necessários para cobertura completa, aumentando a duração do procedimento, mas melhorando a confiabilidade da ablação.

Considerações anestésicas e perioperatórias

  • A anestesia varia da sedação consciente à anestesia geral, conforme localização e duração do procedimento; imobilidade e conforto são essenciais.
  • Profilaxia antibiótica quando indicada, monitorização hemodinâmica e avaliação de função renal e hepática fazem parte do protocolo perioperatório; vigilância nas primeiras 24–72 horas é recomendada.

Acompanhamento pós‑procedimento

  • Follow-up clínico com marcadores específicos (por exemplo, PSA em câncer de próstata) e exames de imagem para confirmar extensão da ablação e detectar recidiva precoce.
  • Interpretação de marcadores bioquímicos pode diferir de outras modalidades; o médico deve conhecer essas nuances.
  • Para miomas, exames de ressonância de controle quantificam redução volumétrica e orientam a necessidade de tratamentos adicionais.

Resultados clínicos e recomendações de prática

A adoção do HIFU cresce em indicações selecionadas. Em resumo:

  • HIFU pode oferecer controle local e preservação funcional em câncer de próstata e alívio sintomático em miomas, quando realizado em centros experientes.
  • O papel em fígado, rim e pâncreas é promissor, mas ainda depende de protocolos e de evidência multicêntrica adicional.
  • Segurança é favorável em centros com protocolos e equipe treinada; participação em registros e estudos prospectivos é desejável.

Para apoiar decisões compartilhadas, recomende ao paciente a discussão das alternativas (cirurgia, radioterapia, ablação por radiofrequência, quimioterapia, vigilância ativa) e a apresentação dos benefícios esperados e das incertezas de longo prazo.

Técnicas de suporte, diretrizes e evidências

Práticas institucionais devem incluir:

  • Avaliação criteriosa de contraindicações (coagulopatias, infecções ativas, gravidez, implantes incompatíveis).
  • Escolha apropriada entre RM‑HIFU e US‑HIFU conforme alvo e infraestrutura.
  • Monitoramento de função orgânica e qualidade de vida como indicadores de sucesso.
  • Integração multidisciplinar com oncologia, radiologia intervencionista, urologia, cirurgia e anestesia.

Para leitura complementar e orientação sobre práticas relacionadas à oncologia e imagem guiada, considere revisões e diretrizes, por exemplo em imunoterapia e ultrassom portátil (imunoterapia para câncer – avanços e diretrizes; ultrassom portátil na prática clínica).

Recomendações práticas sobre HIFU

  • Promova avaliação multidisciplinar antes do procedimento para definir o papel do HIFU no plano terapêutico.
  • Selecione a modalidade de imagem (RM‑HIFU vs US‑HIFU) com base no alvo e na experiência disponível.
  • Assegure planejamento rigoroso do alvo e monitoramento térmico contínuo para minimizar risco a estruturas críticas.
  • Estabeleça protocolos de seguimento com parâmetros clínicos, marcadores e imagem para avaliar resposta e detecção precoce de recorrência.
  • Incentive participação em registros institucionais e em estudos prospectivos para consolidar evidência e aprimorar segurança.

Perguntas frequentes para a prática clínica

  • O HIFU é menos invasivo que a cirurgia convencional? Sim, não requer incisão e costuma ter menor tempo de recuperação, embora não seja substituto em todos os cenários.
  • Quais pacientes não são candidatos? Aqueles com contraindicações anatômicas, infecções ativas, coagulopatia não corrigida, implantes incompatíveis ou doença metastática disseminada sem benefício previsível do controle local.
  • É possível combinar HIFU com outras terapias? Sim. Em protocolos multimodais, o HIFU pode complementar radioterapia, quimioterapia ou tratamentos sistêmicos para controle de volume tumoral.

Resumo prático

O HIFU representa uma alternativa não invasiva para ablação de tumores localizados e para tratamento de miomas sintomáticos, com potencial de preservação de função e recuperação mais rápida. Sua eficácia e segurança dependem da seleção adequada de pacientes, do monitoramento por imagem (RM‑HIFU ou ultrassom guiado), do planejamento da dose térmica e da experiência da equipe. Recomenda‑se realizar procedimentos em centros com protocolos institucionais, com acompanhamento multidisciplinar e inclusão em registros clínicos quando possível.

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