O que é o score de cálcio coronário (CAC) e quando indicar o CAC na estratificação do risco cardiovascular na atenção primária
O score de cálcio coronário (CAC) é uma ferramenta de estratificação do risco cardiovascular que quantifica a presença de cálcio nas artérias coronárias por meio de tomografia de baixo contraste. Em termos práticos, o CAC fornece uma medida objetiva da carga aterosclerótica coronariana e pode ajudar a refinar decisões sobre prevenção primária, como indicação de estatinas, metas de LDL-C e intensidade do controle da pressão arterial na atenção primária.
Score de cálcio coronário (CAC): definição e como é medido
O exame conhecido como tomografia de cálcio coronário gera o escore de Agatston, que soma áreas e densidade de calcificações nas artérias coronárias. Faixas de interpretação comumente usadas:
- CAC = 0: baixo risco de eventos coronarianos a curto-médio prazo;
- CAC 1–99: presença de aterosclerose inicial; risco discreto aumentado;
- CAC 100–299 e CAC ≥300: carga aterosclerótica significativa, associada a maior probabilidade de doença arterial coronariana (DAC) e eventos cardiovasculares.
O CAC complementa calculadoras de risco tradicional (estratificação do risco cardiovascular) quando a estimativa é incerta. Embora seja sensível para placas calcificadas, não detecta placas não calcificadas; por isso, sua interpretação deve ser integrada a fatores clínicos, como histórico familiar, tabagismo, hipertensão, diabetes e níveis de LDL-C.
Quando indicar o CAC na atenção primária
Na prática da atenção primária, o CAC é mais útil como ferramenta de refinamento do risco em situações específicas:
- Adultos assintomáticos com risco estimado intermediário (p. ex., 5–20% de risco de eventos em 10 anos) onde a decisão sobre iniciar estatinas é incerta;
- Pessoas de meia-idade com múltiplos fatores de risco (hipertensão, dislipidemia, história familiar) para orientar intensidade terapêutica;
- Pacientes que buscam informação objetiva para melhorar adesão a mudanças de estilo de vida ou medicação.
Em pacientes com diabetes mellitus, o diagnóstico muitas vezes já justifica estratégias preventivas independentes do CAC; por isso, o exame raramente altera decisões fundamentais nesses casos.
Para leituras complementares sobre risco em populações específicas, consulte: risco cardiovascular em diabetes tipo 2 e dieta cardiovascular na meia idade.
Impacto do CAC nas decisões terapêuticas: estatinas, pressão arterial e estilo de vida
O resultado do CAC costuma influenciar decisões de prevenção primária:
- Estatinas: CAC elevado (por exemplo ≥100) aumenta o benefício esperado do uso de estatinas e pode justificar intensificação da terapia para alcançar metas de LDL-C.
- Hipertensão: um CAC alto reforça a necessidade de controle rigoroso da pressão arterial, já que a carga aterosclerótica eleva o risco de eventos.
- Estilo de vida: independentemente do escore, recomendações sobre atividade física, dieta e cessação do tabagismo permanecem centrais; um CAC positivo pode ser usado como ferramenta motivacional em decisões compartilhadas.
O CAC é útil no processo de shared decision making, oferecendo um dado objetivo que ajuda o paciente a entender melhor o risco e os benefícios esperados de intervenções preventivas. Para integrar tecnologias na rotina clínica, veja também: IA na prática clínica: monitoramento da pressão arterial em idosos.
Limitações do CAC e interpretação prática
Antes de solicitar o exame, é importante discutir limitações e riscos:
- O CAC não detecta placas não calcificadas, que podem ser vulneráveis;
- Há exposição à radiação, embora a dose seja baixa; avaliar risco-benefício, especialmente em adultos jovens;
- Custo e disponibilidade podem limitar o uso em alguns serviços de atenção primária;
- Variação interobservador existe; protocolos padronizados e laudos estruturados melhoram a consistência.
Fatores como idade, sexo e comorbidades modificam o valor preditivo do CAC e devem ser considerados na interpretação clínica.
Como incorporar o CAC na prática clínica da atenção primária
Passos práticos para uso criterioso do CAC:
- Avaliar risco inicial com calculadoras validadas;
- Se o risco for intermediário e a decisão terapêutica incerta, considerar tomografia de cálcio coronário;
- Integrar o resultado do Agatston com LDL-C, pressão arterial, diabetes e história familiar para definir conduta sobre estatinas e metas terapêuticas;
- Explicar ao paciente o significado do resultado e planejar acompanhamento e mudanças de estilo de vida;
- Reavaliar periodicidade do exame apenas quando houver mudança clínica relevante ou necessidade de reavaliação do risco.
Para recursos adicionais sobre monitoramento da pressão e estratégias de atenção primária, consulte: monitoramento domiciliar da pressão arterial em idosos.
O que o resultado do CAC significa para o paciente e para o profissional
O CAC é uma ferramenta poderosa de refinamento do risco cardiovascular quando usada de forma criteriosa. Não substitui a avaliação clínica completa, mas pode orientar decisões sobre início e intensidade de estatinas, metas de LDL-C e controle de fatores como hipertensão e tabagismo. A decisão de solicitar o exame deve ser compartilhada, levando em conta idade, comorbidades, disponibilidade do exame e preferências do paciente.
Em resumo, na atenção primária o CAC ajuda a diferenciar pacientes que se beneficiam de intervenção mais agressiva daqueles que podem seguir abordagens conservadoras focadas em estilo de vida — sempre integrando dados clínicos e discutindo riscos e benefícios com o paciente.
Para aprofundar o tema e explorar outras abordagens de prevenção, leia: risco cardiovascular em diabetes tipo 2, dieta cardiovascular na meia idade e IA na prática clínica: monitoramento da pressão arterial em idosos.