Triagem e intervenção do consumo de álcool na consulta

Triagem e intervenção do consumo de álcool na consulta

Introdução

Você pergunta sobre álcool na primeira consulta? A avaliação do consumo é uma oportunidade clínica de alto impacto: identificar uso de risco evita complicações e direciona encaminhamento adequado. Neste texto prático, voltado a profissionais de saúde, explico como aplicar uma triagem de álcool, oferecer intervenção breve e quando referenciar para serviços como CAPS AD.

Triagem na atenção primária à saúde

Na atenção primária à saúde, priorize rastrear todos os adultos. Use um algoritmo em duas etapas: 1) pergunta de triagem breve (ex.: “Quantas vezes nos últimos 12 meses você consumiu 6 ou mais doses em uma mesma ocasião?”) e 2) se positivo, aplique o AUDIT completo ou o AUDIT-C. O AUDIT é um instrumento validado para detectar padrões de consumo de risco, uso prejudicial e dependência; é rápido, estruturado e orienta o manejo inicial.

Indique o instrumento na ficha clínica e registre o escore. Pontuações mais altas aumentam a probabilidade de transtorno por uso de álcool e orientam a necessidade de avaliação mais aprofundada ou encaminhamento.

Referências e materiais práticos sobre diagnóstico e ferramentas de triagem podem ser consultados no Informalcool, que reúne orientações de uso do AUDIT e recomendações para profissionais.

Intervenções breves: quando e como aplicar

O que são e por que funcionam

As intervenções breves são conversas estruturadas de curta duração (5–30 minutos) realizadas em consultas ambulatoriais. Baseiam-se em princípios de aconselhamento motivacional (feedback, responsabilidade, aconselhamento e apoio à autoeficácia) e têm eficácia comprovada para reduzir consumo em pessoas com uso de risco.

Técnicas práticas na consulta

  • Ofereça feedback sobre o escore do AUDIT e riscos associados.
  • Use perguntas abertas e escuta empática para explorar ambivalência.
  • Defina metas concretas (reduzir número de dias de consumo, limites por ocasião).
  • Forneça materiais educativos e plano de acompanhamento (revisita em 1–3 meses).

Integre a intervenção breve com estratégias de adesão ao cuidado. Recursos sobre educação e adesão em consulta ajudam a estruturar o seguimento: material prático sobre adesão.

Critérios para encaminhamento e integração com serviços especializados

Encaminhe quando identificar:

  • Escore elevado no AUDIT (indicando provável dependência ou uso prejudicial).
  • Sinais de síndrome de abstinência moderada a grave ou risco de complicações médicas/psiquiátricas.
  • Falha de intervenções breves repetidas e persistência de consumo com prejuízo social, ocupacional ou legal.
  • Comorbidades graves (ex.: hepatopatia avançada, risco de suicídio, psicose concomitante).

O encaminhamento para serviços como CAPS AD e equipes especializadas deve ser articulado com a rede local. As diretrizes do Ministério da Saúde descrevem fluxos e critérios de referência entre atenção primária e serviços especializados: consulte as Linhas de Cuidado para orientação prática.

Para organizar o fluxo entre níveis de atenção e alta segura, implemente protocolos locais e canais de comunicação com atendimento especializado, conforme práticas de coordenação entre atenção primária e hospitalar: guia de coordenação.

Fluxo rápido para a consulta (passo a passo)

  • Perguntar sobre consumo em todas as consultas de rotina.
  • Se sinal positivo, aplique AUDIT (ou AUDIT-C) e registre escore.
  • Se AUDIT indicar risco leve a moderado: ofereça intervenção breve e plano de seguimento.
  • Se AUDIT indicar risco alto, presença de abstinência, comorbidades ou recidiva após intervenções: encaminhe para CAPS AD ou serviço especializado.
  • Documente recomendações, acordos de metas e retorno agendado.

Materiais de apoio sobre planejamento terapêutico e intervenções na atenção básica, inclusive orientações operacionais, podem ser úteis na implementação local; há compilados e manuais com recomendações práticas: manual e planejamento terapêutico.

Aspectos de segurança e registro

Avalie risco imediato (intoxicação, abstinência grave, ideação suicida). Em casos de abstinência severa ou risco médico, encaminhe para atenção hospitalar. Registre sempre o escore do AUDIT, as recomendações oferecidas e o plano de seguimento. Integrar a abordagem de consumo de álcool com a avaliação de saúde mental favorece resultados melhores — modelos integrados na atenção primária demonstram maior efetividade: integração saúde mental APS.

Fechamento e orientações práticas

Em resumo, a gestão eficaz do consumo de álcool na consulta passa por três pilares: triagem de álcool regular (AUDIT/AUDIT-C), aplicação de intervenção breve quando indicada e encaminhamento coordenado para CAPS AD quando necessário. Implementar fluxos locais, treinar equipes de atenção primária e documentar acordos com o paciente aumenta a chance de redução do consumo e de prevenção de danos. Para aprofundar, consulte materiais de referência do Informalcool e as Linhas de Cuidado do Ministério da Saúde citadas acima.

Checklist rápido para a próxima consulta: perguntar sobre álcool, aplicar AUDIT se houver história positiva, oferecer intervenção breve com meta concreta, agendar retorno e, quando apropriado, encaminhar e comunicar com o serviço especializado.

* Alguns de nossos conteúdos podem ter sido escritos ou revisados por IA. Fotos por Pexels ou Unsplash.