O que é terapia CAR-T: indicações, CRS, neurotoxicidade e seguimento

O que é terapia CAR-T: indicações, CRS, neurotoxicidade e seguimento

Este artigo destina-se principalmente a profissionais de saúde envolvidos na seleção, encaminhamento, monitorização e manejo de pacientes submetidos à terapia CAR-T, mas também explica de forma acessível o que os pacientes e familiares podem esperar. A abordagem é multidisciplinar, envolvendo hematologia, oncologia, imunologia, farmácia clínica, enfermagem e medicina diagnóstica.

terapia CAR-T: definição e princípios

A terapia CAR-T (chimeric antigen receptor T‑cell therapy) é uma imunoterapia celular autóloga em que as células T do próprio paciente são coletadas por leucaférese, geneticamente modificadas em laboratório para expressar um receptor quimérico (CAR) que reconhece antígenos tumorais (por exemplo, CD19 ou BCMA), expandidas e reinfundidas após linfodepleção. O objetivo é aumentar a capacidade das células T de reconhecer e eliminar células malignas de forma direcionada.

indicações clínicas e critérios de inclusão

As indicações aprovadas variam por país e por produto, mas, em termos gerais, CAR-T é indicada para doenças hematológicas recidivantes ou refratárias — como linfoma não-Hodgkin agressivo e leucemia linfoblástica aguda — e, mais recentemente, para mieloma múltiplo refratário com alvos como BCMA. A seleção do paciente considera:

  • História de doença refratária ou relapsada com alternativas terapêuticas limitadas;
  • Estado clínico compatível com quimioterapia de condicionamento e período de monitorização intensiva;
  • Avaliação multidisciplinar de comorbidades, função orgânica e risco de complicações como CRS e ICANS.

processo de encaminhamento e avaliação pré-CAR-T

O fluxo habitual inclui triagem de elegibilidade, avaliação laboratorial e de imagem, testes infecciosos, planejamento da leucaférese, encaminhamento ao centro de terapia celular e definição do esquema de linfodepleção (frequentemente fludarabina + ciclofosfamida). A coordenação entre oncologia/hematologia, farmacologia clínica, enfermagem especializada e medicina transfusional é essencial. Para organização do cuidado e monitorização remota, integrar ferramentas como telemedicina pode ser útil (telemedicina prática clínica).

CRS (síndrome de liberação de citocinas): reconhecimento e manejo

A síndrome de liberação de citocinas (CRS) resulta da ativação massiva das células CAR-T e da liberação de mediadores inflamatórios. Geralmente inicia entre 0 e 14 dias pós-infusão, com febre, calafrios, hipotensão, taquicardia, hipoxemia e, em casos graves, disfunção orgânica. O manejo inclui suporte hemodinâmico e respiratório, estratificação por gravidade e uso de terapias dirigidas, sobretudo tocilizumabe (anti‑IL‑6) e, quando indicado, corticosteroides. Em alguns protocolos, considerar siltuximabe ou outras estratégias em casos refratários.

ICANS (neurotoxicidade associada a CAR-T): diagnóstico e tratamento

A neurotoxicidade (ICANS) varia de confusão e afasia até convulsões e edema cerebral. O monitoramento neurológico diário nas primeiras duas semanas é obrigatório; escalas padronizadas (por exemplo, ASTCT) ajudam a graduar a gravidade. O tratamento inclui suporte, monitorização neurointensiva quando necessário e corticosteroides em graus moderados a graves. Intervenções precoces reduzem o risco de sequelas neurológicas permanentes.

recomendações práticas para manejo de CRS e ICANS

  • Implementar protocolos locais com critérios claros para administração de tocilizumabe e corticosteroides;
  • Utilizar escalas padronizadas de avaliação neurológica e hemodinâmica durante os primeiros 7–14 dias;
  • Garantir acesso rápido a suporte intensivo e a exames complementares (neuroimagem, gasometria arterial, marcadores inflamatórios).

seguimento pós-tratamento: resposta, imunidade e toxicidades tardias

O seguimento é intensivo no primeiro mês, com consultas semanais ou conforme protocolo institucional, e posteriormente ajustado segundo resposta e risco de recaída. Pontos-chave:

  • Avaliar resposta tumoral por imagem e exames laboratoriais, incluindo pesquisa de doença residual mínima quando aplicável;
  • Monitorar imunidade: a aplasia de células B é frequente quando o alvo é CD19, elevando risco de infecções; implementar profilaxias antimicrobianas e considerar reposição de imunoglobulina quando indicado;
  • Planejar vacinação conforme orientações locais, respeitando o período de recuperação imunológica;
  • Acompanhar eventos adversos tardios e reativações infecciosas, com vigilância de função hepática, renal e cardiológica.

Para integração do acompanhamento remoto e modelos de cuidado prolongado, consulte recomendações sobre telemedicina prática clínica e coordenação com cardio-oncologia quando houver risco cardiológico.

seleção, logística e organização do tratamento

A logística inclui disponibilidade de centro credenciado, tempo de processamento do produto (impactado por terapias alogênicas em desenvolvimento), recursos para leucaférese e plano de cuidados pós-infusão. Recomenda-se estabelecer fluxos locais para triagem, educação do paciente e da família sobre sinais de alarme, além de comunicação ativa entre equipes de oncologia, farmácia clínica, infectologia e suporte social.

perspectivas, evidências e inovação

A pesquisa avança em CAR-T de próxima geração (multialvo, com mecanismos para reduzir toxicidade), produtos alogênicos “off‑the‑shelf” para reduzir tempo até o tratamento e estudos em tumores sólidos e doenças autoimunes. Acompanhar diretrizes de sociedades de hematologia/oncologia e registros de farmacovigilância é essencial para atualização prática.

seguimento e recomendações finais para a prática clínica

Na prática diária, recomenda-se:

  • Criar protocolos locais claros para triagem, encaminhamento e manejo de CRS/ICANS, incluindo critérios de uso de tocilizumabe e corticosteroides;
  • Garantir infraestrutura para monitorização intensiva nas primeiras semanas pós-infusão e plano de acompanhamento de longo prazo para vigilância de recaída e toxicidades tardias;
  • Educar pacientes e cuidadores sobre sinais de alerta e estratégias de prevenção de infecções, incluindo vacinas e profilaxias;
  • Fomentar trabalho multidisciplinar e participação em redes de prática clínica para atualização de protocolos e melhoria contínua da qualidade assistencial.

síntese prática

  • CAR-T é uma opção terapêutica transformadora para doenças hematológicas refratárias, com potencial de resposta profunda, mas exige seleção cuidadosa e infraestrutura adequada;
  • CRS e ICANS são as principais complicações; protocolos rápidos de reconhecimento e manejo (incluindo tocilizumabe e corticosteroides) reduzem riscos;
  • O seguimento envolve vigilância intensiva precoce e monitorização prolongada de imunidade, infecções e toxicidades tardias.

Para leitura complementar e integração com outras áreas do cuidado, veja conteúdos sobre cardio-oncologia, telemedicina prática clínica e monitoramento da pressão arterial em domicílio.

Se desejar, posso adaptar este texto para um público leigo (pacientes) com linguagem ainda mais simples e exemplos práticos, mantendo a precisão médica.

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