Versão prática das atualizações GINA 2025 com foco em aplicabilidade clínica: mudanças no diagnóstico, estadiamento por fenótipo/endotipo, abordagem inicial e escalonamento terapêutico, prevenção de exacerbações, papel de biológicos e recomendações para seguimento.
Índice
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Introdução
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Principais mudanças da GINA 2025 (visão geral)
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Diagnóstico e avaliação inicial
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Manejo farmacológico — esquema prático atualizado
- Exacerbações agudas — triagem, tratamento e critérios de alta
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Biológicos: indicações, seleção e monitorização
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Prevenção, educação e plano de ação para pacientes
Introdução
Contexto rápido: a GINA 2025 enfatiza personalização por fenótipo/endotipo, prevenção de exacerbações, otimização do uso de corticoide inalatório em baixa dose combinado com broncodilatador de ação rápida quando indicado, e critérios mais claros para uso de biológicos.
A seguir, segue um resumo do que foi atualizado e como aplicar na sua rotina diária.
Principais mudanças da GINA 2025
- Reforço da abordagem baseada em risco de exacerbação e fenótipo (T2 vs não‑T2) como eixo para escolha terapêutica.
- Maior ênfase no uso de ICS‑formoterol em terapia de resgate para muitos perfis de doença, evitando SABA isolado quando possível.
- Critérios de escalonamento e desescalonamento com marcos temporais e métricas de resposta (controle sintomático + evitamento de exacerbações).
- Indicações de biológicos refinadas por biomarcadores (FeNO, eosinófilos) e histórico de exacerbações.
Diagnóstico e avaliação inicial
Passo a passo (ambulatório)
- Confirme sintomas típicos (sibilância, dispneia variável, tosse noturna) e variabilidade.
- Realize espirometria com broncodilatador sempre que possível; se normal e suspeita alta, considerar prova de broncoprovocação ou teste de variabilidade do pico de fluxo.
- Colete história de alergias, tabagismo, condições comórbidas (RGE, rinosinusite, obesidade, DPOC sobreposta).
- Avalie biomarcadores quando disponíveis: eosinófilos sanguíneos (valor absoluto), FeNO. Use-os para estratificar provável fenótipo T2.
- Documente gravidade inicial e risco de exacerbação (nº de exacerbações no último ano, hospitalizações, TCAs prévias).
4) Estadiamento por fenótipo e implicações terapêuticas
Resumo de fenótipos práticos
- Fenótipo T2 (eosinofílico/atópico): maior probabilidade de resposta a ICS, redução de exacerbações com ICS/biológicos direcionados.
- Fenótipo não‑T2 (neutrofílico, obesidade‑associado): resposta limitada a ICS; enfoque em controle de comorbidades e reabilitação pulmonar.
Implicações
- Priorizar ICS em pacientes com evidência de inflamação T2; considerar terapia alternativa quando T2 negativo e controle inadequado.
- Utilizar biomarcadores como auxílio para seleção de biológicos (FeNO alto / eosinófilos ≥ limiares definidos pela diretriz).
GINA: Manejo farmacológico — esquema prático atualizado
Princípios gerais
- Evitar SABA isolado como estratégia de resgate sempre que possível; preferir ICS‑formoterol como terapia de alívio em muitos pacientes.
- Escalonamento por passo (simplificado):
- Passo 1 (sintomas intermitentes, baixo risco): considerar ICS‑formoterol PRN ou ICS em baixa dose pautada conforme risco.
- Passo 2 (sintomas persistentes leves): ICS em baixa dose diário ± formoterol conforme disponibilidade e perfil.
- Passo 3 (moderado): ICS em dose média + LABA; considerar adesão e técnica de inalação.
- Passo 4 (grave): ICS em dose alta + LABA ± LAMA; avaliar encaminhamento para especialista.
- Passo 5 (grave, exacerbador ou biomarcadores T2 elevados): considerar biológico adequado, reavaliação de comorbidades, e plano multidisciplinar.
Notas práticas
- Sempre revisar técnica inalatória e adesão antes de intensificar terapia.
- Reavaliar benefício em 4–12 semanas após mudança (sintomas, função pulmonar, exacerbações).
Exacerbações agudas — triagem, tratamento e critérios de alta (GINA 2025)
Triagem rápida (ABCDE respiratório)
- Avaliar esforço respiratório, saturação, frequência respiratória, uso de musculatura acessória e estado mental.
- Classificar: leve/moderada/severa/vida‑ameaçadora.
Tratamento inicial (ambulatorial/hospitalar)
- Leve a moderada: broncodilatador SABA nebulizado ou inalado; considerar a curto prazo prednisolona oral (dose e duração conforme diretriz) se falta de controle. Revisar adesão e técnica.
- Severa/ameaçadora: O2 para saturação alvo 93–95% (ajustar conforme comorbidades), SABA nebulizado repetido, corticoterapia sistêmica imediata, considerar suporte ventilatório e admissão.
- Critérios de alta infantil/adulto: estabilidade clínica, saturação adequada sem O2 suplementar, capacidade de usar inaladores/terapêutica, plano de ação e retorno em ≤48–72 h.
Biológicos: indicações, seleção e monitorização
Indicações clínicas rápidas
- Pacientes com asma grave não controlada em passo 4–5 com exacerbações recorrentes apesar de otimização terapêutica.
- Seleção guiada por biomarcadores:
- Anti‑IgE: indicado em atopia documentada e IgE compatível com faixa terapêutica.
- Anti‑IL‑5/IL‑5R: pacientes com eosinofilia periférica elevada e exacerbações.
- Anti‑IL‑4Rα (dupilumabe): benefício em fenótipo T2 e com comorbidades (polipose nasal).
- Monitorização: resposta clínica (redução de exacerbações), função pulmonar, efeitos adversos. Reavaliar eficácia após 4–6 meses; considerar descontinuação se sem benefício claro.
Prevenção, educação e plano de ação para pacientes
Itens essenciais do plano de ação escrito
- Reconhecimento precoce de sinais de piora.
- Medicações de resgate e quando usá‑las (com doses).
- Critérios para procurar emergência.
- Contatos para atendimento e revisão programada.
- Revisão de fatores desencadeantes e vacinação (influenza, pneumococo quando indicado).
Educação e adesão
- Treinar técnica inalatória, revisar dispositivos e prescrever espaçador se necessário.
- Avaliar barreiras socioeconômicas e aderência farmacológica.