Fibromialgia: diagnóstico e manejo na atenção primária
A fibromialgia é uma síndrome caracterizada por dor crônica generalizada, fadiga, distúrbios do sono e alterações cognitivas. O reconhecimento precoce na atenção primária e o manejo centrado no paciente reduzem impacto funcional e melhora a qualidade de vida. A abordagem é predominantemente clínica, com ênfase em educação, exercícios, intervenções psicológicas e, quando necessário, terapias farmacológicas.
Fibromialgia: critérios diagnósticos
O diagnóstico é essencialmente clínico. Os critérios do American College of Rheumatology (ACR, 2016) usam o Widespread Pain Index (WPI) e a Escala de Severidade dos Sintomas (SSS), exigindo sintomas por pelo menos três meses e a exclusão de outras condições que expliquem a apresentação. Diretrizes clínicas e revisões práticas auxiliam na aplicação desses critérios na consulta de atenção primária (veja a revisão do BMJ Best Practice para detalhes sobre critérios e aplicação clínica: bestpractice.bmj.com).
WPI e SSS na prática clínica
Ao avaliar WPI/SSS, documente distribuição da dor, intensidade da fadiga, alterações do sono e sintomas cognitivos. Investigue diagnósticos diferenciais como hipotireoidismo, doenças autoimunes e transtornos depressivos. Ferramentas simples e anamnese dirigida permitem distinguir fibromialgia de polimialgia reumática ou espondiloartrites.
Fibromialgia: manejo não farmacológico
As intervenções não farmacológicas constituem a base do tratamento. A educação do paciente sobre a natureza da doença e a importância da autogestão é fundamental. Programas estruturados que combinam informação, acompanhamento e planos graduais de atividade promovem adesão e reduzem medo-evitação.
Exercício e reabilitação
Exercícios aeróbicos de baixo impacto (caminhada, natação, hidroginástica), treino de fortalecimento e alongamento melhoram dor, função e sono. É importante iniciar gradualmente e ajustar a intensidade para evitar exacerbações. Para orientações práticas sobre reabilitação e programes domiciliares, considere integrar protocolos de reabilitação e exercício supervisionado, tendo como referência programas de reabilitação e cuidados em domicílio (reabilitação domiciliar aplicáveis a planos de exercício individualizados).
Psicoterapia e intervenções comportamentais
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) reduz a carga de ansiedade e depressão associadas, melhora estratégias de coping e favorece adesão às mudanças de estilo de vida. Avaliações ocupacionais e intervenções para controle do estresse complementam a TCC. Artigos brasileiros descrevem a aplicabilidade da avaliação psicossocial na prática ocupacional e clínica (rbmt.org.br).
Fibromialgia: opções farmacológicas
Quando intervenções não farmacológicas não controlam os sintomas suficientes, a farmacoterapia pode ser adicionada de forma individualizada. Objetivos: reduzir dor, melhorar sono e tratar comorbidades como depressão e ansiedade. A escolha leva em conta comorbidades, efeitos adversos e resposta prévia a tratamentos.
Antidepressivos e moduladores da dor
Inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN) como duloxetina demonstram eficácia na redução da dor e na melhora do humor; ISRSs podem ser úteis quando predomina transtorno depressivo. Anticonvulsivantes moduladores do neurotransmissor, como pregabalina e gabapentina, são opções para componente neuropático da dor. Revisões nacionais e internacionais detalham indicações e dosagens recomendadas (medicinaemfoco.com.br).
Outros medicamentos e cuidados
Relaxantes musculares (ex.: ciclobenzaprina) podem ser úteis à noite para melhorar o sono e reduzir tensão muscular. Evitar uso indiscriminado de opioides e polifarmácia é essencial; reavalie a eficácia e efeitos adversos regularmente. Revisões de opções farmacológicas em portais de atenção primária oferecem orientações práticas para escolha e monitorização (aps-repo.bvs.br).
Integração com cuidados em atenção primária e seguimento
O manejo eficaz exige coordenação entre clínicos, fisioterapeutas, psicólogos e, quando necessário, reumatologistas ou neurologistas. Estruture seguimento periódico para monitorar dor crônica, fadiga, sono, impacto funcional e sinais de ansiedade ou depressão; utilize rastreios simples como os aplicados na triagem para depressão na atenção primária (triagem para depressão). Para casos com componente neuropático predominante ou resposta insuficiente às intervenções iniciais, considere protocolos de manejo da dor neuropática para orientar ajustes terapêuticos (manejo da dor neuropática).
Educação continuada do paciente, incentivo ao exercício regular, suporte psicológico e revisão criteriosa da farmacoterapia favorecem melhor desfecho funcional. Guias práticos sobre manejo da dor crônica podem ser incorporados ao prontuário e ao plano terapêutico individual (manejo da dor crônica).
Abordagem multidisciplinar e seguimento clínico
A combinação de intervenções não farmacológicas, terapias farmacológicas selecionadas e suporte psicossocial, coordenada pela equipe de atenção primária, oferece a melhor chance de controle sintomático e melhoria da qualidade de vida. Avalie regularmente função, níveis de atividade, sono e saúde mental; ajuste plano terapêutico conforme resposta e preferência do paciente. Encaminhamentos para reumatologia ou clínicas de dor são indicados quando houver dúvidas diagnósticas, piora progressiva ou falha de múltiplas estratégias terapêuticas.
Orientações práticas, materiais de educação ao paciente e planos de exercício graduais facilitam adesão. Combinar evidências de fontes internacionais com recursos locais e protocolos de atenção primária garante um cuidado seguro e contextualizado.