Principais causas de síncope no consultório e condutas iniciais
A síncope — perda transitória da consciência por hipoperfusão cerebral — é um evento frequente em ambulatórios e emergências. A identificação rápida da causa e a estratificação de risco permitem decisões seguras sobre investigação, tratamento e encaminhamento. Para uma definição concisa, consulte a página sobre síncope da Rede D’Or.
Síncope: definição e epidemiologia
Síncope é perda súbita, breve e autolimitada da consciência com recuperação completa. Estima‑se que cerca de 20% da população terá pelo menos um episódio na vida, com maior prevalência em extremos de idade. Mais detalhes sobre distribuição e causas encontram‑se em revisões clínicas como as publicadas no Sanar.
Principais mecanismos causais
Síncope vasovagal (reflexa)
É a forma mais comum e geralmente benigna. Resulta de reflexos autonômicos que levam a vasodilatação e/ou bradicardia. Desencadeantes típicos: dor intensa, emoção, jejum, permanecer em pé por longo tempo ou ambientes quentes. Os pródromos (tontura, náusea, sudorese, visão turva) orientam para esse diagnóstico.
Hipotensão ortostática
Ocorre por queda pressórica importante ao assumir a posição ereta — por desidratação, uso de anti‑hipertensivos, disautonomias ou prolongada imobilização. Em idosos, a combinação de polifarmácia e redução da reserva autonômica aumenta o risco. Uma revisão prática sobre causas e manejo pode ser consultada no ClinSpace.
Síncope de origem cardíaca
Associada a maior risco de morbimortalidade. Inclui arritmias (taqui ou bradiarritmias), cardiomiopatias e obstruções ao fluxo (por exemplo, estenose aórtica). História de doença cardíaca, falta de pródromos e ocorrência durante esforço são sinais de alerta.
Abordagem diagnóstica inicial
A avaliação deve ser objetiva e baseada em três pilares: anamnese dirigida, exame físico orientado e ECG. Esse fluxo reduz o número de investigações desnecessárias e permite identificar pacientes que exigem investigação urgente.
Anamnese
- Descrever o episódio: posição, atividade, tempo de consciência perdida, presença de pródromos, palidez/rumor cardíaco;
- Fatores precipitantes: dor, emoção, calor, esforço, mudança postural;
- História de cardiopatia, síncope prévia, história familiar de morte súbita;
- Lista de medicamentos (diuréticos, vasodilatadores, betabloqueadores, antidepressivos, lítio etc.);
- Lesões por queda e sequência pós‑episódio (confusão prolongada sugere etiologia neurológica/tardia).
Exame físico
- Medir pressão arterial e frequência cardíaca em decúbito e após 1 e 3 minutos em pé para avaliar hipotensão ortostática;
- Ausculta cardíaca atentando para sopros sugestivos de estenose aórtica ou insuficiência valvar;
- Avaliação neurológica focal quando indicado;
- Avaliar sinais de desidratação e lesões de queda.
ECG e exames complementares
O ECG é obrigatório no atendimento inicial: procure por bradiarritmias, pré‑excitação, bloqueios de ramo, sinais de isquemia ou alteração de repolarização. Em suspeita de arritmia intermitente, considere monitorização ambulatorial (Holter) ou monitor externo estendido. Para síncope sugestiva de etiologia vasovagal, o teste de inclinação (tilt test) pode ser útil em centros especializados; ecocardiograma transtorácico investiga doença estrutural.
Quando houver dor torácica associada ou suspeita de origem cardíaca, use protocolos de triagem e estratificação; para abordagem inicial de dor torácica e decisões de encaminhamento, consulte o material sobre avaliação de dor torácica.
Gestão inicial e estratificação de risco
Pacientes com suspeita de síncope cardíaca, sinais de instabilidade hemodinâmica, anormalidade de ECG ou lesões graves devem ser encaminhados para avaliação cardiológica urgente ou emergência. Em casos de síncope vasovagal sem fatores de risco, orientações simples — hidratação, evitar gatilhos, técnicas de contrapressão — e acompanhamento ambulatorial podem ser suficientes.
Em idosos, integre a avaliação de risco de quedas e fragilidade; programas de avaliação e prevenção de quedas ajudam a reduzir eventos recorrentes. Para casos de dúvida diagnóstica persistente, direcione para investigação cardiológica com monitorização prolongada.
Orientações práticas para o clínico
- Documente com precisão a história e os sinais vitais posturais;
- Solicite ECG em todos os episódios de síncope;
- Identifique sinais de alto risco (doença cardíaca conhecida, ECG anormal, síncope durante exercício); encamine com prioridade;
- Em suspeita de síncope vasovagal, oriente medidas não farmacológicas e agende seguimento;
- Considere Holter ou monitor externo se arritmia intermitente for suspeita;
- Revise medicações que possam precipitar hipotensão ortostática e ajuste quando possível.
Para uma leitura complementar sobre causas e abordagens de síncope no consultório, veja a compilação interna sobre as principais causas de síncope e integre essa informação ao raciocínio clínico do seu serviço.
Fontes externas de referência e suporte diagnóstico: Sanar, Rede D’Or e ClinSpace.
Implementar uma avaliação padronizada no consultório aumenta a detecção de causas potencialmente graves (arritmia, cardiopatia estrutural) e evita exames excessivos em casos benignos (síncope vasovagal ou hipotensão ortostática decorrente de medicação ou desidratação).