Doença de Fabry: diagnóstico e manejo para profissionais de saúde
A Doença de Fabry é uma enfermidade genética ligada ao cromossomo X, decorrente da deficiência da enzima alfa-galactosidase A (α-Gal A) que provoca acúmulo lisossomal de globotriaosilceramida (Gb3) em múltiplos órgãos. O reconhecimento precoce — por história clínica, exame físico e testes laboratoriais — é determinante para retardar a progressão renal, cardíaca e neurológica e para otimizar a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes.
Diagnóstico da Doença de Fabry
alfa-galactosidase A e investigação genética (GLA)
Em homens com suspeita clínica, a dosagem da atividade de alfa-galactosidase A em plasma ou leucócitos costuma confirmar o diagnóstico. Em mulheres, devido à inativação do X, a atividade enzimática pode ser normal; por isso, a análise molecular do gene GLA é essencial para confirmação. A anamnese deve priorizar história familiar, dor neuropática em extremidades, episódios de intolerância ao calor, sudorese diminuída e angioqueratomas.
Exames complementares: rim e coração
Solicite avaliação da função renal (clearance estimado, proteinúria/albuminúria) e imagens cardíacas. Ecocardiograma e ressonância magnética cardíaca identificam hipertrofia ventricular e fibrose miocárdica, achados que orientam prognóstico e terapêutica. Para acompanhamento da função cardíaca, considere protocolos semelhantes aos descritos em diretrizes de insuficiência cardíaca e telemonitorização.
Sinais clínicos que levantam suspeita
Sintomas sugestivos incluem dor neuropática em queimação, crises dolorosas em mãos e pés, angioqueratomas, alterações corneanas em lâmpada de fenda, intolerância ao exercício e insuficiência renal progressiva. Pacientes com acometimento multissistêmico sem diagnóstico estabelecido devem ser avaliados para Doença de Fabry, especialmente quando há história familiar positiva.
Tratamento da Doença de Fabry
terapia de reposição enzimática (TRE)
A Terapia de Reposição Enzimática (TRE) com agalsidase alfa ou agalsidase beta é a base do tratamento e objetiva reduzir o depósito de Gb3, atenuar sintomas e retardar dano orgânico. A indicação deve considerar estágio clínico, carga de doença e comorbidades. Monitoramento de resposta inclui acompanhamento renal, cardíaco e avaliação de qualidade de vida.
migalastat e chaperonas farmacológicas
Para portadores de certas mutações farmacologicamente sensíveis, migalastat representa uma opção oral que estabiliza formas mutantes de α-Gal A, restaurando parcialmente a atividade enzimática. A elegibilidade genética é imprescindível antes da prescrição; consulte evidências regulatórias como o relatório da EMA sobre Galafold para critérios e segurança.
Manejo sintomático e acompanhamento multidisciplinar
Controle rigoroso de pressão arterial e proteinúria reduz o risco de progressão renal; inibidores do sistema renina-angiotensina são frequentemente indicados. O manejo da dor neuropática segue protocolos de dor neuropática periférica; encaminhamentos para nefrologia, cardiologia e genética são recomendados. Em pacientes com insuficiência renal terminal, o transplante renal pode ser considerado, com planejamento multidisciplinar e atenção à imunização.
Rastreamento familiar e aconselhamento genético
Dada a herança ligada ao X, o rastreamento de familiares de primeiro grau é obrigatório. O aconselhamento genético deve abordar risco de transmissão, implicações para gestação e opções terapêuticas precoces. Programas de triagem em centros de referência facilitam diagnóstico precoce e inclusão em terapias específicas.
Implicações cardíacas e monitorização
O acometimento cardíaco é causa importante de morbimortalidade; além de ecocardiograma e ressonância magnética, o seguimento deve seguir diretrizes de insuficiência e disfunção ventricular. Integração com estratégias de monitorização remota e biomarcadores pode melhorar detecção precoce de deterioração, conforme abordagens descritas em protocolos de insuficiência cardíaca e telemonitorização.
Diretrizes e seguimento clínico
As recomendações nacionais, incluindo avaliações da CONITEC, e consensos de sociedades especializadas devem orientar critérios para início de TRE, indicação de migalastat e metas de acompanhamento. Recursos internacionais, como a página da Orphanet e relatórios de sociedades científicas europeias e publicações revisadas (ex.: revisão sistemática disponível no PubMed), oferecem complementação de evidências e atualizações terapêuticas.
Para implementação clínica segura, priorize: confirmação diagnóstica molecular quando indicada, avaliação basal renal e cardíaca antes do início terapêutico, cadastro em centros de referência e registro longitudinal para avaliar eficácia e segurança.
Orientações práticas rápidas
- Suspeitar de Fabry em jovens com dor neuropática, angioqueratomas ou insuficiência renal/hipertrofia ventricular inexplicada.
- Confirmar com dosagem de α-Gal A em homens e teste genético do gene GLA em mulheres ou casos ambíguos.
- Discutir TRE e, quando aplicável, a opção por migalastat com avaliação da mutação.
- Controlar pressão arterial, avaliar proteinúria e acompanhar função renal periodicamente.
- Encaminhar para aconselhamento genético e acompanhamento multidisciplinar em centro de referência.
Referências e recursos úteis
Fontes nacionais e internacionais para atualização: CONITEC (portal oficial), Orphanet (resumo clínico e epidemiológico) e relatórios e revisões em bases indexadas (PubMed). Para critérios de aprovação e informações farmacológicas sobre migalastat, consulte também o relatório da EMA.
Além dos recursos externos, recomenda-se leitura complementar de artigos e guias clínicos disponíveis no portal do Bruzzi para integração com manejo renal, cardíaco e triagem genética.
Encaminhamento final
Doença de Fabry exige alto índice de suspeição, confirmação diagnóstica precisa e manejo individualizado. Profissionais de saúde devem integrar avaliação genética, terapias específicas (TRE ou migalastat quando indicado) e cuidado multidisciplinar para reduzir complicações renais e cardíacas. Consulte diretrizes nacionais e centros de referência para decisões terapêuticas e registre pacientes em seguimento longitudinal para otimizar resultados.
Links internos sugeridos: transplante renal e opções, aconselhamento genético na prática clínica e avaliação e telemonitorização cardíaca para apoio ao manejo multidisciplinar.
Referências externas: CONITEC (https://www.gov.br/conitec/pt-br), Orphanet (https://www.orpha.net/) e relatório da EMA sobre migalastat (Galafold) (https://www.ema.europa.eu/).