Diagnóstico prático de dermatites comuns no consultório

Diagnóstico prático de dermatites comuns no consultório

Introdução

Quais sinais orientam você a diferenciar dermatite atópica de uma dermatite de contato ou de uma dermatite seborreica no atendimento primário? Lesões eczematosas são frequentes, e uma abordagem rápida e estruturada no consultório reduz erros diagnósticos, melhora adesão e evita encaminhamentos desnecessários. Este texto, voltado a profissionais de saúde, reúne critérios práticos de diagnóstico diferencial e condutas baseadas em diretrizes nacionais e literatura selecionada.

1. Abordagem clínica inicial: anamnese e exame dirigidos

Comece por sistematizar a anamnese e o exame físico para economizar tempo e aumentar a acurácia diagnóstica.

  • Anamnese essencial: início (idade), evolução (crônico/recorrente), prurido, localização das lesões, contato com produtos/ocupação, história familiar de atopia, tratamentos prévios e resposta.
  • Exame físico: morfologia (vesículas, pápulas, placas eritematosas, escama), distribuição (flexuras, face, couro cabeludo, áreas em contato) e sinais de sobreinfecção (pústulas, crostas, exsudato).
  • Sinais orientadores:
    • Prurido intenso e história familiar → favorece dermatite atópica.
    • Distribuição em áreas de contato, inicio após exposição a substância → suspeita de dermatite de contato (irritativa ou alérgica).
    • Escama oleosa em couro cabeludo, face, pápulas eritematosas com descamação → sugere dermatite seborreica.
    • Localização em região de fralda, com áreas de pele eritematosa brilhante e/ou lesões satélites → considerar dermatite de fralda e candidíase.

2. Diagnóstico diferencial prático — padrões e exames complementares

Dermatite atópica

Diagnóstico clínico: prurido, eczemas recorrentes, distribuição por idade (face e extensores em lactentes; flexuras em crianças maiores e adultos) e história pessoal/familiar de atopia. Exames complementares raramente necessários; considere avaliação de IgE específica em casos selecionados ou se houver suspeita de comorbidade alérgica.

Dermatite de contato

Distinga dermatite irritativa (resposta direta a substância cáustica, mais comum em trabalhadores) da alérgica (reação de hipersensibilidade). Se houver suspeita de alergia de contato persistente ou ocupacional, encaminhe para testes epicutâneos (patch test). Evitar o agente é a medida-chave.

Dermatite seborreica

Quadro caracterizado por placas eritematosas com escama oleosa em regiões ricas em glândulas sebáceas. Em dúvida com psoríase do couro cabeludo ou dermatite seborreica grave, avalie resposta terapêutica a antifúngicos tópicos; considerar KOH para excluir tinea capitis quando houver descolamento focal e queda de cabelo.

Dermatite de fralda

Diagnóstico clínico: eritema localizado nas áreas cobertas por fralda; lesões satélites sugerem sobreposição por Candida. Se houver suspeita de infecção fúngica, trate com antifúngicos tópicos; em quadros atípicos ou resistentes, reavaliar e considerar cultura.

3. Condutas terapêuticas e orientações práticas

As intervenções abaixo são pragmáticas para o consultório de atenção primária.

Cuidados gerais comuns

  • Prescreva emolientes rotineiramente: aplicação diária para restauração da barreira cutânea; instruir técnica (pós-banho, quantidade generosa).
  • Higiene: usar syndet suave, evitar sabonetes alcalinos, produtos sem fragrância e evitar banhos muito quentes.
  • Educação: explicar gatilhos, quando procurar atenção (febre, supuração, rápida expansão das lesões).

Dermatite atópica — terapêutica escalonada

  • Primeira linha: emolientes + educação. Para inflamação: corticoide tópico adaptado à área e potência (menor potência para face e dobras, maior para tronco/extremidades), regime de curta duração e reavaliação precoce.
  • Alternativas/esteroide-sparing: inibidores de calcineurina tópicos para áreas sensíveis ou uso intermitente como manutenção.
  • Casos graves/refratários: considerar encaminhamento/terapias sistêmicas (imunomoduladores ou biologias) conforme protocolo e experiência local.

Dermatite de contato

  • Identificar e eliminar o agente (higiene de contato, proteção, substituição de produto).
  • Tratamento agudo: corticoide tópico apropriado à severidade e área; em casos extensos, curto ciclo de corticoide sistêmico pode ser necessário, com cautela e indicação clara.
  • Investigação: indique patch test quando etiologia não óbvia ou em casos ocupacionais prolongados.

Dermatite seborreica

  • Tratamento inicial com shampoos antifúngicos (cetoconazol 2% ou sulfeto de selênio) e corticóide tópico de baixa potência em crises; em face, prefira alternativas não esteroidais quando possível.
  • Manutenção com antifúngico tópico intermitente e controle de fatores exacerbantes (clima, estresse).

Dermatite de fralda

  • Medidas de suporte: trocas frequentes, secagem ao ar, barreiras com óxido de zinco ou petrolato.
  • Se houver imagens satélite ou má resposta: tratar candidíase com antifúngicos tópicos (ex.: nistatina ou azólicos) e reavaliar.

4. Manejo no consultório: triagem, quando tratar e quando encaminhar

No primeiro atendimento, proceda com:

  • Classificar urgência (sinais de infeção, sofrimento importante, envolvimento extensivo).
  • Iniciar medidas empíricas seguras (emolientes, corticoterapia tópica adequada) e agendar retorno em curto prazo.
  • Encaminhar ao dermatologista quando: diagnóstico incerto após medidas iniciais, necessidade de testes (patch test), suspeita de indicação de terapias sistêmicas ou biologias, ou quando houver comprometimento funcional/qualidade de vida significativo.

A teledermatologia pode ser usada como suporte para triagem e decisões de encaminhamento quando disponível.

Recursos e referências práticas

Para protocolos e orientações nacionais, o Guia do Ministério da Saúde sobre dermatoses pediátricas oferece recomendações aplicáveis, especialmente para dermatite de fralda e infantil. A abordagem do Médico de Família à dermatite atópica está bem descrita em revisão disponível na RBMFC, útil para estruturas de atenção primária: abordagem da dermatite atópica na infância. Estudos sobre hipóteses diagnósticas e condutas na atenção primária também reforçam práticas pragmáticas e podem orientar protocolos locais (estudo de diagnóstico e condutas em UBS).

Veja também materiais práticos no blog para apoiar a rotina de consultório: doenças dermatológicas: diagnóstico rápido e manejo básico, dermatites de contato: guia clínico e cuidados com a pele e feridas no consultório. Para aspectos de saúde íntima relacionados, há orientação específica sobre dermatite de contato vulvar em: dermatite de contato vulvar.

Fecho com aplicações práticas

No consultório, adote um algoritmo simples: identificar padrão clínico (história + distribuição), iniciar medidas de barreira e anti-inflamatórias tópicas seguras, monitorar resposta em curto prazo e encaminhar para testes (patch test) ou dermatologia quando houver falha terapêutica, necessidade de terapia sistêmica ou dúvida diagnóstica. Educação do paciente e revisão de gatilhos são intervenções de alto impacto. Aplicando essas rotinas, você otimiza resultados clínicos e evita tratamentos inadequados.

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