Insuficiência cardíaca na atenção primária: rastreio com NT‑proBNP, telemonitorização e critérios de encaminhamento

Insuficiência cardíaca na atenção primária

A insuficiência cardíaca (IC) é prevalente entre idosos e pacientes com doenças cardiovasculares, renais e metabólicas. Na atenção primária (AP) o objetivo é detectar precocemente, estratificar risco e encaminhar de forma oportuna para reduzir hospitalizações e mortalidade. Este texto revisa o papel do NT‑proBNP no rastreio, a aplicação da telemonitorização e os critérios práticos de encaminhamento para cardiologia, com foco em implementação clínica e educação do paciente.

NT‑proBNP na triagem e interpretação clínica

O NT‑proBNP é um marcador sensível de stress de parede cardíaca. Na AP, sua principal utilidade é ajudar a discriminar causas cardíacas de dispneia e priorizar solicitações de ecocardiografia e consulta cardiológica.

  • Cortes orientativos: valores <125 pg/mL (adultos até 75 anos) geralmente reduzem a probabilidade de IC; em ≥75 anos, limiares mais elevados (aprox. 450 pg/mL) são usados. Ajuste conforme diretrizes locais, função renal e obesidade.
  • Interpretação integrada: avalie NT‑proBNP em conjunto com história, exame físico, ECG e radiografia de tórax. Em doença renal crônica há elevação de base do peptídeo, exigindo interpretação contextual.
  • Limitações: elevações podem ocorrer em hipertireoidismo, doença pulmonar, sepse e envelhecimento. Valores muito baixos tornam IC improvável, mas não a excluem em quadros clínicos complexos.

Para leitura complementar sobre biomarcadores e suporte por inteligência artificial, consulte o material sobre inteligência artificial na prática clínica.

Telemonitorização: parâmetros e organização do fluxo

A telemonitorização possibilita coleta remota de sinais (peso, pressão arterial, frequência cardíaca, saturação e sintomas) e envio seguro ao prontuário, permitindo detecção precoce de descompensação e ajuste terapêutico antes da hospitalização.

  • Parâmetros-chave: variação de peso de >2–3 kg em 1–3 dias, aumento de pressão venosa jugular percebida, piora progressiva da dispneia, edema periférico e alterações na frequência cardíaca.
  • Fluxo operacional: definir responsáveis (médico de AP, enfermagem), níveis de alerta e ações padronizadas (contato telefônico, ajuste de diurético, encaminhamento urgente). Garantir consentimento e segurança de dados.
  • Integração técnica: prefira plataformas que se integrem ao prontuário eletrônico e gerem alertas acionáveis; alinhe política de telemedicina com regulamentação local.

Diretrizes práticas para implementação encontram-se no artigo sobre telemedicina na prática clínica.

Critérios práticos de encaminhamento para cardiologia

O encaminhamento deve priorizar sinais de gravidade, necessidade diagnóstica (ecocardiografia) e ajuste terapêutico especializado. Exemplo de critérios:

  • Instabilidade hemodinâmica (hipotensão, taquicardia mal tolerada) ou IC aguda: encaminhar para urgência/emergência.
  • Dispneia persistente ou edema refratário após ajuste ambulatorial de diurético: consulta cardiológica para investigação adicional.
  • NT‑proBNP elevado sem diagnóstico estabelecido ou necessidade de ecocardiografia para diferenciar HFpEF (fração de ejeção preservada) de HFrEF (fração de ejeção reduzida): solicitar ecocardiografia e encaminhar eletivamente.
  • Sinais de etiologia estrutural (sopro novo, suspeita de valvopatia, isquemia) ou arritmia sustentada no ECG: encaminhar para avaliação especializada.

Considere comorbidades (doença renal, hipertensão, doença arterial coronariana) ao planejar terapêutica e priorização do encaminhamento.

Planejamento diagnóstico e manejo inicial na atenção primária

A abordagem na AP deve ser sistemática: história detalhada, exame físico, exames básicos (hemograma, ureia/creatinina, eletrólitos), ECG, raio‑X de tórax e dosagem de NT‑proBNP quando indicado.

  • Ecocardiografia: essencial para classificar HFrEF vs HFpEF, avaliar função diastólica e alterações valvares.
  • Tratamento inicial: diuréticos para controle de congestão; iniciar ou otimizar inibidores do sistema renina‑angiotensina (ou ARNI), betabloqueadores e antagonistas de aldosterona conforme indicação para HFrEF, com monitorização de função renal e potássio.
  • Estratificação e seguimento: acompanhe NT‑proBNP e função renal periodicamente para ajustar terapêutica; use ferramentas de risco e avalie necessidade de telemonitorização e educação continuada.

Para integração entre tecnologia e prática, veja também IA na prática clínica.

Educação do paciente e adesão ao tratamento

A adesão é determinante para prevenção de recaídas. Intervenções efetivas incluem:

  • Explicação clara sobre HFpEF vs HFrEF, função dos diuréticos, inibidores de RAAS, betabloqueadores e metas de pressão arterial e peso.
  • Protocolos de auto‑monitorização: registro diário de peso, orientação sobre sinais de alerta e ação a tomar (contato telefônico, ajuste de diurético, busca de emergência).
  • Planejamento de follow‑up com datas fixas para revisão clínica, dosagem de NT‑proBNP e avaliação da função renal.
  • Envolvimento de familiares ou cuidadores para melhorar adesão e suporte na telemonitorização.

Recursos adicionais estão disponíveis em materiais sobre monitoramento domiciliar da PA em idosos e guias práticos do blog.

Integração de NT‑proBNP, telemonitorização e encaminhamento

Combinar a dosagem de NT‑proBNP com um protocolo de telemonitorização e critérios claros de encaminhamento permite reduzir o tempo para diagnóstico, otimizar o manejo inicial e evitar descompensações. No consultório, implemente um fluxo que inclua: 1) triagem com NT‑proBNP em pacientes com dispneia; 2) uso estruturado de telemonitorização para pacientes de risco; 3) checklists para encaminhamento quando houver necessidade de ecocardiografia ou avaliação cardiológica. Eduque a equipe e os pacientes sobre sinais de alerta, ajuste medicamentoso e importância do seguimento. Essa rotina transforma a atenção primária em um ponto central de prevenção e manejo eficaz da insuficiência cardíaca, com impacto direto na qualidade de vida e na redução de hospitalizações.

Links citados ao longo do texto mantêm recursos práticos sobre telemedicina, monitoramento da pressão arterial e interpretação de biomarcadores para apoiar a implementação local.

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