Monitoramento da polifarmácia em idosos na atenção primária
Introdução
Você revê semanalmente a lista de medicamentos dos seus pacientes idosos com doenças crônicas? A polifarmácia (uso concomitante de ≥5 medicamentos) é comum na atenção primária e aumenta risco de eventos adversos, interações e internações. Em estudo realizado em Marau/RS, 52% dos idosos atendidos na atenção primária apresentavam polifarmácia, com maior frequência em mulheres e em pessoas ≥80 anos (fonte local disponível).
Prevalência, fatores associados e implicações clínicas
Nos cuidados primários, a polifarmácia costuma estar associada à multimorbidade — especialmente hipertensão, diabetes e dislipidemia — e a determinantes sociodemográficos como escolaridade e idade avançada. O envelhecimento altera farmacocinética e farmacodinâmica, ampliando a vulnerabilidade a interações medicamentosas e reações adversas.
Pontos práticos
- Alta prevalência em idosos com múltiplas comorbidades; dados locais (Marau/RS) mostram prevalência acima de 50% (rd.uffs.edu.br).
- Medicamentos potencialmente inadequados (critérios de Beers) são comuns e devem ser identificados.
- Risco aumentado de quedas, delírio, hipoglicemia, hipercalemia, e internações.
Riscos farmacológicos e triagem na atenção primária
Além das interações, a prescrição excessiva pode levar a polifarmácia preventiva inapropriada. Na prática clínica, avalie:
- Indicação atual para cada fármaco;
- Benefício esperado vs. tempo até benefício (particularmente relevante em cuidados paliativos e fragilidade);
- Função renal e hepática que impactam doses e acúmulo;
- Duplicidade terapêutica e medicamentos com alto risco em idosos (benzodiazepínicos, anticolinérgicos, antipsicóticos quando não claramente indicados).
Diretrizes nacionais e protocolos clínicos ajudam a orientar decisões de ajuste e descontinuação (PCDT – Ministério da Saúde).
Estratégias práticas de monitoramento e revisão terapêutica
Atenção primária tem papel central na revisão periódica da medicação. Um fluxo pragmático pode incluir:
- Revisão inicial (consulta): listar todos os medicamentos prescritos, OTC e fitoterápicos; verificar adesão e sintomas sugestivos de eventos adversos.
- Avaliação de risco: usar checklists para identificar fármacos de alto risco e potenciais interações.
- Desprescrição planejada: priorizar medicamentos com baixo benefício imediato, alto risco ou duplicidade. Documentar objetivo e plano de monitorização.
- Follow-up: agendar retorno telefônico ou presencial em 1–4 semanas após mudança de esquema para avaliar efeitos e adesão.
Checklist rápido para consulta
- Confirme lista completa de fármacos com paciente/cuidador.
- Identifique medicamentos sem indicação atual ou com duplicidade.
- Avalie função renal, hepática e sinais de efeitos adversos.
- Priorize desprescrição de sedativos e anticolinérgicos quando possível.
- Registre metas clínicas (pressão, glicemia, lipídios) e horário de avaliação de desfecho.
Ferramentas, fluxos e integração com equipe
Ferramentas simples na atenção primária (listas de verificação, protocolos locais e integração com farmacêuticos clínicos) aumentam segurança. Recursos do blog podem ser usados para estruturar fluxos: por exemplo, orientações sobre avaliação e desprescrição, abordagem para prevenção de quedas relacionada à polifarmácia e estratégias de adesão terapêutica e educação. Para prescrições seguras de medicamentos de risco, consulte também o material sobre prescrição segura.
Protocolos locais e capacitação (educação continuada) promovem prevenção quaternária e integralidade do cuidado.
Implementação prática: modelo de consulta em APS
Um modelo de 15–20 minutos para revisão de polifarmácia:
- Receber lista de medicamentos e checar adesão (5 min).
- Avaliar indicações e riscos clinicamente relevantes (5 min).
- Negociar plano de desprescrição ou ajuste com paciente/cuidador e documentar (5 min).
- Agendar follow-up e comunicação com equipe (1–2 min).
Fechamento e recomendações práticas
A gestão da polifarmácia em idosos com doenças crônicas exige rotina, ferramentas e trabalho em equipe. Integre revisão terapêutica sistemática nas consultas de atenção primária, utilize protocolos e envolva farmacêuticos quando possível. Consulte evidências e diretrizes para apoiar decisões (ex.: PCDT do Ministério da Saúde) e utilize estudos locais para contextualizar prevalência e fatores de risco (prevalência em Marau/RS e revisão de literatura clínica sobre prescrição em idosos RMMG).
Pequenas mudanças — checagem de lista em cada consulta, priorizar a desprescrição de fármacos de alto risco e educação contínua — reduzem eventos adversos e melhoram a qualidade de vida dos pacientes. Para implementar hoje: adote um checklist de revisão, documente metas compartilhadas com o idoso e agende retorno de monitorização.