Reabilitação cardíaca na atenção básica: princípios e prática
Introdução
Como ampliar o acesso à reabilitação cardíaca na atenção primária e melhorar resultados clínicos? A reabilitação cardíaca baseada em exercícios físicos, aliada a educação em saúde e controle de fatores de risco, reduz mortalidade e internações quando implementada adequadamente. Este texto sintetiza princípios, indicações, prescrição de exercícios e estratégias de monitoramento cardíaco aplicáveis na atenção básica, com foco em viabilidade e segurança.
1. Princípios e indicações na atenção básica
Objetivos centrais: aumentar capacidade funcional, reduzir sintomas, estabilizar fatores de risco e promover adesão a hábitos saudáveis. Na atenção básica, a reabilitação deve priorizar pacientes com maior potencial de ganho funcional e menor necessidade de monitorização invasiva.
Indicações comuns
- Pós-infarto agudo do miocárdio estável (após liberação cardiológica).
- Pós-revascularização miocárdica (angioplastia ou cirurgia cardíaca) e pós-valvopatia operada.
- Insuficiência cardíaca crônica estável com dispneia limitante — com cuidados de triagem.
- Angina estável, arritmias controladas e pacientes com alto risco cardiovascular que necessitam de recondicionamento.
Contraindicações relativas e sinais de alerta: angina instável, IC descompensada, arritmias não controladas, trombose aguda, febre, infecção ativa. Diretrizes nacionais, como as da Sociedade Brasileira de Cardiologia, detalham critérios de triagem e estratificação de risco (veja recomendações locais para implementação).
Referência prática: Diretriz da SBC orienta protocolos e fluxos para programas locais (consulte a diretriz completa em portal.cardiol.br).
2. Componentes essenciais do programa
Um programa completo na atenção básica deve integrar quatro eixos:
- Exercícios físicos (aeróbicos, de resistência e alongamento).
- Educação em saúde para controle de fatores de risco e autocuidado.
- Intervenções para redução de fatores de risco (tabagismo, dislipidemia, hipertensão, diabetes, obesidade).
- Suporte psicossocial e estratégias para adesão.
Para operacionalizar localmente, a atenção básica pode usar protocolos e ferramentas de prescrição integradas ao fluxo ambulatorial; um guia prático para reabilitação cardiovascular ambulatorial traz exemplos de planejamento e registro.
Prescrição de exercícios: tipos, intensidade e progressão
- Exercícios aeróbicos: caminhada, bicicleta ergométrica, esteira. Iniciar com 10–20 minutos, 3 vezes/semana, progredindo para 30–60 minutos, 3–5 vezes/semana.
- Treino de resistência: 1–3 séries de 8–15 repetições, 2–3 vezes/semana, cargas moderadas adaptadas ao paciente.
- Alongamento e mobilidade: integrar ao final de cada sessão.
- Intensidade: orientar por Frequência Cardíaca alvo (%FC reserva) ou Escala de Borg (RPE 11–14 para iniciantes/condicionados moderados). Ajustar para pacientes em uso de betabloqueador.
Documente metas funcionais (p. ex. distância de caminhada, tolerância a atividade diária) e objetivos cardiometabólicos (PA, lipídios, glicemia). A nutrição e a cessação do tabagismo também devem ser abordadas em conjunto (veja integrações práticas em nutrição e risco cardiovascular).
3. Monitoramento e segurança na atenção básica
Monitorização básica a ser realizada em cada sessão inclui sinais vitais, sintomas (dor torácica, dispneia, tontura), e avaliação da percepção de esforço. Para pacientes com risco intermediário/alto, considerar ECG pré-participação e monitorização momentânea durante exercícios.
Ferramentas e tecnologia
- Uso de wearables para monitorização domiciliar de frequência cardíaca e atividades — integrar dados ao prontuário quando possível (veja nosso artigo sobre wearables e prontuário eletrônico).
- Programas híbridos e tele-reabilitação: videochamadas, apps e plataformas de monitorização permitem ampliar alcance.
- Estratégias de engajamento: estudos recentes exploram gamificação para melhorar adesão e monitoramento, como exemplificado por iniciativas de pesquisa (p. ex. MedBike) que combinam telemetria com elementos lúdicos.
Evidência: revisões sistemáticas mostram redução de mortalidade e reinternações com reabilitação baseada em exercícios, especialmente em curto e longo prazo; efeitos em médio prazo são menos conclusivos, ressaltando a importância da adesão continuada (revisão Cochrane: cochrane.org).
4. Implementação prática e desafios
Barreiras frequentes: falta de recursos humanos e físicos, baixa taxa de encaminhamento, adesão insuficiente, e lacunas de capacitação. Estratégias eficazes na atenção básica:
- Capacitação multiprofissional (enfermeiro, fisioterapeuta, educador físico, nutricionista) e protocolos locais padronizados.
- Modelos grupais e sessões comunitárias para otimizar recursos.
- Fluxos de encaminhamento claros entre hospital e unidade básica; uso de checklists de triagem.
- Intervenções para adesão: educação estruturada, contato telefônico e ferramentas digitais (ver materiais sobre educação e adesão terapêutica). Também avalie estratégias descritas em artigos sobre adesão em doenças crônicas.
Para detalhar o planejamento e prescrição em nível ambulatorial, veja nosso guia prático sobre integração e prescrição.
Fechamento e orientações práticas
Na atenção básica, a reabilitação cardíaca é viável e benéfica quando estruturada com protocolos claros, capacitação da equipe e uso estratégico de tecnologias como monitoramento cardíaco por wearables e ferramentas de engajamento. Priorize triagem segura, prescrição individualizada de exercícios físicos, educação continuada e integração com ações de prevenção cardiovascular. Diretrizes nacionais e revisões sistemáticas (SBC e Cochrane) devem guiar fluxos locais; inovações em gamificação podem aumentar adesão e monitorização remota (ver exemplos em arXiv sobre MedBike).
Recursos úteis: diretriz da SBC (portal.cardiol.br), revisão Cochrane sobre reabilitação baseada em exercícios (cochrane.org) e estudo sobre gamificação e monitoramento (arxiv.org).