Avaliação inicial da demência na prática clínica
A demência é um síndrome caracterizada por declínio cognitivo progressivo que compromete atividades da vida diária e qualidade de vida. A avaliação inicial bem conduzida permite identificar causas potencialmente reversíveis, diferenciar entre doença de Alzheimer e outras etiologias e planejar intervenções farmacológicas e não farmacológicas adequadas. Este texto apresenta um roteiro prático, baseado em evidências, para profissionais de saúde na atenção primária e especializada.
Avaliação clínica: história e exame físico
A anamnese deve priorizar início e evolução do comprometimento cognitivo, sintomas comportamentais, alterações funcionais e fatores precipitantes como infecções, uso de medicamentos ou distúrbios metabólicos. Investigue comorbidades (AVC, hipertensão, diabetes), história familiar de doença neurodegenerativa e impacto sobre o cuidador.
Avaliação neurológica e sinais sistêmicos
O exame físico deve incluir avaliação neurológica focal, sinais de parkinsonismo, marcha, e busca por sinais de causas secundárias (hipotiroidismo, déficits sensoriais ou cardiovasculares). Identificar fragilidade, desnutrição e risco de quedas é essencial para o planejamento do cuidado.
Avaliação cognitiva: MEEM, MoCA e testes complementares
Utilize instrumentos validados para quantificar o comprometimento cognitivo. O Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e o Montreal Cognitive Assessment (MoCA) são amplamente usados; escolha conforme sensibilidade desejada e nível educacional do paciente. A avaliação neuropsicológica detalhada é indicada quando há discordância entre queixas e resultados dos testes ou para caracterizar domínios específicos (linguagem, funções executivas, memória).
Para suporte diagnóstico e estadiamento, solicite exames complementares laboratoriais (hemograma, TSH, vitamina B12, glicemia, eletrólitos) e de imagem cerebral (TC ou RM) para excluir causas tratáveis e investigar atrofia ou lesões vasculares. Esses exames ajudam no diagnóstico diferencial entre doença de Alzheimer, demência vascular, demência por corpos de Lewy e outras.
Diagnóstico diferencial e investigação etiológica
Considere causas reversíveis e comórbidas: depressão, delirium, deficiência nutricional, infecções crônicas e polifarmácia. A avaliação de biomarcadores (quando disponível) e neuroimagem funcional pode ser distribuída conforme acesso e indicação clínica. Para atualização em recomendações de diagnóstico e critérios em Alzheimer, consulte guias nacionais e revisões clínicas, por exemplo as diretrizes brasileiras e artigos de revisão.
Recursos úteis: orientação prática sobre avaliação e conduta em serviços de atenção à pessoa com demência disponível no portal nacional de linhas de cuidado, bem como revisões sobre diagnóstico de Alzheimer e artigos de avaliação inicial publicados em periódicos indexados.
Manejo inicial: intervenções não farmacológicas e farmacológicas
Priorize intervenções não farmacológicas: programas de estimulação cognitiva, exercício físico regular, manejo de sono e otimização do ambiente. A reabilitação cognitiva digital pode ser um recurso complementar para manutenção de funções e suporte ao cuidador.
Quando indicado, a terapêutica farmacológica inclui inibidores da colinesterase para demência leve a moderada e memantina em estágios moderado a grave, considerando riscos, benefícios e comorbidades. A decisão terapêutica deve ser compartilhada com paciente e cuidador, com monitorização de efeitos adversos.
Suporte ao cuidador e planejamento de cuidado
Educação do cuidador, instruções sobre manejo de sintomas comportamentais e encaminhamento a serviços sociais são pilares do manejo. Avalie necessidade de suporte domiciliar, orientações sobre segurança e planejamento antecipado de decisões (diretivas antecipadas) quando aplicável.
Encaminhamentos e continuidade do cuidado
Indique avaliação neuropsicológica e consultas com neurologia, geriatria ou psiquiatria conforme complexidade diagnóstica. Considere reabilitação ocupacional, fisioterapia e apoio multidisciplinar para tratar limitação funcional e risco de quedas.
Para aprofundar estratégias de reabilitação e tecnologias disponíveis, veja recomendações sobre reabilitação cognitiva digital e deteção precoce de doenças neurodegenerativas com suporte de inteligência artificial.
O que fazer após a avaliação inicial: resumo prático
- Documente início, evolução e impacto funcional; avalie existência de causas reversíveis.
- Realize testes cognitivos validados (MEEM ou MoCA) e exames laboratoriais básicos; solicite neuroimagem quando indicado.
- Implemente intervenções não farmacológicas desde o diagnóstico e discuta terapia medicamentosa quando apropriado.
- Ofereça orientação estruturada ao cuidador e organize seguimento multidisciplinar.
Recursos e leituras adicionais estão integrados ao longo do texto para suporte clínico. Consulte as orientações do Ministério da Saúde sobre avaliação e conduta em demência para rotinas de atenção, bem como revisões científicas recentes sobre diagnóstico de Alzheimer e avaliação inicial em periódicos de acesso aberto.
Referências e links úteis
Guias e revisões citadas no texto, para leitura complementar:
- Avaliação e conduta — Portal Linhas de Cuidado (Ministério da Saúde)
- Doença de Alzheimer: novas diretrizes para o diagnóstico — RMMG
- Avaliação inicial da demência — DOAJ (artigo de acesso aberto)
Leituras internas recomendadas para aprofundamento clínico e reabilitação:
- reabilitação cognitiva digital — estratégias práticas e diretrizes
- detecção precoce de doenças neurodegenerativas — ferramentas diagnósticas e IA
- biomarcadores do envelhecimento — implicações clínicas na prática
Manter atualização contínua em diagnóstico diferencial, novas terapias e apoio ao cuidador é essencial para melhorar prognóstico e qualidade de vida das pessoas com demência.