Olfato como marcador precoce de doenças neurodegenerativas
Alterações no olfato são frequentemente subvalorizadas no atendimento clínico, mas têm valor diagnóstico crescente como sinal precoce de doenças neurodegenerativas, em especial Alzheimer e Parkinson. Reconhecer hiposmia ou anosmia pode antecipar o diagnóstico por anos e abrir janela para intervenções, rastreamento e acompanhamento multidisciplinar.
Por que o olfato reflete a saúde cerebral
O sistema olfativo conecta-se diretamente ao sistema límbico e ao córtex entorrinal, áreas envolvidas em memória e processamento emocional. Lesões neurodegenerativas iniciais frequentemente acometem essas estruturas, tornando o olfato um candidato natural a biomarcador clínico. Tanto na doença de Parkinson quanto na doença de Alzheimer, estudos neuropatológicos e de imagem mostram comprometimento olfativo precocemente, antes da perda funcional cognitiva detectável.
Hiposmia e anosmia: sinais que antecedem sintomas clássicos
A redução da acuidade olfatória (hiposmia) ou a perda total (anosmia) podem surgir anos antes de tremor, bradicinesia ou declínio de memória. A literatura e revisões clínicas reportam alta prevalência de comprometimento olfativo em estágios iniciais de Parkinson; em Alzheimer, testes olfatórios também se correlacionam com atrofia em regiões temporais mesiais. Para profissionais que atuam na atenção primária, incorporar perguntas dirigidas sobre olfato no anamnese aumenta a sensibilidade do rastreamento inicial.
Como avaliar o olfato na prática clínica
Na prática diária é possível combinar ferramentas simples e escalonadas: anamnese dirigida (história de perda olfatória súbita ou progressiva), testes de identificação olfatória padronizados (por exemplo, Sniffin’ Sticks ou UPSIT quando disponíveis) e testes rápidos cognitivos quando houver suspeita de declínio. Quando há história de perda de olfato pós-infeciosa, considere avaliação específica para sequela pós-COVID e encaminhamento conforme protocolos locais; veja orientações sobre manejo da síndrome pós-COVID em atenção primária aqui.
Em pacientes com alteração olfatória e sinais cognitivos ou comportamentais, o fluxo de investigação deve incluir rastreio cognitivo padronizado e, se indicado, encaminhamento para avaliação neurológica especializada. Diretrizes práticas sobre rastreio do declínio cognitivo na atenção primária podem ser consultadas neste conteúdo do nosso site, que traz testes rápidos e critérios de encaminhamento.
Quando suspeitar de causa neurodegenerativa
Sintomas como perda de olfato progressiva, alterações do sono REM, constipação crônica, diminuição da velocidade de marcha ou queixas cognitivas leves elevam a probabilidade de doença neurodegenerativa. Ferramentas de triagem integradas que considerem múltiplos sinais podem melhorar a detecção precoce e o direcionamento a especialistas.
Implicações terapêuticas e reabilitação olfativa
Além do valor diagnóstico, há interesse crescente em intervenções: treinamento olfativo (estimulação olfativa repetida com conjuntos de odores padronizados) tem evidências de melhorar a função olfatória em causas pós-infecciosas e pode ter efeitos estimulatórios em redes corticais associadas à memória. A incorporação de estratégias não farmacológicas no plano terapêutico, aliada à monitorização do risco cognitivo e cardiovascular, faz parte de uma abordagem integrada. Estudos e revisões científicas sobre a relação entre alteração olfatória e doenças neurodegenerativas estão disponíveis em bases como PubMed (revisão sobre disfunção olfativa em doenças neurológicas).
Para leitura jornalística e divulgação ao público, relatórios sobre frequência de comprometimento olfativo em Parkinson e descrições de alteração do olfato em diferentes condições podem ser encontrados em veículos de referência (Correio Braziliense) e em resumos de estudos agregados (síntese jornalística sobre perda olfativa).
Recomendações práticas para clínicos
- Adote perguntas sobre olfato na anamnese de rotina para adultos maduros e idosos.
- Use testes breves de identificação olfatória quando houver queixa ou sinais sugestivos.
- Integre achados olfatórios com rastreio cognitivo e sinais motores para estratificação de risco; veja ferramentas práticas em nosso guia sobre rastreio do declínio cognitivo aqui.
- Considere causas reversíveis (medicações, rinossinusite crônica, exposição tóxica, sequela pós-COVID) e gerencie conforme protocolo disponível sobre a síndrome pós-COVID neste material.
- Discuta com pacientes o papel do treinamento olfativo como medida segura e de baixo custo, e acompanhe a evolução ao longo do tempo.
Impacto na saúde pública e pesquisa
Incluir avaliação olfatória em programas de vigilância do envelhecimento e em estudos populacionais pode aumentar a detecção precoce de doenças neurodegenerativas e orientar políticas de prevenção. A integração de biomarcadores clínicos com dados de imagem e genéticos é área ativa de pesquisa e pode resultar em algoritmos de risco mais sensíveis no futuro.
O que isso significa na prática clínica
O olfato é um sinal acessível e informativo que deve ser valorizado na avaliação do paciente adulto. Sua detecção precoce, combinada a um protocolo de rastreio cognitivo e a avaliação de causas reversíveis, melhora o encaminhamento e o manejo. Para ampliar seu conhecimento sobre interseções entre olfação, saúde mental e plasticidade cerebral, consulte também nosso conteúdo sobre microbioma e saúde mental aqui, que discute mecanismos inflamatórios e de comunicação cérebro-periferia relevantes para a interpretação clínica.
Para leituras adicionais e diretrizes de apoio ao médico e ao paciente, indicamos revisões científicas e materiais de sociedades especializadas, incluindo bases indexadas e relatórios de organizações de referência.