O que é termografia infravermelha no pé diabético: detecção precoce

O que é termografia infravermelha no pé diabético: detecção precoce

A termografia infravermelha aplicada ao pé diabético é uma técnica de imagem não invasiva que registra mapas de temperatura da pele para identificar alterações na microcirculação e sinais precoces de inflamação ou perfusão anômala. Em pessoas com diabetes, essas alterações térmicas podem anteceder sinais clínicos de neuropatia, ulceração ou infecção, possibilitando intervenções preventivas. Este texto descreve o princípio da técnica, evidências atuais, limitações, fluxo prático para implantação clínica e orientações objetivas para profissionais e pacientes.

O que é termografia infravermelha e como funciona

A termografia infravermelha detecta a radiação térmica emitida pela pele e a transforma em mapas de temperatura. A partir desses mapas é possível inferir padrões de fluxo sanguíneo, inflamação e alteração hemodinâmica local. A técnica não envolve radiação ionizante nem contraste, o que a torna adequada para monitoramento repetido. Em contexto clínico, hotspots (áreas mais quentes) ou cold spots (áreas mais frias) podem refletir respectivamente processos inflamatórios ou alterações de perfusão.

Importante: a termografia complementa, não substitui, a avaliação clínica. Sua interpretação exige correlação com história clínica, exame físico, testes de sensibilidade (ex.: monofilamento) e avaliação vascular (ex.: palpação de pulsos, doppler quando indicado). Procedimentos padronizados do ambiente e do preparo do paciente são essenciais para reduzir variabilidade nas leituras.

Termografia infravermelha na avaliação do pé diabético

O pé diabético resulta de interação entre neuropatia periférica, vasculopatia e fatores locais que favorecem ulceração. A termografia pode ser útil nos seguintes cenários clínicos:

  • Detecção precoce de inflamação: áreas com temperatura elevada podem indicar inflamação silenciosa antes da formação de ulceração.
  • Rastreamento de áreas de risco: comparação entre pés ou entre mapas seriados permite identificar tendências de aumento de perfusão ou assimetria térmica.
  • Avaliação da resposta terapêutica: em feridas estabelecidas, a queda da temperatura local ao longo do tempo pode sinalizar resposta ao tratamento.

Para integrar a termografia ao manejo, recomenda-se associá-la ao controle glicêmico e às demais intervenções de prevenção de complicações do diabetes, como orientações sobre calçados, cuidados com a pele e monitoramento regular.

Principais aprendizagens sobre termografia e pé diabético

  • Sensibilidade para alterações microvasculares: a técnica pode identificar alterações antes da lesão visível, mas nem todo hotspot equivale a ulceração iminente.
  • Padronização ambiental: temperatura e umidade do ambiente, tempo de aclimatação e preparo da pele influenciam as leituras; protocolos consistentes reduzem erros.
  • Interpretação contextual: comparar com mapas basais, considerar neuropatia periférica e fatores temporários (exercício recente, vasodilatação farmacológica) é imprescindível.

Evidências atuais e limitações da termografia no pé diabético

A literatura indica associação entre padrões térmicos anormais e risco aumentado de ulceração em subgrupos, porém faltam estudos prospectivos de grande porte com dados robustos de sensibilidade e especificidade. A validade externa depende de equipamento, calibração, qualificação do operador e padronização do fluxo. Achados isolados de aquecimento podem refletir fenômenos transitórios (atividade física, calor ambiente) e não necessariamente patologia local.

Limites práticos: a termografia não substitui avaliação neurológica (monofilamento, avaliação de sensibilidade), exames vasculares nem o exame objetivo de feridas. Em pacientes com neuropatia sensitivo-motora, a percepção de dor pode estar reduzida, logo a vigilância objetiva com termografia pode ser particularmente útil, desde que integrada ao conjunto diagnóstico.

Fluxo recomendado para implantação da termografia no cuidado do pé diabético

Segue um fluxo prático adaptável à realidade de cada serviço, com foco em segurança, reprodutibilidade e integração ao prontuário.

Etapa 1: preparação do ambiente e do paciente

  • Sala com temperatura controlada (ideal 21–24°C) e sem correntes de ar.
  • Aclimatação do paciente por 15–20 minutos antes da captura.
  • Remover calçados, meias e quaisquer materiais que interfiram; expor apenas as áreas a serem avaliadas.
  • Registrar fatores que alterem temperatura: uso de vasodilatadores, exposição térmica recente, aplicação de cremes, presença de feridas ou infecção ativa.

Etapa 2: aquisição das imagens

  • Usar equipamento calibrado e seguir distância/ângulos recomendados pelo fabricante.
  • Capturar mapas das duas plantas, incluindo medial, plantar, calcanhar e dedos, com imagens comparativas.
  • Gerar relatórios que permitam identificar hotspots, assimetrias e tendência temporal.

Etapa 3: interpretação clínica

  • Comparar com mapa basal ou visitas anteriores; variações relevantes costumam ser ≥2–3°C entre áreas.
  • Correlacionar com achados clínicos: alterações de sensibilidade (monofilamento), deformidades, edema ou sinais de pele.
  • Em presença de feridas, combinar termografia com avaliação da ferida (tamanho, profundidade, exsudato, sinais de infecção).

Etapa 4: decisão e acompanhamento

  • Hotspots novos ou persistentes justificam intervenção precoce: ajuste de tratamento, proteção da pele e vigilância mais próxima.
  • Estabelecer intervalo de reavaliação (ex.: 4–6 semanas ou conforme necessidade clínica) e registrar imagens no prontuário eletrônico.
  • Integrar recomendações de cuidado com calçados, higiene e educação do paciente no relatório clínico.

Casos clínicos: termografia em pé diabético

Caso 1: paciente com neuropatia sem feridas visíveis

Mulher de 62 anos com diabetes tipo 2 e neuropatia sensitivo-motora, sem ulceração. Termografia revela hotspot plantar medial esquerdo; exame físico não mostra ferida, mas monofilamento indica perda sensorial. A equipe implementa proteção do calcanhar, ajuste de calçado e acompanhamento termográfico em 4 semanas. Objetivo: prevenir ulceração por intervenção precoce.

Caso 2: paciente com ulceração em evolução

Homem de 70 anos com úlcera plantar tratada com curativos e desbridamento. Termografia documenta diminuição gradual da temperatura na área lesionada, com aquecimento residual adjacente. Com melhora termográfica e clínica, opta-se por reduzir frequência de curativos e manter vigilância mensal termográfica para confirmar estabilidade.

Integração da termografia com outras ferramentas diagnósticas

A termografia rende o melhor resultado quando utilizada integrada a exames de sensibilidade (monofilamento), avaliação vascular (doppler quando indicado), registro fotográfico de feridas e acompanhamento do controle glicêmico. A documentação longitudinal no prontuário eletrônico facilita detecção de tendências e tomada de decisão clínica.

Orientações práticas para pacientes e cuidadores sobre pé diabético

  • Inspecionar os pés diariamente em busca de mudanças de temperatura, vermelhidão, bolhas ou feridas.
  • Usar calçados adequados sem pontos de pressão e evitar andar descalço.
  • Manter higiene e hidratação da pele, evitando excesso de creme entre os dedos.
  • Manter o controle glicêmico conforme metas definidas pela equipe de saúde e relatar qualquer alteração ao profissional responsável.

Qualidade, ética e implementação da termografia

Organizações que implementam termografia devem atentar para consentimento informado, privacidade e armazenamento seguro das imagens. Protocolos de calibração, treinamento de operadores e auditorias de qualidade são essenciais para garantir reprodutibilidade e reduzir interpretações equivocadas. Registre sempre data, hora, condições ambientais e identificador do operador.

Implicações práticas da termografia infravermelha no pé diabético

A termografia infravermelha fornece informação adicional sobre a microcirculação do pé em pessoas com diabetes e pode antecipar alterações que levem à ulceração. Seu uso é recomendado como complemento à avaliação clínica, com protocolos padronizados, treinamento e integração ao manejo global do diabetes. Em serviços bem organizados, a técnica pode acelerar intervenções preventivas, aprimorar o monitoramento de feridas e contribuir para reduzir complicações graves. Equipes interessadas devem iniciar por avaliação de viabilidade, seleção de equipamento validado e estabelecimento de rotinas de registro e auditoria.

Para informações complementares sobre manejo do diabetes e metas terapêuticas, consulte materiais sobre manejo do diabetes tipo 2 e controle glicêmico integrados ao cuidado do pé diabético.

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