Intoxicação por metanol em bebidas: guia médico completo

Intoxicação por metanol em bebidas: guia médico completo

A intoxicação por metanol é uma emergência clínica que exige reconhecimento precoce e manejo rápido para reduzir risco de sequelas permanentes, especialmente comprometimento visual e acidose metabólica grave. Este guia, elaborado por profissionais de saúde, aborda mecanismos de toxicidade, identificação clínica, condutas iniciais e estratégias de seguimento, incluindo orientações para atendimento ambulatorial e hospitalar.

Metanol e mecanismos de toxicidade

O metanol (álcool metílico) é absorvido rapidamente pelo trato gastrointestinal. No fígado, a álcool desidrogenase converte o metanol em formaldeído, que por sua vez é metabolizado em ácido fórmico por aldeído desidrogenase. O ácido fórmico acumula-se e inibe a cadeia respiratória mitocondrial, causando acidose metabólica e lesão direta ao nervo óptico — explicando os achados de visão borrada e cegueira em intoxicações graves.

Acidose metabólica e dano visual

A acidose metabólica é um marcador crítico de gravidade. A presença de pH arterial baixo, aumento do gap aniónico e lactato elevado correlaciona-se com maior risco de comprometimento visual e necessidade de hemodiálise. Sintomas iniciais podem mimetizar embriaguez (tontura, náuseas), mas progressão para visão borrada, dor retro-orbital ou perda visual total exige intervenção imediata.

Antídotos: fomepizol e etanol

O tratamento específico baseia-se na inibição da álcool desidrogenase para limitar a formação de formaldeído e ácido fórmico. O fomepizol é o antídoto de escolha sempre que disponível; o etanol é alternativa quando fomepizol não está acessível. Ambos competem pela mesma enzima, reduzindo a produção de metabolitos tóxicos. A administração deve ser iniciada tão logo haja suspeita clínica, mesmo antes da confirmação laboratorial, quando indicado.

Hemodiálise como terapia de remoção

A hemodiálise é indicada em intoxicações graves — acidose metabólica refratária, comprometimento visual progressivo, níveis séricos elevados de metanol ou falência orgânica. A diálise remove tanto o metanol quanto seus metabolitos e corrige distúrbios ácido-base. Decisão clínica depende da disponibilidade do recurso e do estado do paciente.

Sinais clínicos e diagnóstico

Suspeite de intoxicação por metanol em pacientes com história de ingestão de bebida de procedência duvidosa ou exposição ocupacional, associados a:

  • Alteração do nível de consciência, náuseas, vômitos;
  • Visão borrada, escotomas, fotofobia ou perda visual;
  • Respiração rápida ou deep (respiração de Kussmaul) por acidose metabólica;
  • Gap aniónico e osmolar alterados na gasometria e eletrólitos;
  • Dosagem de metanol sanguíneo quando disponível confirma exposição.

Além de exames laboratoriais (gasometria arterial, eletrólitos, creatinina, glicemia), a dosagem de metanol sérico e, quando possível, de ácido fórmico orienta prognóstico. Em cenários com recursos limitados, parâmetros clínicos e gasometria orientam tratamento empírico.

Tratamento inicial e seguimento

Condutas imediatas no serviço de urgência:

  • Estabilizar via aérea, ventilação e circulação conforme necessidade;
  • Iniciar fomepizol ou etanol empírico se houver suspeita razoável;
  • Corrigir acidose com bicarbonato de sódio conforme gasometria arterial;
  • Solicitar hemodiálise em casos indicados;
  • Administrar ácido folínico (leucovorina) para acelerar a metabolização de ácido fórmico.

Após estabilização hospitalar, planeje acompanhamento para avaliação oftalmológica e reabilitação quando necessário. A reconciliação medicamentosa e a revisão de alta são cruciais para continuidade segura do cuidado: veja nosso protocolo prático sobre reconciliação medicamentosa na alta e orientações para continuidade em atenção primária em continuidade do cuidado após alta.

Pacientes sem necessidade de internação, após avaliação criteriosa, devem receber instruções claras sobre sinais de alarme e métodos de monitorização domiciliar de sinais vitais; para isso, consulte recomendações sobre monitorização domiciliar de SpO2 e sinais.

Prevenção e políticas públicas

A prevenção depende de fiscalização, rotulagem adequada e campanhas informativas que alertem para os riscos do consumo de álcool adulterado. Em surtos, medidas de saúde pública coordenadas são essenciais para identificação de lotes contaminados e orientação da população.

Fontes internacionais com diretrizes e alertas sobre surtos e manejo incluem a Organização Mundial da Saúde (WHO) — WHO: methanol poisonings —, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) — CDC: methanol information — e recursos de referência clínica como o MedlinePlus — MedlinePlus: methanol poisoning.

Orientações finais sobre intoxicação por metanol

Intoxicação por metanol é uma condição potencialmente fatal que exige alta suspeita clínica, tratamento empírico com fomepizol ou etanol quando indicado, correção da acidose metabólica e consideração precoce de hemodiálise. A integração entre emergência, nefrologia, oftalmologia e atenção primária, além de ações de saúde pública, reduz morbidade e mortalidade. Em casos suspeitos, priorize estabilização e início do antídoto enquanto se confirmam exames laboratoriais.

Se você é profissional de saúde, mantenha protocolos atualizados no serviço e informe as autoridades de vigilância sanitária sobre casos suspeitos. Para a população, evite consumo de bebidas de procedência duvidosa e procure atendimento médico diante de sintomas neurológicos ou visuais após ingestão de álcool.

Referências selecionadas: WHO alert sobre metanol, CDC e revisão clínica disponível em MedlinePlus; recomenda-se consulta a guias locais e centros de intoxicação regionais para protocolos detalhados e disponibilidade de antídotos.

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