O que é síndrome hemofagocítica HLH/MAS: sinais, exames e manejo

O que é síndrome hemofagocítica HLH/MAS: sinais, exames e manejo

A síndrome hemofagocítica (HLH) e sua forma associada a doenças reumatológicas, a síndrome de ativação macrofágica (MAS), são síndromes hiperinflamatórias que podem evoluir rapidamente para falência multiorgânica se não reconhecidas e tratadas precocemente. Este texto, dirigido principalmente a profissionais de saúde, apresenta definição, fisiopatologia, critérios diagnósticos, exames-chave, diagnóstico diferencial e orientações práticas de manejo inicial, com ênfase em encaminhamento a centros especializados quando necessário.

Definição e fisiopatologia da HLH/MAS

HLH é caracterizada por ativação imune desregulada com proliferação e ativação de macrófagos e linfócitos T, resultando em liberação excessiva de citocinas (tempestade de citocinas). MAS refere-se à HLH desencadeada por doenças reumatológicas ou auto-inflamatórias. Mecanismos principais incluem:

  • produção excessiva de interferon-gama (IFN-γ) e outras citocinas pró-inflamatórias;
  • ativação persistente e disfunção de células NK e células T citotóxicas;
  • hemofagocitose por macrófagos em medula óssea e outros tecidos;
  • lesão orgânica por inflamação sistêmica, coagulopatia e disfunção hepática.

É imprescindível diferenciar HLH/MAS de sepse, choque tóxico ou outras síndromes inflamatórias, pois o tratamento imunomodulador específico altera o prognóstico.

Causas e classificação

Classicamente, HLH subdivide-se em:

  • HLH primária (hereditária): mutações em genes de citotoxicidade (ex.: perforina) — mais frequente na infância, mas possível em adultos;
  • HLH secundária: associada a infecções (notadamente EBV), neoplasias hematológicas (linfomas), doenças autoimunes e reações a medicamentos; MAS é uma forma de HLH secundária vinculada a doenças reumatológicas.

Gatilhos comuns: infecções virais (EBV, CMV, influenza), linfomas, doenças autoimunes e fármacos.

Sinais de alerta clínicos em HLH/MAS

O reconhecimento precoce depende da suspeita clínica. Achados frequentes:

  • febre persistente e de difícil controle;
  • hepatomegalia e esplenomegalia;
  • citopenias de linha múltipla (anemia, trombocitopenia, neutropenia);
  • elevação marcante de ferritina (hiperferritinemia) — valores muito elevados sugerem HLH, embora não sejam exclusivos;
  • hipertrigliceridemia e hipofibrinogenemia;
  • elevação de transaminases e disfunção hepática;
  • sinais de coagulopatia com aumento do D-dímero;
  • manifestações neurológicas em fases avançadas (confusão, convulsões).

Exames laboratoriais-chave

O diagnóstico integra achados clínicos e laboratoriais. Exames prioritários:

  • Ferritina sérica: frequentemente muito elevada; valores >500 ng/mL entram nos critérios, e níveis muito altos aumentam a suspeita;
  • Triglicerídeos: hiperlipidemia (>265 mg/dL) frequentemente presente;
  • Fibrinogênio: tipicamente reduzido (<1,5 g/L em muitos casos);
  • Hemograma: citopenias em ≥2 séries celulares;
  • sCD25 (receptor solúvel de IL‑2) e atividade de NK: marcadores de ativação linfocitária e disfunção imune, quando disponíveis;
  • Provas de função hepática e renal, coagulograma e teste de pesquisa viral (EBV por PCR, CMV, HIV, hepatites) para investigação de gatilhos;
  • Biópsia de medula óssea: pode demonstrar hemofagocitose, mas sua ausência não exclui HLH;
  • ferritina, HScore e critérios HLH-2004 são ferramentas complementares para apoio diagnóstico em adultos e crianças.

Critérios diagnósticos (HLH-2004 e HScore)

Os critérios HLH-2004 exigem 5 de 8 achados, enquanto o HScore é uma escala de predição útil em adultos que combina febre, esplenomegalia, citopenias, ferritina, triglicerídeos, enzimas hepáticas e outros parâmetros. Use essas ferramentas em conjunto com a avaliação clínica e busca ativa por gatilhos infecciosos e neoplásicos.

Diagnóstico diferencial

As principais condições a serem distinguidas incluem:

  • sepse grave e choque séptico com falência orgânica;
  • infecções virais invasivas que mimetizam ou desencadeiam HLH (ex.: EBV);
  • malignidades hematológicas, especialmente linfomas T/NK;
  • DRESS e reações medicamentosas sistêmicas;
  • doenças autoinflamatórias com hiperferritinemia.

Encaminhe precocemente para avaliação multidisciplinar (hematologia, infectologia, reumatologia e terapia intensiva) para elucidação diagnóstica.

Manejo inicial e encaminhamento

Diante de suspeita alta de HLH/MAS, a intervenção não deve aguardar confirmação laboratorial completa. Recomendações práticas:

  • encaminhamento imediato a centro com experiência em HLH;
  • investigação rápida do gatilho (PCR para EBV/CMV, estudos de imagem e biópsias quando indicados);
  • suporte intensivo: monitorização hemodinâmica, suporte ventilatório, correção de coagulopatia e reposição de plaquetas conforme necessidade;
  • início precoce de corticosteroides de alta dose (por exemplo, dexametasona) quando a suspeita clínica for alta;
  • considerar IVIG em cenários selecionados, principalmente se houver componente autoimune;
  • decisões sobre etoposídeo, ciclosporina ou terapias alvo (emapalumab — anti‑IFN‑γ, anakinra — anti‑IL‑1, ruxolitinib — inibidor de JAK) devem ser coordenadas por centros especializados e com base no gatilho e na gravidade clínica.

Estratégias terapêuticas específicas

  • regimes baseados em protocolos HLH-94/HLH-2004 (etoposídeo + dexametasona ± ciclosporina) em casos confirmados ou gravemente suspeitos;
  • terapias dirigidas (emapalumab, anakinra, ruxolitinib) para casos refratários ou quando indicadas pelo perfil etiológico;
  • transplante de células‑tronco hematopoéticas considerado em HLH hereditária ou formas refratárias com alto risco de recidiva;
  • tratamento direcionado do gatilho (por exemplo, quimioterapia para linfoma ou antivirais quando indicados).

Quando internar e prioridades no manejo hospitalar

Internação em unidade de alta complexidade é indicada para pacientes com:

  • instabilidade hemodinâmica;
  • falência de órgãos (hepática, renal, respiratória ou neurológica);
  • coagulopatia progressiva ou sangramento ativo;
  • suspeita de neoplasia associada;
  • necessidade de terapias intravenosas intensivas ou monitorização invasiva.

Ações práticas para o médico clínico

  • solicitar urgentemente ferritina, triglicerídeos, fibrinogênio e hemograma completo; quando disponíveis, incluir sCD25 e atividade de NK;
  • realizar investigação infecciosa ampla (EBV/CMV/HIV/hepatites) e busca de gatilho neoplásico com imagem e biópsias conforme suspeita;
  • iniciar corticosteroides de alto porte se a suspeita for alta, reavaliando resposta a cada 24–48 horas;
  • consultar hematologia e reumatologia precocemente e avaliar necessidade de transferência para centro especializado;
  • verificar com farmácia hospitalar a disponibilidade de terapias alvo (emapalumab, anakinra, ruxolitinib) e protocolos locais.

Informação para pacientes e familiares

HLH/MAS é uma condição rara e grave, mas o diagnóstico precoce e o tratamento direcionado aumentam as chances de recuperação. É importante explicar:

  • que o diagnóstico envolve avaliação por vários especialistas e exames complementares;
  • que o tratamento pode incluir medicamentos imunossupressores e terapias alvo que exigem monitorização de efeitos adversos;
  • a necessidade de acompanhamento a longo prazo, orientações sobre vacinação e vigilância para infecções e, quando aplicável, discussões sobre transplante e adesão ao tratamento (veja informações sobre educação terapêutica e adesão).

Para apoio na interpretação de exames de rotina e embasamento clínico, consulte materiais como a página sobre interpretação de exames de rotina no consultório e protocolos institucionais em protocolos clínicos e diretrizes práticas, quando aplicáveis ao contexto local.

Resumo prático e próximos passos em HLH/MAS

HLH/MAS exige alta suspeita, investigação etiológica rápida (incluindo pesquisa de EBV e neoplasia), exames laboratoriais prioritários (ferritina, triglicerídeos, fibrinogênio, hemograma) e início precoce de suporte e imunomodulação (corticosteroides). Em casos moderados a graves, a coordenação entre hematologia, reumatologia, infectologia e terapia intensiva e o encaminhamento a centro de referência são determinantes para o desfecho. Mantenha em mente termos e ferramentas úteis como HScore, HLH-2004, hiperferritinemia, citopenias e opções terapêuticas (etoposídeo, anakinra, emapalumab) ao conduzir a avaliação e o tratamento.

Referências e recursos

  • Critérios HLH-2004 e HScore para avaliação diagnóstica.
  • Protocolos institucionais de manejo de HLH/MAS e diretrizes locais.
  • Artigos recentes sobre terapias alvo (emapalumab, anakinra, ruxolitinib) e regimes com etoposídeo.

Se precisar, posso revisar este texto para uma versão voltada exclusivamente a pacientes (linguagem ainda mais acessível) ou para um público acadêmico (com referências formais e citações completas).

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