Rastreamento do câncer de pâncreas em indivíduos de alto risco

Rastreamento do câncer de pâncreas em indivíduos de alto risco

O câncer de pâncreas mantém prognóstico reservado quando diagnosticado tardiamente; por isso, em grupos com risco aumentado por história familiar ou mutações genéticas, o rastreamento direcionado pode permitir detecção em fases tratáveis. Este texto resume as recomendações atuais para profissionais de saúde e orientações práticas para pacientes com predisposição hereditária.

Fatores de risco e quando considerar rastreamento

Identificar quem deve ser rastreado é o primeiro passo. Indivíduos com risco aumentado incluem:

  • Pessoas com duas ou mais parentes de primeiro grau com câncer de pâncreas.
  • Portadores de mutações germinativas conhecidas: BRCA1, BRCA2, PALB2, genes da síndrome de Lynch (MLH1, MSH2, MSH6, PMS2, EPCAM) ou STK11 (Peutz‑Jeghers).
  • História de pancreatite hereditária ou pancreatite crônica de longa data.

Fatores não hereditários que aumentam o risco — e que devem ser abordados na avaliação clínica — incluem tabagismo, obesidade e diabetes mellitus de início recente. Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam que a sobrevida global ainda é baixa, o que reforça a necessidade de estratégias de detecção precoce em grupos selecionados (INCA).

Quem rastrear e quando iniciar

Para indivíduos com risco elevado por geneticidade, recomenda‑se iniciar o rastreamento:

  • Aos 50 anos de idade, ou 10 anos antes da idade do diagnóstico do parente mais jovem afetado, o que ocorrer primeiro.
  • Em casos de síndrome de Peutz‑Jeghers ou pancreatite hereditária, considerar início mais precoce conforme a avaliação multidisciplinar.

Para pessoas com risco médio ou sem história familiar significativa, não há evidência atual que justifique rastreio populacional rotineiro.

Modalidades recomendadas

As duas modalidades mais empregadas em programas de vigilância são:

Ressonância magnética (RM) e colangiopancreatografia por ressonância (MRCP)

A RM é não ionizante e útil para detectar lesões císticas e alterações do ducto pancreático. É preferida quando se deseja evitar sedação ou procedimentos invasivos, e deve fazer parte do protocolo anual ou semestral em programas de alto risco (Endoscopia Terapêutica).

Ultrassonografia endoscópica (USE)

A USE tem maior sensibilidade para lesões pequenas e nódulos sólidos e pode ser indicada quando a RM mostra achados suspeitos ou em centros com expertise. Em alguns programas, a combinação RM + USE melhora a detecção.

Ferramentas emergentes, como a biópsia líquida por ctDNA, estão sendo estudadas para detecção precoce; elas podem complementar a imagem no futuro, mas ainda não substituem RM ou USE em protocolos estabelecidos (biópsia líquida (ctDNA)).

Aconselhamento genético e testes recomendados

Antes de iniciar rastreamento, o aconselhamento genético é essencial. Testes que identificam mutações em BRCA1/BRCA2, PALB2, genes da síndrome de Lynch e STK11 orientam o risco individual e a estratégia de vigilância. O aconselhamento também aborda implicações familiares e encaminhamento dos contatos de risco (aconselhamento genético e rastreamento hereditário).

Desafios práticos e riscos do rastreamento

Os principais desafios incluem:

  • Alta frequência de lesões císticas assintomáticas que podem gerar condutas divergentes.
  • Possibilidade de falso‑positivos que levam a biópsias ou cirurgias desnecessárias.
  • Falta de prova definitiva de que programas de rastreamento reduzem mortalidade em larga escala; por isso, o rastreamento deve ocorrer em centros experientes e, sempre que possível, em contexto de estudo ou registro.

Comparações com outras áreas de detecção precoce mostram que a integração de imagem, testes moleculares e inteligência artificial pode aumentar acurácia — veja exemplos de aplicações em detecção precoce de outras neoplasias (detecção precoce com dermatoscópio e IA).

Como estruturar um programa de vigilância

Recomendações práticas para equipes clínicas:

  • Estruturar fluxo com avaliação inicial por genética, avaliação clínica (tabagismo, IMC, história de diabetes) e definição de protocolo de imagem (RM anual, USE quando indicado).
  • Registrar achados em banco de dados e discutir casos suspeitos em reuniões multidisciplinares (radiologia, endoscopia, cirurgia, oncologia).
  • Oferecer suporte psicológico e educação sobre modificação de risco (cessação tabágica, controle de peso, manejo do diabetes).

Para referência sobre programas de vigilância e tecnologia de detecção, consulte também recursos nacionais e internacionais que discutem estratégias e evidências (World Pancreatic Cancer Coalition; Associação Brasileira de Pacientes com Câncer).

Rastreamento do câncer de pâncreas: recomendações práticas para o clínico

Resumindo, rastrear indivíduos de alto risco exige:

  • Avaliação prévia por aconselhamento genético e teste molecular quando indicado.
  • Protocolos baseados em RM com uso complementar de USE e avaliação multidisciplinar para condutas sobre achados indeterminados.
  • Enfoque na modificação de fatores de risco (tabagismo, obesidade) e acompanhamento regular para pacientes e familiares.

Para equipes que implementam programas de rastreamento, recomendamos revisar guias institucionais, estabelecer registro de casos e considerar participação em estudos nacionais. Recursos adicionais sobre biópsia líquida e integração de novas tecnologias estão disponíveis em nossos artigos sobre ctDNA e rastreio genético e aconselhamento.

Se desejar, posso preparar um fluxograma prático para atendimento em atenção primária ou um modelo de carta para familiares que devem ser encaminhados para aconselhamento genético.

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