Detecção precoce de alterações oculares na atenção primária
A identificação precoce de alterações oculares na atenção primária é essencial para prevenir perda visual evitável, especialmente em pacientes com diabetes tipo 2. Médicos de família, enfermeiros e profissionais da atenção básica têm papel central na triagem ocular, educação em saúde e encaminhamento oportuno para oftalmologia. Este texto sintetiza recomendações práticas para rastreio de retinopatia diabética, uso de retinografia e integração com teleoftalmologia.
Retinopatia diabética: por que rastrear na atenção primária
A retinopatia diabética é uma das principais causas de cegueira evitável em adultos. Estimativas brasileiras apontam que entre 35% e 40% das pessoas com diabetes desenvolvem algum grau de retinopatia ao longo da vida; dados epidemiológicos e protocolos nacionais reforçam a necessidade de rastreio sistemático (Sociedade Brasileira de Diabetes).
Diretrizes práticas para triagem
- Oferecer avaliação oftalmológica inicial a todos os pacientes no diagnóstico do diabetes e programar seguimento anual quando não houver retinopatia.
- Intensificar frequência de exames em pacientes com retinopatia leve a moderada, controle glicêmico instável ou hipertensão associada.
- Utilizar retinografia como método de triagem em unidades básicas, com leitura por especialista ou via telemedicina quando disponível (diretrizes SBD 2024).
Profissionais que desejam orientações sobre encaminhamento e avaliação oftalmológica podem consultar o material sobre avaliação oftalmológica e encaminhamento para padronizar a conduta na unidade.
Retinografia e triagem ocular
A retinografia digital permite registrar imagens do fundo de olho com boa sensibilidade para detectar microaneurismas, hemorragias e exsudatos. Em atenção primária, a retinografia facilita a documentação e o monitoramento sem exigir sempre a presença do oftalmologista. Publicações nacionais mostram que médicos generalistas, após treinamento, conseguem identificar alterações referíveis com acurácia adequada (estudo brasileiro).
Fluxo recomendado
- Triage inicial na consulta de rotina: avaliar acuidade visual, história de diabetes e sintomas visuais.
- Realizar retinografia ou encaminhar para exame com pupilas dilatadas conforme disponibilidade.
- Se imagem sugestiva de retinopatia moderada/grave, encaminhar com prioridade para oftalmologia para avaliação de tratamento (fotocoagulação, anti-VEGF, etc.).
Para unidades com infraestrutura limitada, integrar a triagem ocular ao serviço de manejo do diabetes tipo 2 na atenção primária melhora a adesão ao rastreio.
Teleoftalmologia: ampliar o acesso
A teleoftalmologia (fotografia retiniana com leitura remota) tem se mostrado eficaz para ampliar cobertura de rastreio, reduzir tempo de espera e aumentar detecção precoce em áreas remotas. Sistemas de leitura remota e inteligência artificial começam a complementar a avaliação clínica, mas sempre com supervisão especializada.
Como incorporar na prática
- Estabeleça protocolos locais para captura de imagens e critérios de redirecionamento.
- Capacite equipe para realizar retinografia de campo amplo ou campo reduzido conforme equipamento disponível.
- Use plataformas seguras e siga normas de proteção de dados ao enviar imagens para leitura remota.
Aspectos práticos da telemedicina aplicada à atenção básica estão detalhados em conteúdos sobre telemedicina na prática clínica, que podem servir como guia para implantação local.
Detecção de outras alterações oculares na atenção primária
Além da retinopatia diabética, a triagem pode identificar catarata, sinais de glaucoma (alterações no disco óptico), degeneração macular relacionada à idade e alterações inflamatórias. Um fluxo organizado de triagem, documentação por imagem e encaminhamento reduz o risco de perda visual evitável e melhora a coordenação do cuidado.
Síntese e recomendações práticas
Para otimizar a detecção precoce de alterações oculares na atenção primária: implemente retinografia quando possível; padronize fluxo de triagem e encaminhamento; eduque pacientes sobre sintomas visuais e importância do controle glicêmico; e utilize teleoftalmologia para ampliar cobertura. Protocolos nacionais e estudos brasileiros apoiam essas medidas e reforçam a necessidade de integração entre atenção primária e oftalmologia (SBD, publicação científica).
Se desejar materiais práticos para treinamento da equipe ou checklists de triagem, consulte os recursos do nosso site sobre avaliação oftalmológica, integração com programas de telemedicina e protocolos de cuidado no manejo do diabetes tipo 2.
Referências externas selecionadas: Sociedade Brasileira de Diabetes (diretrizes de retinopatia), artigo disponível no SciELO sobre triagem na atenção primária e manifesto técnico sobre rastreio oferecido por associações de diabetes (diabetes.org.br, diretriz.diabetes.org.br, scielo.br).