Doença de Lyme: diagnóstico e manejo na atenção primária
A doença de Lyme é uma infecção causada principalmente pela bactéria Borrelia burgdorferi, transmitida por carrapatos do gênero Ixodes. Na atenção primária, o desafio é reconhecer sinais precoces, realizar o manejo adequado e identificar quando encaminhar para especialistas. Este texto sintetiza epidemiologia, apresentações clínicas, exames, tratamento e medidas preventivas de forma prática para profissionais e pacientes.
Carrapatos e transmissão
A transmissão ocorre por carrapatos aderidos à pele por tempo prolongado — geralmente >36 horas — e a prevalência varia por região. Em áreas temperadas da Europa e América do Norte a doença é endêmica; no Brasil os relatos são menos frequentes, mas existem casos e sinais clínicos compatíveis. Para revisão epidemiológica e informações clínicas básicas consulte o material do MSD Manuals (msdmanuals.com).
Eritema migratório
O eritema migratório é a lesão cutânea clássica e diagnóstico clínico em estágios iniciais: mácula ou placa que expande centrifugamente, muitas vezes com aspecto em alvo. Nem todo paciente apresenta o eritema, e sua ausência não exclui a doença. Em pacientes com histórico de exposição e sintomas sistêmicos (febre, astenia, mialgia), o eritema orienta tratamento empírico mesmo se a sorologia for negativa no início.
Sorologia para Borrelia burgdorferi
O diagnóstico laboratorial baseia-se em testes sorológicos — pesquisa de anticorpos IgM/IgG — realizados em etapas (screening seguido de teste confirmatório, quando indicado). Testes podem ser falso-negativos nas primeiras semanas; por isso, a avaliação clínica é primordial. Para material clínico complementar sobre manifestações extra-cutâneas, veja a referência do hospital CUF (cuf.pt).
Manifestações clínicas por estágios
- Estágio inicial (localizado): eritema migratório, sintomas gripais.
- Estágio disseminado precoce: múltiplos eritemas, paralisia facial (paralisia de Bell), meningite asséptica, miopericardite.
- Estágio tardio/persistente: artrite intermitente, manifestações neurológicas crônicas.
Antibióticos: opções e indicações
O tratamento é antibiótico e a escolha depende do quadro clínico e da idade/pregnancy status do paciente.
Antibióticos orais
- Doxiciclina 100 mg duas vezes ao dia (adultos) — primeira escolha em muitas diretrizes para pacientes não grávidas e >8 anos.
- Amoxicilina 500 mg três vezes ao dia — alternativa em gestantes, lactantes e crianças pequenas.
- Cefuroxima axetil 500 mg duas vezes ao dia — outra opção oral.
Antibióticos intravenosos
Indicações para ceftriaxona ou cefotaxima (IV) incluem comprometimento neurológico central significativo ou bloqueio cardíaco de alto grau. A duração habitual varia de 14 a 28 dias conforme apresentação clínica e resposta.
Referências clínicas e recomendações gerais sobre tratamento podem ser consultadas na revisão do MSD Manuals e em materiais de sociedades científicas; para orientações de prevenção comunitária veja também informações institucionais (pfizer.com.br).
Diagnóstico diferencial e encaminhamento
Considere diagnóstico diferencial com outras infecções que cursam com exantema e febre, doenças reumatológicas e causas neurovasculares de paralisia facial. Encaminhe ao especialista quando houver suspeita de neuroborreliose, acometimento cardíaco significativo ou artrite persistente que não responde ao tratamento inicial.
Prevenção na prática clínica
As medidas preventivas incluem educação sobre roupas protetoras, uso de repelentes, inspeção diária da pele após exposição a áreas verdes e manejo ambiental (redução de habitats de carrapatos). Na atenção primária, ações educativas e integração com programas de imunização e vigilância fortalecem a prevenção — por exemplo, incorpore orientações em consultas de vacinação e educação em saúde (imunização para adultos).
Programas de rastreio e triagem para outras infecções e condições crônicas servem como modelo para organizar fluxo de identificação, seguimento e registro de casos na APS; veja um exemplo de organização de rastreio em hepatite C (rastreio de hepatite C).
Manejo e seguimento na atenção primária
Recomendações práticas para a APS:
- Tratar empiricamente quando houver eritema migratório compatível, sem aguardar sorologia.
- Registrar histórico de exposição e fotografar lesões cutâneas para monitorização.
- Agendar seguimento para avaliar resolução de sintomas e sinais de complicações; em casos de sintomas persistentes após tratamento, considerar avaliação para síndromes pós-infecciosas e suporte multidisciplinar (manejo de síndromes pós-infecciosas).
- Orientar sobre prevenção e quando procurar atendimento urgente (sinais neurológicos agudos, síncope, dor articular intensa).
Para leitura complementar e protocolos de manejo na atenção primária, além das referências citadas acima, considere materiais de sociedades médicas e guias locais. Informação acessível e ação precoce são essenciais para reduzir complicações e garantir recuperação.
Recomendações finais
Na atenção primária, priorize a identificação clínica — especialmente do eritema migratório — e o tratamento precoce com antibióticos apropriados. Utilize a sorologia de forma complementar, organize seguimento ativo e invista em educação sobre prevenção a carrapatos. Recursos e guias de referência (MSD Manuals, CUF e material informativo institucional) ajudam a padronizar condutas e melhorar a segurança do paciente.
Links externos citados: MSD Manuals, Hospital CUF, Pfizer Brasil.