Manejo inicial da dor lombar aguda
Introdução
Você atende pacientes com dor lombar aguda com frequência? Sabia que a maioria dos casos melhora em semanas e que intervenções agressivas iniciais raramente são necessárias? Este texto direto ao ponto reúne orientações práticas baseadas em diretrizes nacionais e evidências para um manejo conservador eficaz.
Avaliação clínica e sinais de alerta
O primeiro passo no atendimento é uma anamnese detalhada e exame físico focado. Identificar sinais de gravidade (“red flags”) orienta a investigação e o encaminhamento precoce.
- Entrevista: início da dor, mecanismo, intensidade, fatores de melhora/piora, antecedentes oncológicos, febre, perda de peso, uso de imunossupressores e história traumática.
- Exame físico: inspeção, palpação, avaliação neurológica de membros inferiores, teste de elevação da perna estendida (Lasègue) e avaliação de marcha.
- Sinais de alerta: déficit neurológico progressivo, disfunção esfíncteriana (sugestivo de síndrome da cauda equina), febre persistente, história de câncer, perda de peso inexplicada e trauma significativo.
As diretrizes do Ministério da Saúde reforçam que a avaliação clínica deve guiar a necessidade de exames complementares e que a maior parte dos pacientes não precisa de imagem imediata (Linha de Cuidado – Ministério da Saúde).
Manejo conservador: educação, atividades e exercícios
Educação e manutenção das atividades
Explique ao paciente que a dor lombar aguda costuma ser autolimitada. Incentive a manutenção de atividades diárias adaptadas, retorno gradual ao trabalho e orientações posturais. A educação reduz medo-evitação e risco de cronicização.
Para casos que evoluem para dor persistente, integre abordagens descritas em práticas sobre dor crônica, promovendo autocuidado e reabilitação (prática clínica em dor crônica).
Exercícios terapêuticos
Programas de exercícios terapêuticos são centrais para alívio da dor e prevenção de recorrências. Recomende exercícios de fortalecimento do core, alongamento de isquiotibiais e mobilidade lombar, progressivos e adaptados ao nível de dor.
- Exercícios de ativação do transverso do abdome e multifidus.
- Treino de resistência e condicionamento geral (caminhada, hidroterapia quando indicada).
- Orientação para ergonomia ocupacional e ajustes no posto de trabalho.
Quando houver necessidade de reabilitação mais estruturada ou avaliação de cronificação, considere encaminhamento multidisciplinar conforme estudos acadêmicos (revisão da UFMG).
Medicação: anti-inflamatórios e restrição de opioides
Para controle sintomático inicial, prefira analgésicos não opioides e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), com atenção a contraindicações e duração mínima eficaz. O uso rotineiro de opioides não é recomendado; diretrizes e normativas nacionais orientam restrição e critérios rígidos para sua utilização.
A Portaria que regula a incorporação de opioides no SUS reforça a cautela no uso de opioides fracos e sua não indicação rotineira para dor lombar aguda (Portaria e Linha de Cuidado).
Abordagem biopsicossocial e prevenção de recorrência
Avalie fatores psicossociais (medo de movimento, depressão, estresse ocupacional) que influenciam a percepção da dor. Intervenções cognitivo-comportamentais e suporte psicológico aceleram recuperação em pacientes com indicadores de risco de cronicização.
Programas de reabilitação que combinam exercício, educação e intervenção psicossocial reduzem recorrência e incapacidade. Para pacientes idosos, integre estratégias de prevenção de quedas e fortalecimento global (prevenção de quedas em idosos).
Quando a dor persiste além de 6 semanas ou há deterioração funcional significativa, reavalie, ajuste o plano terapêutico e considere encaminhamento para especializada, incluindo fisioterapia intensiva, manejo da lombar crônica ou avaliação para procedimentos diagnósticos (lombar crônica: diagnóstico e terapia).
Sinais que exigem investigação urgente
- Déficit motor progressivo nos membros inferiores.
- Perda aguda de controle esfincteriano ou anúria.
- Suspeita de infecção ou compressão neoplásica (febre, história de câncer, perda de peso).
- Dor noturna incapacitante sem melhora com repouso.
Insights práticos
- Adote sempre um manejo conservador nas primeiras semanas: educação, manter atividade e exercícios terapêuticos.
- Use AINEs com cautela; evite opioides como primeira opção e documente claramente justificativas quando necessários.
- Reavalie em 2–6 semanas; se não houver melhora funcional significativa, investigue ou encaminhe para reabilitação multidisciplinar.
- Documente e rastreie fatores psicossociais; intervenções precoces podem impedir cronificação. Para integrar práticas de atenção primária ao manejo multidisciplinar, consulte referências técnicas e revisões nacionais (revisão UFMG).
- Considere recursos locais e linhas de cuidado em saúde para alinhamento com políticas e fluxos de encaminhamento (Linha de Cuidado – Ministério da Saúde).
Para leitura complementar sobre manejo de dor lombar em contexto crônico e estratégias terapêuticas integradas, veja também conteúdos relacionados do nosso blog: dor crônica: prática clínica, lombar crônica: diagnóstico e terapia e prevenção de quedas em idosos.