Sarcopenia em idosos na atenção primária: triagem, avaliação, intervenção, nutrição e exercício

Sarcopenia em idosos na atenção primária: triagem, avaliação, intervenção, nutrição e exercício

Este texto é dirigido a equipes de atenção primária e profissionais de saúde que atendem idosos. A sarcopenia — perda progressiva de massa e força muscular relacionada à idade — aumenta risco de quedas, perda de funcionalidade e hospitalizações. Identificação precoce por triagem, avaliação diagnóstica e intervenções multifatoriais (treinamento resistido, ajuste dietético e manejo de comorbidades) é essencial para preservar autonomia e qualidade de vida.

Sarcopenia em idosos: contexto clínico e importância na atenção primária

Na prática clínica, a sarcopenia é um marcador de saúde global que frequentemente coexiste com fragilidade, desnutrição e polifarmácia. Fatores como inflamação crônica, resistência insulínica, ingestão proteica inadequada e inatividade contribuem para sua progressão. A atenção primária é porta de entrada para triagem e coordenação de cuidados com equipe multiprofissional, reduzindo incapacidades e eventos adversos.

Triagem na prática da atenção primária

Uma triagem eficaz deve ser simples e rápida. Ferramentas práticas facilitam a identificação de idosos em risco para encaminhamento:

  • Questionário SARC-F: avalia força, auxílio para andar, levantar-se, subir escadas e quedas. Pontuação ≥ 4 indica risco aumentado de sarcopenia.
  • Força de preensão manual (grip strength): medida por dinamômetro; valores de referência frequentemente usados são < 27 kg em homens e < 16 kg em mulheres como sinal de possível sarcopenia.
  • Circunferência de panturrilha (< 31 cm): alternativa útil quando não há dinamômetro, indicando menor massa muscular.

Se a triagem for positiva, avance para avaliação diagnóstica formal e encaminhamento à fisioterapia e nutrição. Para orientação complementar sobre fragilidade, consulte fragilidade em idosos na atenção primária.

Avaliação diagnóstica: como definir sarcopenia com rigor clínico

Segundo as diretrizes EWGSOP2, o diagnóstico envolve três pilares: força muscular, massa muscular e desempenho físico.

  • Força: força de preensão manual reduzida indica sarcopenia provável.
  • Massa muscular: confirmação preferencial por DXA (absorciometria) ou bioimpedância (BIA). Em cenários com recursos limitados, combine dados funcionais e medidas clínicas para orientar intervenções.
  • Desempenho físico: velocidade de marcha < 0,8 m/s ou tempo para levantar-se da cadeira > 15 s ajudam a caracterizar a gravidade.

Em locais com acesso restrito ao DXA, um algoritmo pragmático (SARC-F + grip strength + avaliação de marcha) é aceitável para iniciar intervenções e encaminhamentos. Para mais referências sobre avaliação de fragilidade, veja fragilidade em idosos na atenção primária.

Intervenção: plano multifatorial para a atenção primária

O manejo da sarcopenia deve ser multidisciplinar, combinando treinamento resistido, nutrição adequada e revisão de medicações.

Exercício físico e treinamento de força

  • Treinamento resistido: 2–3 vezes/semana, progressão gradual de carga; incluir grandes grupos musculares com 2–4 séries de 6–12 repetições conforme tolerância.
  • Treinamento funcional e equilíbrio: exercícios de equilíbrio e mobilidade reduzem quedas e melhoram autonomia.
  • Supervisão: fisioterapeutas ou profissionais de educação física aumentam segurança e adesão, especialmente em presença de comorbidades.

Considere programas comunitários ou domiciliares e uso de telemonitoramento quando necessário. Consulte também reabilitação domiciliar e exercício seguro.

Nutrição e suporte dietético

  • Ingestão proteica: recomenda-se cerca de 1,2–1,5 g/kg/dia para idosos com sarcopenia, distribuída em 3–4 refeições.
  • Distribuição proteica e leucina: refeições com 20–30 g de proteína e 2–3 g de leucina estimulam a síntese proteica; suplementos proteicos podem ser úteis quando o apetite é reduzido.
  • Energia adequada: evitar déficit calórico que favoreça catabolismo; planejamento nutricional individualizado é fundamental.
  • Vitamina D e cálcio: avaliar e corrigir deficiência de vitamina D quando presente; esses nutrientes contribuem para função muscular e saúde óssea.

Integre estratégias nutricionais com objetivos anti-inflamatórios moderados conforme comorbidades. Para orientações práticas, veja nutrição anti-inflamatória na prática clínica.

Manejo de comorbidades, medicações e suplementação

  • Revisar polifarmácia para reduzir fármacos que prejudiquem função e natação de atividade.
  • Controlar condições inflamatórias e crônicas (diabetes, doença cardíaca, osteoporose) para preservar mobilidade.
  • Suplementar apenas quando há indicação clínica (ex.: vitamina D) com monitoramento.

Implementação prática na atenção primária

Fluxo recomendado em consultório:

  • Passo 1: triagem sistemática com SARC-F e força de preensão em idosos com queixas funcionais, quedas ou perda de peso.
  • Passo 2: avaliação diagnóstica (DXA/BIA quando disponível) e testes de desempenho (velocidade de marcha, chair stand).
  • Passo 3: encaminhar para fisioterapia (treinamento resistido) e nutrição clínica; considerar supervisão remota quando necessário.
  • Passo 4: estabelecer plano nutricional com meta proteica e correção de deficiências, inclusive vitamina D quando indicada.
  • Passo 5: reavaliar a cada 3–6 meses força, desempenho e ADL/IADL; ajustar intervenções conforme resposta.

Este fluxo pode ser incorporado a protocolos locais de geriatria. Para conteúdos relacionados, consulte prevenção de quedas em idosos com polifarmácia domiciliar e dieta cardiovascular na meia-idade.

Desafios na prática e estratégias para superá-los

  • Adesão ao exercício: iniciar com baixa intensidade, progressão gradual, opções domiciliares e lembretes para melhorar adesão.
  • Acesso a avaliação de massa: quando DXA não estiver disponível, use medidas funcionais e monitoramento serial para guiar tratamentos.
  • Redução do apetite: fracionar refeições, lanches proteicos e suplementos palatáveis.
  • Comorbidades complexas: coordene com especialistas para adaptar programas de exercício e nutrição sem riscos.

Monitoramento, desfechos e ajustes

Métricas-chave para acompanhar:

  • Força muscular: mudança na força de preensão; ganhos de 5–10% sugerem resposta.
  • Desempenho funcional: velocidade de marcha, tempo para levantar da cadeira e testes de equilíbrio.
  • Massa muscular: variações por DXA/BIA quando disponíveis; em sua ausência, use medidas funcionais.
  • Eventos adversos: quedas, internações e complicações relacionadas à perda de função.
  • Qualidade de vida: avaliação de ADL/IADL para medir ganho de autonomia.

Sarcopenia em idosos: orientações práticas para a atenção primária

1) Realize triagem sistemática (SARC-F e força de preensão) em idosos. 2) Confirme o diagnóstico quando possível com DXA/BIA e testes de desempenho, seguindo EWGSOP2. 3) Implemente intervenção multifatorial: treinamento resistido, nutrição adequada (1,2–1,5 g/kg/dia, atenção à leucina) e revisão de medicações. 4) Monitore cada 3–6 meses força, marcha e função diária, ajustando condutas conforme resposta. 5) Use recursos comunitários, telemonitoramento e encaminhamentos multidisciplinares para ampliar alcance e adesão.

Palavras-chave incluídas: sarcopenia, fragilidade, treinamento resistido, SARC-F, vitamina D, DXA, bioimpedância, força de preensão, polifarmácia.

Links internos citados no texto mantidos para referência clínica.

Este conteúdo destina-se a profissionais de saúde da atenção primária; adapte as recomendações à realidade local, disponibilidade de recursos e às necessidades do paciente.

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