O que é sarcoidose cardíaca: sinais, diagnóstico por imagem e tratamento

A sarcoidose cardíaca é a manifestação cardíaca da sarcoidose sistêmica, caracterizada pela formação de granulomas não caseosos que podem infiltrar o miocárdio, o septo interventricular e o sistema de condução. Nem sempre provoca sintomas, mas pode levar a arritmias ventriculares, bloqueios de condução, insuficiência cardíaca ou morte súbita. Este texto descreve, de forma objetiva e acessível para pacientes e profissionais de saúde, os sinais clínicos, os métodos de diagnóstico por imagem mais utilizados e as opções terapêuticas atuais.

O que é sarcoidose cardíaca

A sarcoidose cardíaca resulta de uma resposta granulomatosa que afeta estruturas cardíacas diversas. A causa exata é desconhecida, envolvendo predisposição genética e fatores ambientais que desencadeiam uma resposta imune disfuncional. Pode ocorrer isoladamente ou como parte de uma sarcoidose sistêmica com acometimento pulmonar, cutâneo, ocular ou linfonodal. Reconhecer o envolvimento cardíaco precocemente é essencial para reduzir risco de complicações.

Fatores de risco e quadro epidemiológico

O envolvimento cardíaco pode surgir em qualquer idade, com maior frequência entre 20 e 60 anos. Pacientes com sarcoidose sistêmica conhecida, manifestações cutâneas ou oculares e histórico familiar de doenças granulomatosas têm maior probabilidade de apresentar acometimento cardíaco. A gravidade clínica varia muito: alguns pacientes permanecem assintomáticos, outros evoluem com arritmias ou insuficiência cardíaca progressiva.

Sinais e sintomas que levantam suspeita

Os sinais dependem das áreas afetadas. Os mais comuns que devem alertar o clínico ou o paciente incluem:

  • Palpitações, tontura ou síncope: sugerindo arritmias supraventriculares ou arritmias ventriculares;
  • Bloqueio atrioventricular de novo ou progressivo, detectado no ECG;
  • Dispneia aos esforços, fadiga e edema periférico: sinais de insuficiência cardíaca;
  • Dor torácica atípica sem evidência de isquemia coronariana.

Em pacientes com sarcoidose conhecida, qualquer alteração no ECG ou sintomas cardíacos exigem avaliação direcionada e monitorização.

Diagnóstico por imagem: ressonância magnética cardíaca (RMC) e PET-CT

O diagnóstico combina avaliação clínica, exames complementares e, quando necessário, confirmação histológica. As imagens são centrais para estratificação de risco e decisão terapêutica.

Ressonância magnética cardíaca (RMC)

A RMC é a técnica de escolha para detectar inflamação ativa, fibrose e necrose. O realce tardio por gadolínio identifica áreas de fibrose ou cicatriz, enquanto sequências com edema detectam inflamação ativa. Além disso, a RMC permite avaliar fração de ejeção, volumes ventriculares e localização das lesões, úteis para planejar seguimento e intervenção.

PET-CT com FDG

O PET-CT com 18F‑FDG é valioso para localizar atividade inflamatória metabólica. A preparação dietética adequada reduz captação fisiológica, aumentando a sensibilidade para detectar focos inflamatórios. O PET-CT é especialmente útil para monitorar resposta à imunossupressão e identificar áreas candidatas à biópsia.

Biópsia endomiocárdica

A biópsia endomiocárdica confirma o diagnóstico quando é necessária evidência histológica, mas sua sensibilidade é limitada pela distribuição focal da doença. A decisão de biópsia deve ser individualizada e, muitas vezes, orientada por achados de imagem que identifiquem locais de maior probabilidade de amostragem positiva.

Exames complementares essenciais

  • ECG e monitorização ambulatorial (Holter) para detecção de bloqueios e arritmias;
  • Ecocardiografia para avaliação da função ventricular e sinais de insuficiência cardíaca;
  • Marcadores sanguíneos como NT-proBNP e troponina para acompanhar lesão miocárdica e sobrecarga ventricular;
  • Avaliação multicisciplinar envolvendo cardiologia, pneumologia e reumatologia/imunologia.

Diagnóstico diferencial

É necessário distinguir sarcoidose cardíaca de miocardites virais, cardiomiopatias infiltrativas (amiloidose, hemocromatose) e cardiopatia isquêmica. A combinação de história clínica, imagem e, quando indicada, exames histológicos permite definir o diagnóstico e direcionar o tratamento.

Tratamento e manejo

O manejo é individualizado e inclui terapia imunossupressora, tratamento específico das arritmias e da insuficiência cardíaca, além de uso de dispositivos quando indicado.

Terapia imunossupressora: corticoterapia

A corticoterapia sistêmica costuma ser a base inicial para controlar a inflamação (corticoterapia). Prednisona em doses iniciais ajustadas à gravidade é comum, seguida de desmame até a menor dose eficaz. Em caso de resposta insuficiente ou efeitos adversos, associam-se imunossupressores como azatioprina, metotrexato, micofenolato de mofetila ou hidroxicloroquina. Em casos refratários, terapias biológicas (por exemplo, anti‑TNF) podem ser consideradas em centros especializados.

Tratamento de arritmias e dispositivos (marcapasso, ICD)

Arritmias ventriculares podem exigir antiarrítmicos, ablação em casos selecionados ou implante de desfibrilador (ICD) quando há alto risco de morte súbita. Bloqueios atrioventriculares sintomáticos ou progressivos podem requerer marcapasso definitivo. A indicação de ressincronização (CRT) segue critérios clássicos em pacientes com dissincronia e disfunção ventricular.

Insuficiência cardíaca

O tratamento da insuficiência cardíaca inclui diuréticos, inibidores do sistema renina‑angiotensina (ou ARNI), betabloqueadores e estratégias de reabilitação cardíaca, com ajustes pela presença de inflamação ativa e pela imunossupressão. Monitorização clínica e laboratorial rigorosa é imprescindível.

Medidas de prevenção e estilo de vida

Vacinação e prevenção de infecções são fundamentais em pacientes sob imunossupressão. Recomenda‑se cessação do tabagismo, dieta equilibrada, controle de comorbidades (hipertensão, diabetes, dislipidemia) e atividade física adaptada. A adesão ao tratamento e ao seguimento multidisciplinar melhora prognóstico.

Monitoramento e prognóstico

O prognóstico depende da extensão do acometimento cardíaco, da resposta à imunossupressão e da presença de arritmias ou insuficiência cardíaca refratária. O acompanhamento inclui avaliações periódicas com ECG, ecocardiograma e, conforme necessidade, repetição de RMC ou PET‑CT para avaliar inflamação e fibrose. Marcadores séricos (NT‑proBNP, troponina) auxiliam no monitoramento de desfechos clínicos.

Informações relacionadas

Para contextualizar o manejo cardiovascular em pacientes com comorbidades, consulte também nossos artigos sobre doenças cardiovasculares em mulheres: sinais e manejo e sobre manejo da hipertensão em APS: metas e risco. Em idosos com fragilidade, estratégias de avaliação e prevenção, como as descritas em prevenção de quedas em idosos: avaliação e intervenções simples, podem ser relevantes no plano de cuidado global.

O que fazer a seguir: sarcoidose cardíaca

  • Mantenha comunicação contínua com a equipe médica e relate novos sintomas (palpitações, tonturas, síncope, piora da dispneia).
  • Siga o plano de monitorização com ECG, ecocardiograma e, quando indicado, RMC ou PET‑CT para avaliar atividade inflamatória e fibrose.
  • Adote imunossupressão apenas sob supervisão especializada e compareça às consultas para ajuste de dose e vigilância de efeitos adversos.
  • Esteja preparado para discutir opções de dispositivos (marcapasso, ICD) caso haja risco de bloqueio ou arritmias ventriculares.
  • Cuide das comorbidades e do estilo de vida: vacinação, controle metabólico, cessação do tabagismo e reabilitação cardíaca conforme tolerância.

Resumo para profissionais de saúde

Na prática clínica, avalie risco cardiovascular em pacientes com sarcoidose, utilize RMC e PET‑CT conforme indicação, considere biópsia endomiocárdica quando necessária, inicie corticoterapia com opção de imunossupressores adjuvantes em casos refratários e discuta implante de dispositivos em casos de alto risco. A abordagem multidisciplinar otimiza a tomada de decisão e os desfechos.

Este texto é informativo e não substitui avaliação médica individualizada. Consulte diretrizes atualizadas e adapte o manejo às necessidades de cada paciente.

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