Microbioma e doenças inflamatórias intestinais: terapias emergentes

Microbioma e doenças inflamatórias intestinais: terapias emergentes

Microbioma intestinal e doenças inflamatórias intestinais

As doenças inflamatórias intestinais (DII), principalmente a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa, decorrem de uma interação complexa entre fatores genéticos, resposta imune e alterações na microbiota intestinal. A perda de diversidade microbiana e a disbiose podem comprometer a barreira intestinal, alterar a produção de metabólitos (como ácidos graxos de cadeia curta) e perpetuar a inflamação mucosa.

Doença de Crohn e retocolite ulcerativa: diferenças relevantes

Embora compartilhem mecanismos inflamatórios, a Doença de Crohn costuma apresentar lesões transmurais e acometimento de qualquer segmento gastrointestinal, enquanto a Retocolite Ulcerativa afeta predominantemente a mucosa do cólon e reto. Essas diferenças clínicas influenciam a resposta às intervenções que modulam o microbioma, como probióticos e transplante de microbiota fecal.

Terapias baseadas no microbioma: probióticos, prebióticos, antibióticos e transplante

As estratégias para modular a microbiota visam restaurar o equilíbrio microbiano e reduzir a resposta pró-inflamatória. Entre as abordagens com evidência e limitações conhecidas estão:

  • Probióticos: cepas específicas podem beneficiar pacientes com Retocolite Ulcerativa em combinação com ácido 5-ASA e na prevenção de pouchite pós-cirúrgica. A eficácia na Doença de Crohn é inconsistente e não há indicação para uso rotineiro na doença ativa.
  • Prebióticos: fibras e substratos fermentáveis favorecem o crescimento de bactérias benéficas, mas estudos em DII ainda não sustentam recomendações clínicas firmes para manutenção da remissão.
  • Antibióticos: têm papel pontual — por exemplo, ciprofloxacina e metronidazol são úteis no manejo de pouchite e em complicações infecciosas; seu uso na Doença de Crohn é restrito a contextos específicos.
  • Transplante de microbiota fecal (TMF): é uma área promissora, com resultados variáveis em estudos controlados. Ainda não há recomendação universal para TMF em DII, sendo necessário selecionar bem os pacientes em protocolos clínicos.

Riscos e monitoramento

Intervenções que alteram o ecossistema intestinal podem transferir patógenos ou genes de resistência; por isso, protocolos de triagem e acompanhamento clínico são essenciais. A integração com abordagens nutricionais e farmacológicas mantém-se central no manejo.

Evidências, diretrizes e integração com outras especialidades

Diretrizes recentes enfatizam cautela e individualização. As recomendações da ESPEN sobre cuidado nutricional em DII destacam a modulação da microbiota como componente do manejo, sem, contudo, estabelecer protocolos uniformes; consulte o resumo disponível em Doença Inflamatória Intestinal – Diretrizes ESPEN. Consensos nacionais, como os compilados pela GEDIIB, orientam a prática clínica segundo o nível de evidência atual. Revisões clínicas e materiais de referência podem ser consultados em portais especializados, por exemplo, na Endoclin.

Para ampliar a compreensão sobre o impacto do microbioma em doenças autoimunes e implicações terapêuticas, recomendamos a leitura complementar em artigos do nosso blog: Microbioma intestinal e doenças autoimunes, que discute mecanismos imunometabólicos; Microbioma intestinal e imunoterapia em oncologia, que aborda a interação entre microbiota e resposta a tratamentos sistêmicos; e Microbiota intestinal e prevenção cardiovascular, para entender efeitos sistêmicos dos metabólitos microbianos.

Como integrar intervenções na prática clínica

A decisão sobre incluir probióticos, prebióticos, antibióticos ou protocolos experimentais como o TMF deve considerar: fenótipo da doença, gravidade, terapia imunossupressora concomitante, risco infeccioso e preferência do paciente. O acompanhamento multidisciplinar (gastroenterologista, nutricionista, infectologista e, quando indicado, cirurgião) otimiza segurança e eficácia.

Recomendações práticas

  • Utilize probióticos com evidência em Retocolite Ulcerativa e em prevenção de pouchite; evite uso empírico na Doença de Crohn ativa.
  • Reserve antibióticos para indicações específicas (pouchite, abscessos, complicações infecciosas) e sempre com criteriosa avaliação de risco-benefício.
  • Considere o transplante de microbiota fecal apenas em protocolos ou centros com experiência, com triagem rigorosa do doador.
  • Empregue intervenções nutricionais para modular o microbioma (dietas ricas em fibras fermentáveis quando toleradas) e monitore sintomas, marcadores inflamatórios e uso de medicamentos.

Abordagem integrada e recomendações finais

As terapias baseadas no microbioma representam uma fronteira terapêutica promissora nas DII, mas ainda exigem evidências adicionais para uso rotineiro. Profissionais de saúde devem combinar conhecimentos sobre imunomodulação, nutrição e microbiologia clínica ao planejar intervenções. Encaminhar pacientes para centros de pesquisa ou protocolos clínicos pode ser apropriado quando se considera TMF ou intervenções experimentais.

Para profissionais que desejam aprofundar práticas relacionadas ao monitoramento e à tomada de decisão, consulte também conteúdos do nosso blog sobre técnicas diagnósticas e biomarcadores que podem apoiar o seguimento clínico e a personalização terapêutica.

Este texto tem finalidade informativa e não substitui avaliação médica individualizada. Discuta opções terapêuticas com seu especialista.

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