Indicações e posologia da amoxicilina com clavulanato na prática clínica

A amoxicilina com clavulanato é uma combinação amplamente utilizada em clínica geral e especialidades para tratar infecções bacterianas em que há suspeita de produção de beta-lactamase. A associação combina um antibiótico beta-lactâmico (amoxicilina) com um inibidor de beta-lactamase (ácido clavulânico), ampliando o espectro de ação frente a patógenos produtores de enzimas inativadoras. A seguir, orientações práticas sobre indicações, posologia, ajustes e precauções, com foco em uso racional e redução da resistência bacteriana.

Amoxicilina com clavulanato: indicações principais

• Infecções do trato respiratório superior: sinusite bacteriana aguda e otite média aguda quando indicadas por critérios clínicos ou falha terapêutica com amoxicilina isolada.
• Infecções do trato respiratório inferior: pneumonia adquirida na comunidade em pacientes com indicação para cobertura ampliada ou exacerbações bacterianas de DPOC selecionadas.
• Infecções de pele e tecidos moles: celulite, bite wounds (mordeduras de animais), abscessos odontogênicos quando há extensão para tecidos moles.
• Infecções do trato urinário e algumas osteoarticulares (osteomielite) em situações selecionadas, sempre considerando cultura e antibiograma quando possível.

O uso deve basear-se em diagnóstico clínico adequado e, sempre que viável, em confirmação microbiológica para direcionar terapia e evitar uso indiscriminado que favoreça a resistência bacteriana. Para orientações sobre boas práticas de prescrição e estratégias de stewardship, consulte recomendações locais e guias internacionais.

Posologia e doses recomendadas

A escolha da apresentação (comprimidos 500/125 mg, 875/125 mg, formulações orais de suspensão) e a posologia dependem da gravidade da infecção, peso, idade e função renal.

Adultos e adolescentes (peso > 40 kg)

• Infecções leves a moderadas: 500 mg de amoxicilina + 125 mg de ácido clavulânico a cada 12 horas.
• Infecções moderadas a graves: 875 mg de amoxicilina + 125 mg de ácido clavulânico a cada 12 horas.
• Em algumas situações (infecções por patógenos com maior MIC) pode-se considerar esquema 500/125 mg a cada 8 horas, conforme diretriz local e segurança gastrointestinal do paciente.

Crianças

• Peso 20–40 kg: infecções leves a moderadas ≈ 25 mg/kg/dia de amoxicilina (correspondente a 25 mg de amoxicilina + 3,6 mg de clavulanato/kg/dia) em duas tomadas; infecções graves ≈ 45 mg/kg/dia (amoxicilina) em duas tomadas.
• Peso < 20 kg: dosagem individualizada por kg; preferir consulta a diretrizes pediátricas e fórmulas da apresentação pediátrica para evitar erros de dose.

Ajuste em insuficiência renal

• TFG ≥ 30 mL/min: dose habitual.
• TFG 10–30 mL/min: 250 mg amoxicilina + 125 mg clavulanato a cada 12 horas.
• TFG < 10 mL/min: 250 mg amoxicilina + 125 mg clavulanato a cada 24 horas.
• Em hemodiálise intermitente, recomenda-se administrar 250/125 mg após a sessão nos dias de diálise.

Para pacientes obesos, idosos ou com alterações farmacocinéticas, considerar avaliação farmacoterapêutica e, quando disponível, acompanhamento terapêutico farmacológico.

Efeitos adversos, hepatotoxicidade e interações

Reações gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarreia) são as mais frequentes; diarreia associada a Clostridioides difficile deve ser considerada em casos de apresentação compatível. Casos de hepatite colestática mediada por amoxicilina-clavulanato são descritos, geralmente com início semanas após o tratamento; suspeita de colestase requer interrupção e avaliação (ver revisão clínica sobre hepatotoxicidade PubMed).

Quanto a interações, destaque para aumento do efeito anticoagulante com varfarina em alguns relatos; monitoramento do INR é recomendado quando a associação ocorrer. Consulte bulas e monografias (ex.: ficha técnica do produto) para interações específicas e ajustes.

Orientações práticas para prescrição

• Prescrever com objetivo claro, duração definida e reavaliar clínicamente em 48–72 horas; para maioria das sinusites e otites, 5–7 dias pode ser suficiente em adultos, mas siga diretrizes locais quanto à duração.
• Preferir cultivo e antibiograma em infecções graves, infecções recorrentes ou falha terapêutica para direcionar terapia de escalonamento.
• Educar o paciente sobre administração com alimentos (reduz náusea), completar o curso conforme orientado e sinais de alerta que exigem retorno (icterícia, diarreia intensa, reação alérgica).
• Integre práticas de controle de infecção e prevenção de reinfecção, incluindo medidas de higiene, tratamento odontológico quando indicado e cuidados com feridas—veja recomendações sobre prevenção de infecções associadas e biofilmes em dispositivos médicos em prevenção de infecções.

Para ampliar a prática clínica baseada em evidência e programas de antimicrobial stewardship, consulte materiais de referência internacional (WHO sobre resistência antimicrobiana WHO) e orientações de uso racional de antibióticos (CDC sobre uso de antibióticos CDC).

Recursos adicionais sobre boas práticas de prescrição e gestão de antimicrobianos podem ser úteis no dia a dia clínico: Boas práticas no uso de antibióticos e guia prático sobre resistência bacteriana no portal do Bruzzi.

Resumo prático para a prescrição de amoxicilina com clavulanato

Amoxicilina com clavulanato é opção eficaz para várias infecções quando há indicação clínica de espectro ampliado por beta-lactamase. Prescreva com critério: escolha dose adequada por idade/peso, ajuste em insuficiência renal, monitore reações adversas (incluindo hepatotoxicidade) e interações (ex.: anticoagulantes) e reavalie a necessidade do tratamento em 48–72 horas. Integrar estas condutas a programas de stewardship e prevenção de infecções melhora desfechos e reduz resistência.

Fontes externas para leitura complementar e atualização prática: EMA – ficha técnica do produto (informações de segurança e posologia), revisão sobre hepatotoxicidade PubMed, e diretrizes de stewardship do CDC e WHO.

Se desejar, posso preparar um fluxograma de prescrição por indicação clínica (otite, sinusite, pneumonia, pele e tecidos moles, ITU) e uma lista de verificação para ajuste em insuficiência renal e monitorização de eventos adversos.