Síndrome dos ovários policísticos na atenção primária: diagnóstico precoce, rastreio cardiometabólico e manejo integrado

Síndrome dos ovários policísticos na atenção primária: diagnóstico precoce, rastreio cardiometabólico e manejo integrado

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma das principais causas de infertilidade e de morbidade metabólica entre mulheres em idade reprodutiva. Na atenção primária à saúde (APS), o reconhecimento precoce da SOP permite prevenir diabetes tipo 2, dislipidemia e hipertensão, além de melhorar qualidade de vida. Este texto apresenta abordagem prática para diagnóstico na APS, rastreio cardiometabólico, manejo da fertilidade e integração de terapias modernas e mudanças de estilo de vida, escrito em linguagem acessível para profissionais e pacientes.

Síndrome dos ovários policísticos: quando suspeitar

Suspeite de SOP em mulheres com irregularidade menstrual (oligomenorreia ou amenorreia), sinais de hiperandrogenismo clínico (hirsutismo, acne, alopecia) ou história de dificuldade para engravidar. A prevalência varia conforme os critérios, sendo aproximadamente 6%–12% em populações estudadas. Identifique fatores concomitantes como obesidade, resistência à insulina e alterações lipídicas, que aumentam o risco cardiometabólico.

Diagnóstico na atenção primária

  • Avaliação clínica: história menstrual, avaliação de hirsutismo (escala de Ferriman–Gallwey quando disponível), acne, alopecia, peso, índice de massa corporal (IMC) e circunferência da cintura.
  • Exames laboratoriais: testosterona total e SHBG (para estimar androgênio livre), glicemia de jejum, HbA1c, perfil lipídico; LH/FSH quando houver dúvida diagnóstica. Considere OGTT de 75 g se houver suspeita de intolerância à glicose.
  • Imagem: ultrassonografia transvaginal pode reforçar o diagnóstico, mas não é obrigatória em todas as pacientes, especialmente em mulheres jovens com quadro clínico claro.

Adote os critérios de Rotterdam com interpretação clínica: para confirmar SOP é necessário pelo menos dois de três elementos (oligo/amenorreia, hiperandrogenismo clínico ou bioquímico, imagem ovárica sugestiva), sempre excluindo causas secundárias como hiperplasia adrenal congênita, síndrome de Cushing e tumores androgênicos.

Rastreamento cardiometabólico na SOP

O rastreio cardiometabólico deve ser parte rotineira do acompanhamento: verifique pressão arterial, IMC, circunferência abdominal, glicemia de jejum, HbA1c e perfil lipídico. Pacientes com obesidade ou sinais de resistência à insulina merecem avaliação mais frequente e, quando indicado, OGTT.

Frequência do acompanhamento

  • Glicemia e lipídios: avaliação anual em risco baixo; semestral em obesidade, alterações metabólicas ou sinais de resistência à insulina.
  • Pressão arterial e peso: em cada consulta ou, no mínimo, a cada 3–6 meses, conforme o caso.
  • Encaminhamento para cardiologia ou endocrinologia quando houver fatores de risco múltiplos ou controle difícil das comorbidades.

Integre estratégias de prevenção cardiovascular ao manejo da SOP, incluindo aconselhamento sobre alimentação e atividade física. Para profissionais interessados em terapias adjuvantes para manejo de peso e risco cardiometabólico, há revisões sobre GLP-1 e tirzepatida aplicáveis a pacientes com SOP.

Manejo da fertilidade na SOP

Quando o objetivo da paciente é engravidar, priorize medidas que favoreçam a ovulação e diminuam complicadores obstétricos. Controle de peso e correção da resistência à insulina costumam melhorar a ovulação espontânea.

Indução de ovulação

  • Letrozol é a primeira opção recomendada para indução de ovulação em muitas diretrizes, com melhores taxas de nascidos vivos em alguns estudos.
  • Clomifeno é alternativa em situações específicas ou quando letrozol não estiver indicado.
  • Considere avaliação do parceiro e do trato reprodutor feminino antes de escalonar para técnicas de reprodução assistida.

Perdas ponderais moderadas (5%–10% do peso corporal) podem restaurar ovulação em muitas pacientes. O manejo multidisciplinar com nutrição e atividade física orientadas é fundamental.

Terapias farmacológicas e mudanças de estilo de vida

As mudanças de estilo de vida são a base: dieta equilibrada, nutrição anti-inflamatória, exercícios regulares, sono adequado e controle do estresse. Farmacoterapias complementares incluem metformina para pacientes com resistência à insulina e, quando apropriado, agonistas do receptor de GLP-1 e tirzepatida para manejo de obesidade associada à SOP, sempre avaliando riscos, benefícios e custo.

Medicamentos de uso comum

  • Metformina: útil em resistência à insulina e para melhorar parâmetros metabólicos, embora não substitua medidas de estilo de vida.
  • Contraceptivos hormonais combinados: indicados para regular o ciclo e reduzir acne e hirsutismo em mulheres que não desejam gestação.
  • Antiandrogênios: considerados para controle de hirsutismo, com avaliação de segurança e planejamento reprodutivo antes do uso.

Para aprofundar a integração de abordagens nutricionais, consulte referências sobre nutrição anti-inflamatória aplicável à SOP.

Organização do cuidado: abordagem multidisciplinar

A SOP exige acompanhamento contínuo e coordenação entre APS, ginecologia, endocrinologia, nutrição e saúde mental. A APS deve funcionar como centro de triagem, monitoramento e encaminhamento quando necessário.

Práticas práticas para a APS

  • Registrar metas clínicas e de bem‑estar com a paciente (controle de peso, regulação menstrual, desejo reprodutivo).
  • Programar revisões periódicas para monitorar glicemia, lipídios, pressão arterial e sintomas androgênicos.
  • Oferecer educação sobre resistência à insulina, risco cardiometabólico e opções terapêuticas, incluindo farmacoterapia e mudanças de estilo de vida.
  • Encaminhar para suporte psicológico quando houver impacto emocional, ansiedade ou depressão relacionadas à doença.

Ações práticas na síndrome dos ovários policísticos

Em resumo prático: realizar triagem clínica e laboratorial precoce, monitorar o risco cardiometabólico, discutir metas de fertilidade e aplicar intervenções individualizadas (nutrição, atividade física, metformina ou terapias modernas como GLP-1/tirzepatida quando indicado). Combinar manejo clínico com apoio nutricional e psicológico aumenta as chances de desfechos favoráveis e reduz complicações a longo prazo.

Links citados neste texto foram inseridos em contexto técnico para apoiar a tomada de decisão clínica: GLP-1 e tirzepatida, risco cardiovascular em diabetes tipo 2 e nutrição anti-inflamatória, todos integráveis à prática na APS conforme o contexto da paciente.

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