Retinopatia hipertensiva é o conjunto de alterações na retina decorrentes da hipertensão arterial crônica. Essas alterações refletem dano do leito vascular retiniano e, quando identificadas na atenção primária (APS), funcionam como marcador de risco cardiovascular e renal. O reconhecimento precoce permite intervenções que reduzem risco de AVC, infarto e progressão da doença renal.
Retinopatia hipertensiva: definição e classificação
Classificação e sinais clínicos
A classificação clássica de Keith‑Wagener‑Brooks descreve quatro graus, úteis na triagem clínica:
- Grau I: estreitamento arteriolar leve.
- Grau II: estreitamento mais acentuado e fenômeno de AV nicking (dobra arteriovenosa).
- Grau III: hemorragias retinianas e exsudatos duros; edema macular possível.
- Grau IV: edema de papila (papiledema) e exsudatos circundantes, associado à hipertensão grave.
Além dos sinais locais, a retinopatia hipertensiva frequentemente coexiste com retinopatia diabética e com sinais de doença vascular sistêmica — por isso a avaliação integrada com cardiologia, nefrologia e endocrinologia é importante.
Fisiopatologia e fatores de risco
A hipertensão arterial persistente provoca vasoconstrição reflexa, remodelamento da parede vascular e comprometimento da barreira hemo‑retiniana, levando a microaneurismas, hemorragias e edema. Fatores que aumentam o risco incluem diabetes mellitus, doença renal (nefropatia), dislipidemia, tabagismo, obesidade e idade avançada. A variabilidade da pressão arterial e a hipertensão resistente elevam o risco de lesões mais graves.
Avaliação e triagem na atenção primária (APS)
Passos essenciais
- Medida adequada da pressão arterial: confirmar hipertensão com leituras repetidas e, quando possível, monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) para avaliar variabilidade e suspeita de hipertensão resistente.
- Exame de fundo de olho: realizar fundoscopia direta/indireta ou, quando disponível, fotografia de retina para documentação. A teleoftalmologia com fotografia de fundo pode ampliar a detecção em áreas com pouco acesso à especialidade — veja aplicações práticas na telemedicina (teleoftalmologia).
- Triagem de sinais-chave: procurar estreitamento arteriolar, AV nicking, hemorragias, exsudatos e edema de papila. A presença de edema macular ou perda visual exige avaliação oftalmológica urgente.
- Avaliação de comorbidades: solicitar glicemia/hemoglobina glicada, creatinina e eGFR, microalbuminúria e perfil lipídico, pois o achado ocular costuma refletir severidade vascular sistêmica.
Encaminhamento
Encaminhe ao oftalmologista pacientes com sinais de grau II–IV, edema macular, papiledema ou dúvida diagnóstica. Em casos com sinais de emergência hipertensiva (papiledema agudo, déficit neurológico), encaminhe imediatamente para avaliação hospitalar. Para facilitar triagens em APS, recomenda‑se integração com serviços de teleoftalmologia que usem fundus photography e laudos remotos (retinopatia diabetica telemedicina ia).
Manejo clínico na atenção primária
Controle da pressão arterial e metas
O tratamento primário da retinopatia hipertensiva é o controle rigoroso da pressão arterial. Metas costumam ser individualizadas, mas muitas diretrizes sugerem alvo aproximado de PA < 130/80 mmHg para pacientes de alto risco cardiovascular. Ajustes terapêuticos devem considerar função renal, potássio sérico e comorbidades.
Escolha de fármacos e manejo integrado
Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), bloqueadores de receptor de angiotensina (BRA), bloqueadores de cálcio e diuréticos são opções frequentes. A escolha depende de perfil clínico (diabetes, doença renal, idade) e da tolerância. Controle glicêmico, manejo da dislipidemia e cessação do tabagismo são complementares essenciais para reduzir progressão vascular.
Intervenções oftalmológicas
Na APS não há tratamentos locais para retinopatia hipertensiva além do controle sistêmico. Intervenções oftalmológicas (intraoculares, laser ou cirurgia) são indicadas por especialistas em casos de edema macular, hemorragia significativa ou outras complicações. Use telemedicina para priorizar encaminhamentos e acompanhar imagens seriadas.
Fluxos de encaminhamento e trabalho em rede
- Encaminhar ao oftalmologista pacientes com sinais grave (grau II–IV) ou perda visual.
- Referenciar para nefrologia quando houver elevação da creatinina, redução do eGFR ou microalbuminúria associada.
- Integrar com cardiologia para avaliação de risco global em hipertensão resistente ou histórico de eventos cardiovasculares.
- Implantar critérios claros de prioridade e usar teleoftalmologia para reduzir tempo de espera e otimizar recursos.
Perguntas frequentes e pontos práticos
- A retinopatia hipertensiva é reversível? Nem sempre totalmente, mas o controle precoce e eficaz da pressão arterial pode estabilizar ou melhorar sinais em muitos pacientes.
- Como distinguir de retinopatia diabética? A retinopatia diabética costuma apresentar microaneurismas, hemorragias pontiformes e alterações maculares mais associadas ao controle glicêmico; porém as duas podem coexistir, exigindo avaliação conjunt a.
- Qual o papel da telemedicina? Teleoftalmologia e fotografia de fundo ampliam triagem e priorização de encaminhamentos em áreas de difícil acesso, reduzindo atrasos diagnósticos.
Ações práticas para o consultório da APS
- Implementar protocolo de triagem de retinopatia hipertensiva em consultas de controle da hipertensão.
- Disponibilizar fundoscopia ou parceria para fotografia de retina; considerar teleoftalmologia para laudos remotos.
- Definir critérios de encaminhamento claros: grau II–IV, edema macular, papiledema ou perda visual.
- Monitorar sistematicamente glicemia, função renal e lipídios em pacientes com alterações retinianas.
- Educar o paciente sobre a relação entre hipertensão arterial, saúde ocular e risco cardiovascular — reforçar adesão ao tratamento e estilo de vida.
Checklist rápido
- PA confirmada com método adequado (duas leituras em dias diferentes ou MAPA).
- Fundoscopia ou fotografia de retina disponível.
- Avaliação de diabetes, função renal e lipídios.
- Encaminhamento imediato se grau II–IV, edema de papila ou perda visual.
- Plano terapêutico sistêmico com metas de PA individualizadas.
A retinopatia hipertensiva é um indicador prático do estado vascular global. Na atenção primária, a combinação de medidas de controle da pressão arterial, avaliação sistemática por fundoscopia ou fotografia de retina e encaminhamentos bem definidos permite reduzir complicações e melhorar os desfechos cardiovasculares e renais. Para integrar essa abordagem ao cuidado vascular amplo, considere também os recursos sobre monitoramento da pressão arterial e relação entre doenças orais e risco cardiovascular, como em leituras sobre monitoramento da pressão arterial em idosos e gengivite e doenças cardiovasculares.