Abordagem prática da dor crônica na clínica

Abordagem prática da dor crônica na clínica

Introdução

Como avaliar e manejar pacientes com dor que persiste por meses? A dor crônica (>3–6 meses) é frequente na prática clínica e exige avaliação detalhada, tratamento multimodal e educação do paciente para reduzir impacto funcional e melhorar qualidade de vida. Este texto reúne princípios práticos e referências oficiais para guiar a tomada de decisão clínica.

Avaliação: estabelecendo a base para o plano terapêutico

História clínica e exame

Investigue intensidade, localização, tempo de evolução, padrões (constante vs intermitente), fatores agravantes/ameliorantes, limites funcionais e efeitos sobre sono, humor e trabalho. Busque sinais de dor neuropática (queimação, formigamento, alodínia) e sinais de alerta para causa secundária.

Ferramentas e avaliação multidimensional

Use escalas validadas (EVA, escala verbal), questionários de qualidade de vida e instrumentos específicos (DN4 para dor neuropática). A avaliação deve ser multidimensional, incluindo aspectos físicos, psicológicos e sociais — isto orienta o tratamento multimodal e os objetivos realistas com o paciente.

Exames complementares e quando encaminhar

Exames laboratoriais e de imagem são direcionados por suspeita clínica; não solicite exames de rotina sem hipótese diagnóstica. Encaminhe para especialidades quando houver sinais neurológicos progressivos, suspeita de doença sistêmica ou necessidade de procedimentos intervencionistas/neuromodulação.

Tratamento multimodal: combinar estratégias para melhores resultados

Princípios gerais

O manejo eficaz da dor crônica é individualizado e normalmente combina intervenções farmacológicas, terapias físicas, cuidados psicológicos e, quando indicado, intervenções procedimentais ou neuromodulação. A integração em equipe multidisciplinar aumenta eficácia e segurança.

Opções farmacológicas

Adote uma abordagem por objetivos (alívio da dor, melhora funcional, sono, humor). Estratégias comuns:

  • Analgesia não opióide: paracetamol e AINEs conforme indicações e risco gastrointestinal/cardiovascular.
  • Opioides: considerar apenas em casos selecionados, com avaliação de risco, metas funcionais claras, monitorização e plano de desmame; evite prescrição indiscriminada.
  • Neuromoduladores: antidepressivos (duloxetina, amitriptilina) e anticonvulsivantes (gabapentina, pregabalina) são úteis em dor neuropática ou dor generalizada com sensibilização central.
  • Prescrição segura: documente metas, efeitos adversos e realize revisão periódica da medicação; consulte protocolos locais e diretrizes.

Para orientações nacionais, consulte o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Dor Crônica.

Terapias físicas e reabilitação

Programas de exercícios supervisionados, terapia manual, treino de resistência e exercícios aeróbicos são fundamentais para restaurar função. Modalidades como fisioterapia aquática e programas graduados de atividade ajudam na adesão. Veja abordagens práticas específicas em manejo da dor crônica inespecífica e reabilitação.

Intervenções psicológicas

Terapias cognitivo-comportamentais (TCC) e terapias de aceitação e compromisso reduzem o impacto emocional e promovem estratégias de enfrentamento. A colaboração com psicologia clínica facilita a definição de metas funcionais e melhora adesão.

Procedimentos intervencionistas e neuromodulação

Em casos refratários, considere bloqueios diagnósticos/terapêuticos, radiofrequência ou neuromodulação (estimulação da medula espinhal). Indicações e resultados variam: a seleção criteriosa do paciente é determinante. Para opções menos invasivas e caminhos na atenção primária, confira neuromodulação não invasiva e, para dor musculoesquelética, consulte abordagem da dor crônica musculoesquelética.

Educação do paciente e autocontrole

Objetivos da educação

Educar sobre natureza da dor crônica, expectativas realistas, importância da atividade progressiva e adesão ao plano terapêutico. Use linguagem clara, materiais escritos e recursos digitais. Programas educativos estruturados podem reduzir ansiedade e uso excessivo de serviços.

Ferramentas e recursos

Indique materiais confiáveis, como o Projeto Educa Dor, que fornece conteúdo acessível para pacientes e profissionais. Integre educação em todas as consultas: defina metas semanais de atividade, estratégias de sono e planos de autocontrole.

Implementação clínica prática

Organização do seguimento

  • Agende revisões regulares para reavaliar dor, função e efeitos adversos.
  • Registre objetivos funcionais mensuráveis (ex.: caminhar X minutos, retornar ao trabalho X horas).
  • Use instrumentos objetivos para monitorizar resposta ao tratamento.

Trabalho em equipe e encaminhamentos

Favoreça um modelo multidisciplinar (clínico, fisioterapeuta, psicólogo, especialista em dor, serviços de reabilitação). Encaminhe precocemente quando houver necessidade de procedimentos, avaliação cirúrgica ou gestão complexa de opioides.

Personalização e inovação

Considere abordagens em desenvolvimento, como farmacogenômica para personalizar tratamentos analgésicos e neuromodulação, quando disponível. Para discussões sobre personalização, veja farmacogenômica no manejo da dor crônica.

Fechamento e orientações práticas

Na prática clínica, priorize uma avaliação completa e multidimensional da dor, implemente um tratamento multimodal alinhado a metas funcionais e invista em educação estruturada do paciente. Apoie decisões em diretrizes nacionais e recursos educativos confiáveis — por exemplo, o documento do Ministério da Saúde e materiais do Projeto Educa Dor. Integre a equipe multidisciplinar e estabeleça plano de seguimento com metas claras, monitorização de efeitos adversos e revisão periódica da terapia. Para protocolos de reabilitação e manejo em atenção primária, explore os conteúdos relacionados no blog clínico: reabilitação da dor inespecífica, dor musculoesquelética e neuromodulação não invasiva.

Leve para a prática: documente objetivos funcionais, combine intervenções (físicas, farmacológicas e psicológicas), eduque sempre e revise a cada consulta. Consulte o Protocolo Clínico do Ministério da Saúde para alinhamento com políticas locais.

* Alguns de nossos conteúdos podem ter sido escritos ou revisados por IA. Fotos por Pexels ou Unsplash.