Elastografia ultrassonográfica portátil na avaliação da fibrose hepática

Elastografia ultrassonográfica portátil na avaliação da fibrose hepática

A avaliação não invasiva da fibrose hepática ganhou importância crescente nas últimas décadas. A elastografia ultrassonográfica portátil surge como ferramenta prática para rastreio, estadiamento e monitorização da fibrose em ambientes ambulatoriais e atenção primária, reduzindo a necessidade de biópsia hepática em muitos casos.

O que é elastografia ultrassonográfica portátil?

A elastografia ultrassonográfica portátil mede a rigidez do fígado por meio de ondas de ultrassom; tecidos mais rígidos indicam maior fibrose. Existem variantes técnicas, como a elastografia por ondas de cisalhamento (shear wave elastography) e a elastografia transitória (conhecida comercialmente como FibroScan). Em consultórios e unidades básicas, dispositivos portáteis permitem exames rápidos, com curva de aprendizado controlada e resultados imediatamente disponíveis.

Elastografia por ondas de cisalhamento e FibroScan

A elastografia pontual por shear wave é integrada a aparelhos de ultrassom convencionais, enquanto o FibroScan realiza elastografia transitória e muitas vezes fornece também o parâmetro CAP (controlled attenuation parameter) para quantificar esteatose hepática. Ambas as tecnologias são complementares aos scores laboratoriais como APRI e FIB‑4 na avaliação da fibrose hepática.

Vantagens do uso portátil na prática clínica

  • Não invasivo e seguro: reduz risco associado à biópsia hepática e aumenta a adesão do paciente ao seguimento.
  • Rapidez e tomada de decisão imediata: o exame leva minutos e auxilia no encaminhamento precoce para hepatologia quando necessário.
  • Acessibilidade: permite levar a tecnologia para unidades básicas e campanhas de saúde, ampliando o rastreio em populações de risco.
  • Monitorização longitudinal: útil para acompanhar resposta a intervenções (por exemplo, controle glicêmico ou perda de peso em DHGNA).

Indicações práticas na atenção primária para detectar fibrose hepática

Na atenção primária, a elastografia portátil é especialmente útil para:

  • Avaliar pacientes com suspeita de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) e com fatores de risco metabólicos, como diabetes mellitus tipo 2 e obesidade — condições que aumentam a chance de progressão para fibrose avançada. Para manejo integrado do paciente diabético, veja também nosso texto sobre diabetes tipo 2: prevenção, diagnóstico e tratamento.
  • Triagem e estadiamento em portadores de hepatites virais (p.ex. hepatite B crônica), onde a elastografia auxilia na decisão terapêutica e no seguimento. Orientações específicas sobre hepatite B estão disponíveis em nosso artigo sobre hepatite B crônica na atenção primária.
  • Seguimento de pacientes com história de consumo alcoólico significativo após intervenção e aconselhamento.

Quando encaminhar ao especialista

Valores de rigidez sugestivos de fibrose avançada ou cirrose, resultados discordantes entre elastografia e marcadores séricos (APRI, FIB‑4) ou presença de sinais clínicos de hipertensão portal justificam encaminhamento para hepatologista para investigação adicional, incluindo possibilidade de endoscopia para varizes esofágicas.

Aspectos práticos para implementação clínica

Para integrar a elastografia portátil na rotina, considere:

  • Treinamento e acreditação: profissionais devem ser capacitados para aquisição correta das medidas e interpretação, com protocolos locais de qualidade.
  • Protocolos clínicos: definir indicações, pontos de corte e fluxos de encaminhamento conjunto com hepatologia.
  • Integração com exames laboratoriais e imagem: usar a elastografia como parte de uma avaliação multimodal (bioquímica hepática, APRI/FIB‑4, ultrassom convencional e, se disponível, CAP para esteatose).
  • Registro e auditoria: documentar medidas e seguir desempenho do serviço para garantir reprodutibilidade.

Para orientações sobre uso de equipamentos portáteis de ultrassom na prática clínica e segurança operacional, consulte nosso guia sobre ultrassom portátil na prática clínica.

Evidências e recomendações internacionais

Diretrizes de sociedades científicas reconhecem os testes não invasivos, incluindo elastografia, como parte essencial da avaliação da fibrose hepática. Organizações como a EASL e a AASLD publicam recomendações sobre interpretação e integração desses exames na prática clínica. Para contextualização epidemiológica e importância do rastreio de hepatites, a Organização Mundial da Saúde oferece material de referência atual e medidas de saúde pública em sua página sobre hepatites.

Resumo prático para uso clínico

  • Use a elastografia portátil como método de triagem e monitorização em pacientes com fatores de risco para fibrose (DHGNA, diabetes, álcool, hepatites virais).
  • Combine achados de elastografia com marcadores laboratoriais (APRI, FIB‑4) e avaliação clínica; resultados concordantes reduzem a necessidade de biópsia hepática.
  • Estabeleça treinamento, protocolos locais e fluxos de encaminhamento para hepatologia em valores sugestivos de fibrose avançada.
  • Considere a avaliação da esteatose (CAP) quando disponível e direcione intervenções sobre risco cardiometabólico integrando cuidados com diabetes e obesidade.

A implantação adequada da elastografia ultrassonográfica portátil pode ampliar o acesso ao diagnóstico precoce da fibrose hepática, otimizar encaminhamentos e permitir intervenções precoces que reduzem risco de cirrose e carcinoma hepatocelular. Para aprofundar o manejo interdisciplinar do paciente com doença hepática crônica, recomendamos combinar estas abordagens com orientação especializada e protocolos locais de seguimento.

Referências e leituras recomendadas: diretrizes da EASL e AASLD sobre testes não invasivos; publicações científicas sobre elastografia transitória (FibroScan) e elastografia por shear wave; material informativo da Organização Mundial da Saúde sobre hepatites.

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