Sono e saúde cardiovascular: como a qualidade do sono afeta o coração

Por que o sono importa para o coração?

O sono regula processos essenciais à saúde cardiovascular: modula a pressão arterial, a frequência cardíaca, respostas inflamatórias e o metabolismo. A perda da queda noturna da pressão, a fragmentação do sono e a privação crônica favorecem hipertensão, disfunção endotelial, resistência à insulina e aumento da atividade simpática — mecanismos que elevam o risco de doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca e arritmias.

Principais distúrbios do sono que afetam o coração

Dentre os distúrbios com maior impacto cardiometabólico destacam-se a apneia obstrutiva do sono (AOS), a insônia e a desregulação circadiana — comuns em trabalhadores por turnos. Cada quadro atua por vias distintas, mas convergem em aumentar a carga de risco cardiovascular.

Apneia obstrutiva do sono (AOS)

A AOS provoca hipóxia intermitente e microdespertares, com picos de atividade simpática, elevação da pressão arterial e alterações da variabilidade da frequência cardíaca. Clínica e epidemiologia mostram associação com hipertensão resistente, maior incidência de fibrilação atrial, pior prognóstico após infarto e contribuição para progressão da insuficiência cardíaca.

Tratamento: pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) é a primeira linha para AOS moderada a grave; a adesão adequada reduz eventos cardiovasculares e melhora controle pressórico. Alternativas incluem dispositivos de avanço mandibular e intervenções para perda de peso, conforme indicação individual.

Insônia e desregulação circadiana

A insônia (dificuldade em iniciar/manter sono ou sono não restaurador) e a desregulação circadiana (ex.: trabalho por turnos) elevam risco de hipertensão, pioram o perfil glicêmico e alteram o controle autonômico. Essas condições requerem abordagem comportamental e, quando indicado, intervenção cronomédica ou farmacológica pontual.

Sono fragmentado e jornada irregular

A fragmentação do sono reduz os benefícios cardiovasculares mesmo quando a duração total parece adequada. Pacientes com despertares frequentes relatam sonolência diurna, pior desempenho cognitivo e maior tendência à elevação pressórica.

Avaliação do sono na prática clínica

História do sono e diários

Inclua perguntas sobre horário habitual para deitar e acordar, tempo para adormecer, interrupções noturnas, ronco, pausas respiratórias observadas, sonolência diurna e consumo de cafeína/álcool. Solicitar um diário do sono por 7–14 dias ajuda a identificar padrões e orientar intervenções.

Exames e testes

  • Polissonografia em laboratório para diagnóstico detalhado de AOS e avaliação de distúrbios do sono complexos.
  • Monitorização domiciliar (testes de apneia em casa) para rastrear AOS em pacientes selecionados.
  • Actigrafia para análise de padrões e desregulação circadiana.
  • Avaliação de comorbidades: medir pressão arterial, glicemia, perfil lipídico e pesquisar depressão, dor crônica ou medicações que afetem o sono.

Intervenções eficazes e estratégias de manejo

Terapias para apneia do sono

CPAP é a intervenção de escolha em AOS moderada-grave; foco em adaptar máscara, orientar o paciente e monitorar adesão. Em AOS leve ou em casos com baixa tolerância ao CPAP, considerar dispositivos de avanço mandibular, perda de peso e tratamento das comorbidades.

Higiene do sono e TCC-I

A terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I) é a intervenção mais eficaz e de primeira linha para a insônia crônica. Componentes importantes: controle de estímulos, restrição do sono, rotina regular, higiene do sono e técnicas de relaxamento. Essas medidas também beneficiam a pressão arterial e parâmetros metabólicos quando aplicadas consistentemente.

Considerações farmacológicas

Evitar o uso prolongado e indiscriminado de hipnóticos; considerar melatonina para distúrbios circadianos ou atraso de fase. Avaliar interações medicamentosas e riscos em idosos. Educar sobre reduzir cafeína e evitar álcool perto da hora de dormir.

Orientações práticas para médicos e pacientes

  • Perguntar rotineiramente sobre sono nas consultas de clínica geral e cardiologia.
  • Usar ferramentas simples: Escala de Sonolência de Epworth, diário do sono, ou actigrafia quando indicado.
  • Encaminhar para estudo do sono se houver ronco alto com pausas respiratórias, sonolência diurna excessiva ou insônia persistente.
  • Implementar TCC-I para insônia; oferecer suporte intensivo para adesão ao CPAP em pacientes com AOS.
  • Integrar manejo do sono ao controle de hipertensão, diabetes, obesidade e dislipidemia.

Considerações para grupos de risco

Idosos, pacientes com hipertensão resistente, pessoas com diabetes e trabalhadores por turnos merecem triagem ativa. Em hipertensão resistente, investigar AOS é essencial, pois o tratamento pode melhorar o controle pressórico.

Pontos-chave

Qualidade e regularidade do sono são determinantes da saúde cardiovascular. Identificar e tratar AOS, insônia e desregulação circadiana deve fazer parte da prática clínica para reduzir risco cardiovascular. A combinação de intervenções comportamentais (higiene do sono, TCC-I), terapêuticas específicas (CPAP ou dispositivos orais) e manejo das comorbidades oferece os melhores resultados. Adote triagem simples, educação do paciente e encaminhamentos apropriados para integrar o sono ao cuidado cardiovascular.

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