Anemia ferropriva no adulto: diagnóstico, avaliação e manejo
A anemia por deficiência de ferro é a causa mais comum de anemia em adultos e exige abordagem clínica cuidadosa para identificar a etiologia, repor os estoques de ferro e prevenir recidivas. Este texto, direcionado a profissionais de saúde e leigos informados, resume de forma prática os pontos essenciais do diagnóstico, da investigação inicial e das opções terapêuticas, com orientações aplicáveis na atenção primária e ambulatorial.
Fisiopatologia e sinais clínicos
A deficiência de ferro reduz a síntese de hemoglobina, levando a hemácias microcíticas e hipocrômicas, com manifestações que variam de fadiga e intolerância ao esforço até sintomas de comprometimento cognitivo. A ferritina sérica reflete os estoques de ferro e a hemoglobina é usada para caracterizar a gravidade da anemia. Para revisão dos mecanismos básicos, consulte um resumo conceitual em fontes de referência confiáveis (por exemplo, Wikipedia).
Investigação laboratorial inicial
Hemoglobina e índices hematimétricos
O hemograma identifica anemia microcítica (VGM reduzido) e hipocromia. A análise de hemoglobina orienta a urgência terapêutica e o seguimento.
Ferritina sérica, TIBC e transferrina
A ferritina sérica é o marcador mais útil dos estoques de ferro; valores baixos confirmam deficiência. A capacidade total de ligação do ferro (TIBC) costuma estar aumentada e a transferrina elevada, indicando maior demanda de transporte de ferro. Interpretações devem considerar inflamação crônica, que pode elevar a ferritina (fase aguda).
Outros exames complementares
Em dúvidas diagnósticas, a pesquisa de reticulócitos, ferro sérico e saturação de transferrina ajuda no esclarecimento. Em contexto de inflamação ou doença crônica, considerar marcadores inflamatórios e investigação adicional conforme quadro clínico.
Avaliação clínica: procurar a causa da perda de ferro
Identificar a fonte de perda é essencial. Na anamnese, investigar menstruação abundante, história de sangramentos gastrointestinais, uso crônico de anti-inflamatórios, cirurgia bariátrica ou sintomas de má-absorção.
O exame físico deve procurar sinais de sangramento oculto (palidez, melena percebida, lesões anais) e sinais de causas sistêmicas. Em adultos até 50–55 anos sem causa aparente, investigar sangramento gastrointestinal é rotina; em indivíduos com fatores de risco ou >50 anos, endoscopia digestiva alta e colonoscopia são frequentemente indicadas para excluir úlceras, neoplasias e lesões que provoquem perda crônica (veja material de suporte sobre rastreamento colorretal para investigação de sangramentos).
Fontes adicionais de orientação sobre investigação em atenção primária podem ser consultadas em artigos relacionados do nosso acervo, por exemplo sobre rastreamento e manejo do câncer colorretal e sobre deficiência de vitamina B12, para diferenciação entre etiologias de anemia.
Manejo clínico: reposição de ferro e tratamento etiológico
Suplementação oral de ferro
A reposição oral é a primeira linha para a maioria dos casos: regimes com 100–200 mg de ferro elementar por dia (dividido) costumam ser eficazes. Estratégias para melhorar a tolerância incluem administração em dias alternos e ingestão com vitamina C para aumentar a absorção. Informações práticas sobre posologia e adesão constam nas recomendações clínicas e na literatura de referência (ver resumo).
Suplementação parenteral
Está indicada quando há má-absorção, intolerância clínica a preparações orais, perda sanguínea ativa ou necessidade de reposição rápida (ex.: anemia sintomática antes de cirurgia). Protocolos de ferro endovenoso devem seguir critérios locais e monitorização de reações adversas.
Tratar a causa da perda
A reposição sem investigação da origem da deficiência pode levar a recidivas. Tratamentos dirigidos incluem controle de menorragia, tratamento de úlceras pépticas, ressecção ou manejo de lesões colônicas detectadas por colonoscopia e ajustes em medicamentos que predisponham a sangramentos.
Seguimento: como monitorar a resposta
Reavaliar hemoglobina após 4 a 6 semanas para confirmar resposta hematológica. A normalização costuma ocorrer em 2–3 meses; manter reposição por mais 3–6 meses após normalização da hemoglobina para reconstituir estoques (monitorar ferritina sérica). Em casos de resposta inadequada, reavaliar aderência, interação medicamentosa e investigação para perda oculta.
Diferenças diagnósticas e investigações complementares
Nem toda anemia microcítica é ferropriva: é importante distinguir de talassemia minor, anemias por doença crônica e outras causas. Consultar material sobre anemias macrocíticas e realizar testes específicos conforme suspeita clínica evitam erros diagnósticos.
Orientações práticas para pacientes
- Informar sobre possíveis efeitos gastrointestinais do ferro oral e estratégias para reduzi-los (tomar com alimento, fracionar a dose ou alternar dias).
- Estimular dieta rica em ferro heme (carnes magras) e aumentar a ingestão de vitamina C para otimizar absorção.
- Esclarecer a importância do seguimento laboratorial e do tratamento da causa subjacente para evitar recorrências.
Ferritina e acompanhamento final
A avaliação da ferritina sérica deve guiar o término da reposição e o seguimento a médio prazo. Pacientes com risco contínuo de perda sanguínea ou má absorção exigem monitorização periódica e estratégias preventivas. Para revisão de conceitos e estatísticas, fontes de referência geral podem ser consultadas (por exemplo, Wikipedia).
Se desejar aprofundar protocolos de investigação e fluxos diagnósticos em atenção primária, revisite nossos materiais sobre investigação de causas gastrointestinais e triagem para sangramentos colorretais no contexto ambulatorial.
Referências e leituras complementares
Além das diretrizes locais e das revisões sistemáticas, indicamos complementar com leituras práticas do próprio blog: artigos sobre rastreamento colorretal, deficiência de vitamina B12 e anemias macrocíticas ajudam no raciocínio diferencial. Para contextualização geral e dados epidemiológicos, ver: Wikipedia.
Observação: este texto apresenta orientações gerais. A conduta individual deve considerar comorbidades, resposta ao tratamento e protocolos locais. Em casos de anemia grave, instabilidade hemodinâmica ou suspeita de neoplasia, encaminhar com prioridade para investigação especializada.