Doenças autoinflamatórias: diagnóstico e manejo na atenção primária

Doenças autoinflamatórias: diagnóstico e manejo na atenção primária

As doenças autoinflamatórias (DAIs) são distúrbios do sistema imunológico inato caracterizados por episódios recorrentes de inflamação sem presença de autoanticorpos. Embora sejam consideradas doenças raras, o reconhecimento precoce na atenção primária é essencial para reduzir morbidade, prevenir complicações e encaminhar adequadamente para equipes de reumatologia ou imunologia.

Doenças autoinflamatórias: sinais clínicos e mecanismos

Na prática clínica, suspeite de DAIs em pacientes com febre periódica associada a sintomas como dor abdominal, pleurítica, artrite, erupções cutâneas ou linfadenopatia, especialmente quando exames infecciosos e autoimunes forem negativos. Mutações em genes que regulam o inflamassoma explicam muitas síndromes conhecidas, com ativação excessiva da via da interleucina-1 e produção de citocinas pró-inflamatórias.

Inflamassoma e interleucina-1

O inflamassoma é um complexo proteico que, quando desregulado, leva à ativação de caspase-1 e à liberação de IL-1β. Esse mecanismo está presente em síndromes como CAPS (associada a NLRP3) e em formas mais raras com manifestações sistêmicas graves. Entender essa fisiopatologia é útil para orientar terapias específicas, como os antagonistas da interleucina-1.

Principais síndromes e tratamentos iniciais

Algumas DAIs são mais frequentes e têm tratamento conhecido:

  • Febre Familiar do Mediterrâneo (FMF): episódios febris com dor abdominal ou pleurítica; tratamento de base com colchicina reduz crises e risco de amiloidose.
  • CAPS (síndromes relacionadas a NLRP3): variam de formas leves a graves; inibidores da IL-1 (anakinra, canakinumabe) são efetivos para controlar a inflamação.
  • HIDS/MVK: febres recorrentes, linfadenopatia e elevação de marcadores inflamatórios; manejo dirigido por especialistas e controle sintomático na atenção primária.

Colchicina, anakinra e canakinumabe

Na atenção primária, o uso de anti-inflamatórios não esteroides e colchicina (na FMF) pode ser iniciado para controle sintomático. A introdução de biológicos como anakinra ou canakinumabe costuma requerer protocolo e coordenação com reumatologia/imunologia, mas o reconhecimento da indicação e encaminhamento precoce melhora desfechos.

Diagnóstico na atenção primária: abordagem prática

Uma avaliação objetiva e sistemática ajuda a diferenciar DAIs de causas infecciosas, autoimunes e neoplásicas:

  • História clínica detalhada: padrão das febres (duração, periodicidade), sintomas intercríticos, história familiar.
  • Exame físico: buscar erupções, sinovites, esplenomegalia ou sinais de amiloidose.
  • Exames iniciais: hemograma, PCR, VHS, função renal e hepática; dosagens como IgD quando houver suspeita de HIDS.
  • Quando indicado, solicitar exames complementares e encaminhar para testes genéticos para confirmação molecular.

Testes genéticos e encaminhamento

Os testes genéticos confirmatórios são decisivos em muitas DAIs; a atenção primária deve avaliar a necessidade de investigação genética e iniciar fluxo de encaminhamento e aconselhamento. Para orientações sobre como integrar rastreamento genético e aconselhamento em atenção primária, consulte materiais práticos sobre rastreio genético e aconselhamento familiar em APS: rastreio genético e aconselhamento na atenção primária.

Manejo prático e acompanhamento

O objetivo do manejo é controlar crises, reduzir inflamação crônica e prevenir complicações como amiloidose ou perda funcional articular. Estratégias incluem estabilização aguda, terapias de manutenção e monitorização periódica.

  • Medicação de ataque: AINEs e corticosteroides em crises severas (com cautela e monitorização).
  • Tratamento de manutenção: colchicina na FMF; considerações para uso de inibidores da IL-1 em síndromes com evidência de eficácia.
  • Monitorização: avaliação clínica regular e mensuração de PCR/VHS; atenção a efeitos adversos e comorbidades.
  • Integração com farmacogenômica: avaliar interações medicamentosas e resposta terapêutica pode ser beneficiado por práticas de farmacogenômica integradas à atenção primária — veja orientações sobre integração da farmacogenômica na prática clínica: integração farmacogenômica.

Em serviços com fluxo para doenças raras, mantenha comunicação ativa com centros especializados. Materiais de apoio sobre manejo de doenças raras ajudam a padronizar encaminhamentos: doenças raras na prática clínica.

Recursos e leituras recomendadas

Para aprofundamento clínico e protocolos, recursos nacionais e revisão bibliográfica são úteis no dia a dia da atenção primária. Guias e revisões disponíveis online, como o portal da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, trazem revisões práticas sobre DAIs (SPMI – doenças autoinflamatórias), enquanto materiais didáticos e manuais práticos (por exemplo, o Guia prático das doenças autoinflamatórias) oferecem algoritmos de diagnóstico. Para referências bibliográficas e livros de revisão abrangente, consulte obras especializadas que compilam evidências e abordagens terapêuticas (Doenças Autoinflamatórias – uma abordagem sistêmica).

Resumo prático para atenção primária

Em pacientes com febre recorrente e sinais inflamatórios sem causa evidente, pense em doenças autoinflamatórias, investigue com exames básicos, considere testes genéticos quando indicado e encaminhe para reumatologia/imunologia. Utilize colchicina quando apropriado, reconheça indicações para antagonistas da interleucina-1 e mantenha acompanhamento periódico com monitorização de marcadores inflamatórios. Educação do paciente e coordenação com centros especializados são fundamentais para reduzir complicações.

Para dúvidas de manejo, protocolos locais e fluxos de encaminhamento, consulte os materiais e guias citados e integre orientações de genética e farmacogenômica à rotina da atenção primária para otimizar resultados.

Links úteis inseridos no texto são direcionados para guias práticos e conteúdos clínicos que ampliam o suporte ao profissional na atenção primária.

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