Tipos de insulina: apresentação, escolha e prescrição para profissionais de saúde
O uso correto da insulina é central no tratamento do diabetes. Este texto descreve as principais apresentações, perfis farmacocinéticos e orientações práticas para prescrição, com foco em segurança, controle glicêmico e adesão do paciente.
Classificação e perfis de ação
As insulinas são classificadas segundo o tempo de início de ação, pico e duração. Entender essas diferenças é essencial para combinar insulina basal e insulina prandial (bolus) de modo a controlar tanto a glicemia de jejum quanto a hiperglicemia pós-prandial.
Tipo | Início | Pico | Duração | Exemplos |
---|---|---|---|---|
Ultrarrápida | 5–15 min | 30–60 min | 3–5 h | Lispro, Aspart, Glulisina |
Rápida | ~30 min | 2–3 h | 3–6 h | Insulina regular humana |
Intermediária | 1–3 h | 5–8 h | 12–18 h | NPH |
Prolongada / basal | 1–2 h | Sem pico marcado | até 24 h (ou mais) | Glargina, Detemir, Degludeca |
Insulina ultrarrápida e insulina de ação rápida
As insulinas ultrarrápidas e rápidas são usadas para correção e para cobrir refeições. Elas ajudam a reduzir picos glicêmicos pós-prandiais e permitem maior flexibilidade nas refeições. Para pacientes com variações pós-prandiais marcantes, prefira analogos ultrarrápidos quando disponíveis.
Insulina basal: escolha e uso
A insulina basal (glargina, detemir, degludeca) fornece cobertura contínua para reduzir glicemia de jejum e diminuir o risco de cetose em pacientes com deficiência de insulina. A escolha entre uma basal com pico mínimo ou uma de longa duração deve considerar rotina do paciente, risco de hipoglicemia noturna e custo/acesso.
Apresentações: canetas, frascos e bomba de insulina
As opções de apresentação impactam a adesão. Canetas pré-carregadas são práticas e aumentam a precisão da dose; frascos podem ser úteis em alguns contextos econômicos; bombas de infusão contínua (insulinoterapia contínua subcutânea) são indicadas para perfis que exigem ajustes finos e para alguns pacientes com hipoglicemias recorrentes.
Ao treinar o paciente, demonstre a técnica de injeção, rotação de sítios e armazenamento. Pacientes que usam bomba devem receber instruções sobre programação de bolus, cálculo de sensibilidade à insulina e condutas em falha do dispositivo.
Como escolher a insulina
A decisão deve ser individualizada. Considere:
- Perfil glicêmico (jejum, pós-prandial, episódios de hipoglicemia).
- Estilo de vida (padrão de refeições, atividade física, trabalho noturno).
- Comorbidades (insuficiência renal, doenças cardiovasculares).
- Capacidade de autogerenciamento e acesso a insumos (caneta de insulina, tiras, bombas).
Para profissionais que acompanham pacientes com diabetes tipo 2, integre recomendações locais e metas terapêuticas. Veja um protocolo prático sobre metas e monitorização no nosso guia de Manejo do Diabetes Tipo 2 na Atenção Primária.
Prescrição prática e ajustes de dose
Uma prescrição completa deve indicar tipo, concentração (geralmente U/mL 100), via, horários e técnica. Exemplos práticos de estratégias:
- Início com insulina basal isolada: 0,1–0,2 U/kg/dia em idosos ou 0,2–0,3 U/kg/dia em adultos mais jovens, ajustando por glicemia de jejum.
- Regime basal-bolus para controle intensivo: dividir a dose diária total entre insulina basal e insulina prandial (bolus) conforme consumo calórico.
- Uso de insulina pré-misturada: avaliar se rotina de refeições do paciente é fixa; pode reduzir flexibilidade.
Ajustes baseiam-se em monitorização capilar: reduza dose se episódios de hipoglicemia; aumente gradualmente se glicemias persistentes acima da meta. Diretrizes internacionais (ex.: American Diabetes Association) oferecem algoritmos de ajuste úteis na prática clínica (ADA Standards of Care).
Monitorização e prevenção de hipoglicemia
Explique sinais de hipoglicemia e estratégias de correção rápida (15–20 g de carboidrato simples). Ajuste a sensibilidade à insulina e ensine o paciente a usar a caneta de insulina ou a bomba de maneira segura. Em populações vulneráveis (idosos, com insuficiência renal), priorize regimes que minimizem hipoglicemia.
Integração com comorbidades e abordagem interdisciplinar
Considere sobreposição com manejo da obesidade (por exemplo, quando avaliar terapias adjuvantes) e risco cardiovascular. Material prático sobre manejo de obesidade no consultório pode ser útil ao planejar intervenções combinadas: Manejo da Obesidade no Consultório. Para avaliação de complicações oculares, oriente encaminhamento e seguimento conforme nossas recomendações em Cuidados de Saúde Ocular: detecção precoce de retinopatia.
Além das referências nacionais, recomendações da Organização Mundial da Saúde e da Sociedade Brasileira de Diabetes ajudam a contextualizar políticas e programas de atenção à diabetes no Brasil.
Resumo prático
- Combine insulina basal e prandial conforme padrão glicêmico: basal para glicemia de jejum, ultrarrápida/rápida para refeições.
- Escolha a apresentação considerando adesão: caneta para maioria, bomba quando indicado.
- Prescreva de forma detalhada (tipo, dose, horários, técnica) e eduque sobre hipoglicemia e rotação de sítios.
- Use monitorização periódica e ajuste de doses com base em metas individuais e risco de hipoglicemia.
Para suporte prático no consultório sobre metas e monitorização do diabetes tipo 2, consulte o nosso conteúdo dedicado: Manejo do Diabetes Tipo 2 na Atenção Primária. Para orientação sobre medicamentos concomitantes e prevenção cardiovascular, verifique também o nosso material sobre Dislipidemia: metas e terapias e recursos sobre prevenção de quedas e polifarmácia em idosos quando houver tratamentos complexos (Prevenção de Quedas e Polifarmácia).
Ao prescrever insulina, priorize segurança, clareza nas instruções e educação continuada. A individualização do regime, combinada com apoio à adesão, melhora o controle glicêmico e reduz o risco de complicações.