Avaliação inicial de distúrbios do sono na atenção básica

Avaliação inicial de distúrbios do sono na atenção básica

Introdução

Distúrbios do sono em adultos são frequentes e subdiagnosticados na atenção primária. Você reconhece pacientes com sonolência diurna, ronco alto ou queixas persistentes de cansaço sem causa aparente? Identificar insônia, Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) e Síndrome das Pernas Inquietas na consulta básica permite intervenções precoces que reduzem risco cardiovascular, metabólico e comprometimento funcional.

Avaliação inicial na atenção básica

Anamnese prática e ferramentas

Comece com perguntas diretas sobre sono e impacto diário. Utilize a Escala de Sonolência de Epworth para quantificar a sonolência diurna e registre horários, duração do sono e padrões de despertar.

  • Principais perguntas: dificuldade para iniciar/manter o sono? Ronco, pausas respiratórias observadas? Movimento ou desconforto nas pernas à noite?
  • Fatores predisponentes: estresse/ansiedade, uso de álcool, benzodiazepínicos, medicamentos dopaminérgicos, obesidade, comorbidades cardiometabólicas.
  • Ferramentas rápidas: Epworth, questionários direcionados para insônia e triagem de AOS (ex.: perguntas sobre ronco/pausas respiratórias).
  • Material de apoio prático: ver guia clínico do blog sobre gestão de distúrbios do sono para orientar a consulta: distúrbios do sono na APS.

Exame físico e sinais que orientam manejo

  • Medir IMC, circunferência cervical e pressão arterial.
  • Pesquisar alterações respiratórias (estrabismo das vias aéreas superiores), sinais neurológicos ou movimentos periódicos dos membros.
  • Sinais de alerta para encaminhar com urgência: sonolência extrema diurna com episódios de sonolência ao volante, quedas, sintomas neurológicos progressivos ou perda de peso involuntária associada a apneia.

Principais diagnósticos e manejo inicial

Insônia

A insônia marcada por dificuldade para iniciar ou manter o sono exige abordagem comportamental inicial. Recomende higiene do sono e intervenções estruturadas:

  • Priorizar terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I) como primeira linha; ofereça orientação e recursos locais para encaminhamento.
  • Medidas práticas: rotina de horários, ambiente escuro/silencioso, evitar telas 1–2 horas antes de deitar, limitar cafeína e álcool.
  • Evitar prescrição crônica de benzodiazepínicos; considere estratégias de desprescrição e avaliação de risco/benefício (guia de desprescrição).
  • Se medicação for necessária, documente objetivo e plano de revisão em curto prazo.

Apneia Obstrutiva do Sono (AOS)

Sintomas sugestivos: ronco alto, relatos de pausas respiratórias, sonolência diurna e dificuldade de concentração. Na atenção básica:

  • Triagem clínica: sinais de risco (obesidade, pescoço grosso, hipertensão resistente).
  • Solicitar avaliação diagnóstica quando indicada; considere polissonografia ou teste domiciliar conforme disponibilidade — veja orientações práticas sobre polissonografia domiciliar: polissonografia domiciliar.
  • Manejo inicial: medidas de estilo de vida (controle de peso, cessação do tabagismo), posicionamento, e avaliação para CPAP quando AOS moderada/grave for confirmada. CPAP reduz mortalidade e morbidade cardiovascular em casos selecionados.

Síndrome das Pernas Inquietas (SPI)

Queixa típica: necessidade imperiosa de mover as pernas com sensações desconfortáveis, pior à noite. Abordagem:

  • Investigar causas secundárias: deficiência de ferro (ferro sérico/ferritina), insuficiência renal, neuropatia.
  • Orientações comportamentais e estratégias de relaxamento antes do sono; considerar ferro oral se ferritina baixa.
  • Quando indicar tratamento farmacológico (agonistas dopaminérgicos, gabapentinoides), avaliar riscos e planejar seguimento e ajuste.

Intervenções práticas e prevenção

A prevenção e o manejo inicial dependem de educação e mudanças simples de comportamento que você pode orientar na consulta:

  • Educar sobre higiene do sono — horário regular, ambiente adequado, evitar cochilos longos diurnos. Consulte o Manual da Associação Brasileira do Sono para material educativo.
  • Incentivar controle de peso e atividade física para reduzir risco de AOS e melhorar qualidade do sono. Revisite metas em consultas de seguimento.
  • Rever medicamentos que prejudicam sono (ex.: alguns antidepressivos, beta-bloqueadores, sedativos) e equilibrar benefícios/efeitos adversos.
  • Para insônia persistente, priorizar encaminhamento para TCC-I ou serviços especializados; materiais práticos sobre sono saudável podem apoiar a adesão: sono saudável: dicas práticas.

Encaminhamento e seguimento

Defina critérios claros para encaminhar ao especialista em medicina do sono ou neurologia/pneumologia:

  • Suspeita de AOS moderada/grave, sonolência incapacitante, falha de terapias iniciais ou necessidade de titulação de CPAP.
  • Sintomas complexos de SPI refratária, movimentos periódicos dos membros com perda de sono significativa ou suspeita de doença neurológica subjacente.
  • Reavalie resposta a intervenções em 4–12 semanas; documente Epworth e objetivos funcionais (trabalho, direção de veículos, segurança).

Leituras e diretrizes úteis

Para fundamentar decisões clínicas, as seguintes referências ajudam a alinhar prática e evidências: as diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia sobre AOS, o Manual da Associação Brasileira do Sono e as diretrizes da Associação Brasileira de Psiquiatria para insônia. No nosso blog, consulte também o conteúdo de gestão local: gestão de distúrbios do sono na APS.

Fecho prático: na atenção básica, um roteiro claro — anamnese dirigida, uso da Escala de Epworth, intervenções comportamentais e critérios de encaminhamento — permite impactar positivamente a qualidade do sono e reduzir riscos associados. Integre educação em higiene do sono às consultas rotineiras e documente metas e resposta terapêutica para otimizar o acompanhamento.

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