Polifarmácia em idosos: avaliação e desprescrição segura

Polifarmácia em idosos: avaliação e desprescrição segura

Introdução

Quantos medicamentos são demais numa pessoa com 80 anos? A polifarmácia é frequente em idosos com multimorbidade e está associada a maior risco de eventos adversos, quedas e hospitalizações. Estudos observacionais mostram que ~30% dos ≥65 anos usam cinco ou mais medicamentos, o que exige uma abordagem sistemática para desprescrição e monitoramento das interações medicamentosas. Fontes nacionais e revisões práticas reforçam a necessidade de processos padronizados e partilha de decisões com o paciente.

Avaliação inicial: triagem prática antes de qualquer intervenção

1. Reconciliação e levantamento completo

Reunir lista de medicamentos (prescrição, OTC, fitoterápicos, suplementos) e confirmar adesão. Verificar indicações, duração, beneficiários esperados e quem indicou cada fármaco. Use linguagem compreensível para o idoso e o cuidador.

2. Avaliar riscos e prioridades clínicas

  • Identificar medicamentos potencialmente inapropiados (benzodiazepínicos, sedativos, anticolinérgicos, etc.).
  • Considerar expectativa de vida, fragilidade, função renal/hepática e objetivos de cuidado.
  • Determinar prioridades: reduzir risco de quedas, evitar hipoglicemia, reduzir polimedicamento que prejudica autonomia.

Diretrizes e revisões técnicas podem orientar critérios explícitos; recomenda-se integrar listas como STOPP/START e consensos locais para apoiar a decisão clínica. Para contexto epidemiológico e revisões sobre prevalência e abordagem, confira levantamento disponível em fontes acadêmicas confiáveis.

Estratégia de desprescrição: processo em etapas

1. Planejamento compartilhado

Explique ao paciente/cuidadores o objetivo (reduzir danos, simplificar regimes), avaliando preferências e preocupações. A comunicação clara melhora adesão e reduz ansiedade frente à retirada de fármacos.

2. Priorizar medicamentos a serem desprescritos

  • Comece por fármacos sem indicação atual, de benefício incerto ou com alto perfil de eventos adversos.
  • Priorize medicamentos que aumentam risco imediato (ex.: hipoglicemiantes em idosos frágeis) ou contribuem para quedas.
  • Documente racional clínico e plano de retirada.

3. Como retirar: redução gradual e planos de contingência

Nem toda descontinuação é abrupta. Para benzodiazepínicos, antidepressivos ou opioides, programe tapering; para antiagregantes ou anticoagulantes, avalie risco trombótico vs. hemorrágico e consulte guidelines. Defina sinais de alerta e contato rápido para reavaliação.

Monitoramento e gerenciamento de interações

1. Avaliar interações medicamentosas e farmacocinética

Avalie interações farmacodinâmicas (ex.: soma de efeitos sedativos) e farmacocinéticas (ajustes em insuficiência renal/hepática). Considere farmacogenética quando disponível para anticoagulantes e antidepressivos, pois pode orientar ajustes e reduzir eventos adversos.

2. Plano de seguimento

  • Agende revisão precoce (7–14 dias) após alteração importante e nova avaliação em 30–90 dias conforme risco.
  • Monitore sinais clínicos relevantes (queda, confusão, tontura, sono, glicemia, função renal) e parâmetros laboratoriais quando indicados.
  • Registre alterações no prontuário e comunique aos outros profissionais envolvidos (farmacêutico, enfermagem, outros especialistas).

Ferramentas e colaboração multidisciplinar

Uma estratégia segura envolve equipe: médico, farmacêutico clínico, enfermeiro e cuidador. Utilizar checklists locais, avaliações de fragilidade e ferramentas eletrônicas reduz erros. Para integrar iniciativas de adesão e educação, recursos em comunicação clínica e educação terapêutica são complementares.

Exemplos práticos e prioridades de intervenção

  • Paciente idoso com quedas recorrentes e sedativos: priorizar redução de benzodiazepínicos; revisar antidepressivos com efeito anticolinérgico.
  • Idoso com polifarmácia e função renal reduzida: ajustar doses de renais claros (ex.: gabapentina, antibióticos) e revisar duplicidades.
  • Paciente com polifarmácia cardiovascular: avaliar necessidade de terapias preventivas em função da expectativa de vida e risco de sangramento.

Recursos e leituras recomendadas

Para referência sobre prevalência e revisões conceituais, consulte levantamento académico disponível em Estudo Geral (estudogeral.uc.pt). Diretrizes e posicionamentos de sociedades geriátricas detalham princípios práticos para desprescrição (SBGG-SP), que reforçam a importância da abordagem colaborativa. Revisões institucionais complementares podem ser consultadas nas mesmas fontes para aprofundamento.

Aplicação na prática clínica: articulação com conteúdo do blog

Integre a avaliação de polifarmácia com intervenções para prevenção de quedas e programas de adesão terapêutica. Use protocolos locais de desprescrição (ex.: polifarmácia: avaliação e desprescrição) e, quando disponível, incorpore avaliação de farmacogenômica para personalizar decisões em fármacos de alto risco.

Fechamento e orientações práticas

A desprescrição em idosos é um processo contínuo, baseado em avaliação clínica, comunicação e monitorização estruturada. Priorize intervenções que reduzam risco imediato (quedas, hipoglicemia, eventos anticolinérgicos), planeje retirada com taper quando necessário e garanta seguimento precoce. A colaboração multidisciplinar e a educação do paciente são determinantes para o sucesso. Comece pelas medicações sem indicação clara e construa um plano documentado e compartilhado com a equipa e com o doente.

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