O que é tromboelastografia (TEG): interpretação prática, indicações e aplicação no manejo de sangramentos e coagulopatias

Quando o equilíbrio entre sangramento e coagulação falha, decisões rápidas e direcionadas reduzem morbidade. A tromboelastografia (TEG) avalia dinamicamente a hemostasia em sangue total, desde a formação do coágulo até a sua dissolução, permitindo interpretar o papel de plaquetas, fibrinogênio, fatores de coagulação e fibrinólise em tempo real.

Definição e princípios básicos da tromboelastografia (TEG)

A tromboelastografia (TEG) é uma técnica hemostática que mede a viscoelasticidade do sangue durante a formação e degradação do coágulo. Em vez de avaliar isoladamente tempos de coagulação, a TEG entrega um traçado integrado que reflete interação entre plaquetas, fibrinogênio e fatores plasmáticos, além de detectar hiperfibrinólise.

Como funciona a TEG: o que é medido

Uma amostra de sangue total é ativada (por exemplo, com caolin) e monitorizada por um sistema que registra a força do coágulo ao longo do tempo. Os principais parâmetros são:

  • R (tempo de reação): intervalo até o início da formação do coágulo (cerca de 0–10 minutos). Reflete atividade dos fatores de coagulação e presença de anticoagulantes.
  • K e ângulo (alpha): velocidade de formação e ganho de firmeza do coágulo; dependem de fibrinogênio e função plaquetária.
  • MA (amplitude máxima): força máxima do coágulo, influenciada por plaquetas e qualidade da fibrina.
  • LY30/LY60: percentuais de lise do coágulo (fibrinólise) 30/60 minutos após MA, indicando hiperfibrinólise quando aumentados.

Plataformas modernas (TEG 6s, RapidTEG, módulos com heparinase) incluem variantes que ajudam a interpretar efeitos de heparina e anticoagulantes diretos.

Indicações clínicas da tromboelastografia (TEG)

A TEG é indicada quando decisões de transfusão e terapias hemostáticas precisam ser rápidas e dirigidas. Cenários principais:

  • Sangramento massivo e trauma: orienta transfusão de plaquetas, concentrado de fibrinogênio, plasma e uso de antifibrinolíticos.
  • Cirurgias de grande porte (cardíaca, transplantes, hepatobiliares): monitorização contínua da coagulação intraoperatória.
  • Unidades de terapia intensiva (UTI): manejo de sangramentos complexos e coagulopatias adquiridas, como na doença hepática ou na CID.
  • Avaliação de anticoagulantes: diferencial de efeito entre anticoagulantes diretos e heparina, auxiliando decisões de reversão.
  • Pacientes oncológicos com plaquetopenia ou disfunção plaquetária induzida por quimioterapia.

Interpretação prática: o que cada parâmetro significa clinicamente

A interpretação deve ser integrada ao quadro clínico e a exames laboratoriais (TP/INR, TTPa, fibrinogênio, contagem de plaquetas, D-dímero). Abaixo, sinais práticos:

R prolongado — déficit de fatores ou anticoagulação

Sugere deficiência de fatores de coagulação ou efeito anticoagulante. Em contexto de sangramento significativo, pensar em reposição de fatores (plasma fresco congelado ou concentrados de fatores) conforme protocolos institucionais.

K prolongado / ângulo reduzido — baixo fibrinogênio ou disfunção plaquetária

Indica lentidão na formação do coágulo; frequentemente relacionado a baixos níveis de fibrinogênio. A reposição com concentrado de fibrinogênio ou crioprecipitado pode ser indicada, associada à avaliação de plaquetas.

MA baixo — fraqueza do coágulo

Aponta para disfunção plaquetária ou fibrina inadequada. Intervenções incluem transfusão de plaquetas ou medidas para melhorar a função plaquetária, conforme o contexto (medicações antitrombóticas, trombocitopenia).

LY30 aumentado — fibrinólise excessiva

Indica hiperfibrinólise; em sangramento ativo, considerar antifibrinolíticos como ácido tranexâmico, avaliando contraindicações e risco trombótico.

Aplicações práticas em cenários clínicos

  • Cirurgia cardíaca: a TEG identifica se o sangramento pós‑cardiopatia é por deficiência de fibrinogênio, plaquetas ou fibrinólise, orientando transfusão seletiva.
  • Trauma: diferencia déficits de fatores, plaquetas e fibrinólise e reduz transfusões desnecessárias ao direcionar concentrados específicos.
  • Doença hepática: fornece avaliação integrada quando a contagem de plaquetas é baixa e os tempos de coagulação são alterados, ajudando a decidir entre plasma, plaquetas ou fibrinogênio.
  • Anticoagulação: auxilia na distinção do efeito de anticoagulantes e orienta medidas de reversão quando necessário.

Passos práticos para uso seguro e efetivo

  • Protocolos institucionais: definir indicações, reagentes (caolin, RapidTEG, heparinase) e algoritmos de transfusão.
  • Treinamento da equipe: capacitar médicos, enfermeiros e técnicos para leitura e interpretação integrada da TEG.
  • Integração laboratorial: correlacionar TEG com fibrinogênio, contagem de plaquetas, TP/INR, TTPa e marcadores de fibrinólise.
  • Registro e auditoria: documentar decisões guiadas por TEG e monitorar desfechos transfusionais e clínicos para melhoria contínua.

Limitações e cuidados

  • Disponibilidade e custo: nem todas as unidades dispõem do equipamento ou pessoal treinado.
  • Interpretação técnica: leituras inadequadas ou sem correlação clínica podem levar a intervenções desnecessárias.
  • Efeito de heparina e plataformas: heparina altera o traçado — módulos com heparinase ajudam — e diferentes plataformas têm referências distintas.
  • Ferramenta complementar: a TEG não substitui história clínica, exame físico nem exames laboratoriais convencionais; serve para complementar a avaliação.

Para aprofundar aspectos relacionados à trombose e anticoagulação no contexto neurológico e interações medicamentosas, consulte os conteúdos sobre trombose venosa cerebral e sobre interações fitoterápicas com anticoagulantes, que podem ser relevantes ao avaliar risco trombótico e interações em pacientes com coagulopatias.

Mensagens práticas sobre tromboelastografia (TEG)

A tromboelastografia (TEG) oferece uma visão dinâmica e integrada da hemostasia — incluindo fibrinogênio, plaquetas e fibrinólise — e é especialmente útil em trauma, cirurgias de grande porte e coagulopatias adquiridas. Seu uso otimiza transfusões e terapias (antifibrinolíticos, reposição de fatores, plaquetas), mas exige protocolos institucionais, treinamento e correlação com exames laboratoriais e o quadro clínico. Implementada corretamente, a TEG melhora a precisão de decisões hemostáticas e reduz transfusões desnecessárias.

Conteúdo elaborado para profissionais de saúde e pacientes, com foco em aplicabilidade clínica, clareza e precisão.

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