O que é hepatite B crônica: rastreio, vacinação e manejo inicial na atenção primária
Hepatite B crônica é a infecção persistente pelo vírus da hepatite B (HBV) que pode levar a fibrose, cirrose e hepatocarcinoma se não for identificada e manejada adequadamente. Na atenção primária, o diagnóstico precoce, a vacinação de contatos e o manejo inicial reduzem complicações e melhoram a qualidade de vida. Este texto apresenta definição, estratégias de rastreio, ações de vacinação e recomendações práticas de manejo inicial para profissionais de saúde e pacientes.
Hepatite B crônica: definição clínica e epidemiologia
A hepatite B crônica é definida pela presença persistente de HBsAg por mais de seis meses. A transmissão ocorre por via perinatal, sexual, ocupacional ou parenteral. A prevalência varia por região, sendo maior em áreas de alta endemicidade, mas a doença é relevante mundialmente. A maioria dos adultos elimina a infecção aguda espontaneamente; uma parcela desenvolve infecção crônica e requer monitoramento contínuo e, quando indicado, tratamento antiviral para reduzir progressão para fibrose e cirrose.
Rastreamento e detecção na atenção primária
O rastreio deve ser direcionado a populações de risco para otimizar recursos e prevenir complicações como hepatocarcinoma. Na atenção primária, inclua as seguintes ações:
- Identificação de grupos de risco — contatos domiciliares de pessoas com HBV, profissionais de saúde expostos, usuários de drogas injetáveis, pessoas migrantes de áreas de alta endemicidade, gestantes, pacientes com HIV ou HCV e pessoas com doença hepática crônica.
- Testes diagnósticos essenciais — solicitar HBsAg para diagnóstico. Anti-HBs e anti-HBc diferenciam imunidade de infecção prévia. A quantificação de HBV DNA orienta decisões terapêuticas; ALT avalia atividade inflamatória hepática.
- Estratificação de fibrose — use ferramentas não invasivas como FIB-4 e APRI, e elastografia quando disponível, para identificar fibrose significativa que exige encaminhamento.
- Vigilância de complicações — monitore risco de hepatocarcinoma especialmente em pacientes com cirrose ou fibrose avançada.
Para aprofundar princípios de triagem e fluxos de encaminhamento, mantenha referência ao material relacionado em seu serviço de informação, como o link interno sobre rastreio de hepatite C já disponível.
Vacinação: proteção de contatos e prevenção
A vacina contra hepatite B é a medida preventiva mais eficaz para reduzir transmissão e evitar infecção crônica. Em atenção primária, a prática envolve:
- Vacinação de contatos — familiares, parceiros e cuidadores de casos confirmados devem ser avaliados para sorologia e vacinados se suscetíveis.
- Esquemas de vacinação — esquema padrão 0, 1 e 6 meses; esquemas acelerados podem ser usados conforme orientação local. Assegure completação do esquema e controle de soroconversão quando indicado.
- Pacientes com comorbidades — indivíduos com doenças crônicas ou imunossupressão podem necessitar de doses adicionais ou avaliação de anticorpos anti-HBs após o esquema.
- Gestantes — a vacinação é segura durante a gravidez quando a gestante é suscetível e deve ser considerada no pré-natal para proteger mãe e recém-nascido.
Integre a vacinação à promoção da saúde em adultos com doenças crônicas e use materiais educativos para aumentar adesão. Links internos sobre vacinação adulta podem complementar o manejo.
Manejo inicial na atenção primária
O manejo inicial combina avaliação clínica, monitoramento e encaminhamento quando necessário:
- Avaliação clínica e exames iniciais — história detalhada (fatores de risco, consumo de álcool, uso de medicamentos hepatotóxicos, coinfecções). Solicite HBsAg, anti-HBs, anti-HBc, HBV DNA e ALT como linha de base.
- Estratificação e decisão terapêutica — a indicação de terapia antiviral baseia-se em níveis elevados de HBV DNA, elevação persistente de ALT e sinais de lesão hepática. Pacientes com baixa atividade viral e ALT normal podem ser monitorizados.
- Antivirais de primeira linha — tenofovir disoproxil fumarato (TDF), tenofovir alafenamida (TAF) e entecavir são opções com boa eficácia e alta barreira à resistência. Em gestantes que requerem terapia, os fármacos à base de tenofovir são frequentemente preferidos após avaliação conjunta com obstetrícia e hepatologia.
- Avaliação de fibrose — calcule FIB-4 ou APRI e encaminhe para elastografia ou hepatologia se houver suspeita de fibrose significativa.
- Prevenção de transmissão — garanta imunização de contatos, oriente sobre prevenção sexual e cuidados perinatais para reduzir risco de transmissão vertical.
- Plano de acompanhamento — estabeleça periodicidade para avaliação clínica, dosagem de ALT, quantificação de HBV DNA, monitoramento de fibrose e vigilância de hepatocarcinoma quando indicado.
Desafios na prática da atenção primária
- Variação na resposta imune — alguns pacientes apresentam replicação viral baixa sem inflamação, outros têm atividade hepática progressiva; monitoramento regular é essencial.
- Coinfecções e consumo de álcool — coinfecções por HIV ou HCV e consumo excessivo de álcool aceleram a progressão da doença e exigem manejo integrado.
- Adesão ao tratamento — forneça suporte para adesão, lembretes e educação sobre efeitos adversos; regimes simples ajudam a manter a continuidade do tratamento.
- Acesso a serviços especializados — estruture fluxos de encaminhamento para hepatologia, ultrassom de vigilância e elastografia quando necessário.
Abordagem centrada no paciente: educação e decisão compartilhada
Uma abordagem centrada no paciente inclui:
- Educação — explique o que é HBV, diferenças entre hepatite aguda e crônica, significado da carga viral e sinais de alarme que requerem avaliação imediata.
- Decisão compartilhada — alinhe objetivos do tratamento (benefícios esperados, riscos e necessidade de monitoramento) com o paciente.
- Estilo de vida saudável — recomendações para evitar álcool, controlar peso, evitar hepatotoxinas e manter contatos vacinados.
- Plano de acompanhamento acessível — defina quando retornar, como monitorar sintomas e como acessar serviços em caso de agravamento.
Rastreamento de complicações e vigilância
Pacientes com cirrose ou fibrose avançada devem receber vigilância para hepatocarcinoma conforme protocolo local, geralmente com ultrassonografia semestral ou anual. A dosagem de AFP pode ser usada conforme diretriz local e indicação clínica.
Quando encaminhar e como coordenar o cuidado
Encaminhe para hepatologia ou infectologia quando houver:
- HBV DNA persistentemente elevado com ALT aumentada sugerindo necessidade de terapia antiviral.
- Sinais de fibrose avançada ou cirrose com comprometimento da função hepática.
- Coinfecções complexas (HIV, HCV) que exigem manejo integrado e revisão de interações medicamentosas.
- Dúvidas sobre imunidade ou esquemas vacinais em contatos de alto risco.
Mantenha comunicação efetiva entre atenção primária e serviços especializados para otimizar cuidados e reduzir tempo para decisões terapêuticas.
Checklist prático para consulta de atenção primária
- Triagem de risco para hepatite B em pacientes com fatores de risco.
- Solicitar HBsAg, anti-HBs, anti-HBc, HBV DNA e ALT como base inicial.
- Aplicar FIB-4 ou APRI e planejar elastografia se indicado.
- Verificar situação vacinal de contatos e planejar esquema vacinal.
- Definir seguimento: periodicidade de consultas, exames e critérios de encaminhamento.
- Orientar sobre estilo de vida, evitar álcool e prevenção de transmissão.
Mensagem prática sobre hepatite B crônica na atenção primária
Hepatite B crônica é tratável e manejável: o papel da atenção primária é diagnosticar precocemente pela detecção de HBsAg, monitorar HBV DNA e ALT, vacinar contatos e encaminhar pacientes com fibrose ou atividade viral significativa. Adotar estratégias de rastreio bem direcionadas, garantir vacinação e oferecer educação ao paciente reduz risco de cirrose e hepatocarcinoma e melhora prognóstico. Em caso de dúvidas específicas, consulte diretrizes locais e especialistas em hepatologia.
Ações práticas imediatas: atualize registros vacinais dos contatos, solicite sorologia e HBV DNA quando indicado, calcule FIB-4 ou APRI, oriente sobre abstinência ou redução do álcool e estabeleça fluxo de encaminhamento para hepatologia conforme necessidade clínica. Use os links internos já presentes para referenciar material complementar.
Links úteis dentro do site para ampliar o entendimento e facilitar a leitura: