O que é TMS e TDCS na depressão resistente: eficácia e segurança

Este texto técnico e acessível apresenta as principais informações sobre duas modalidades de neuromodulação usadas em depressão resistente: Estimulação Magnética Transcraniana (TMS) — incluindo rTMS — e Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (TDCS). O objetivo é esclarecer definição, mecanismo, evidências de eficácia, indicações clínicas, protocolos práticos, segurança e aspectos de integração com antidepressivos e psicoterapia, para apoiar decisões compartilhadas entre profissionais e pacientes.

O que são TMS e TDCS e como funcionam

Estimulação Magnética Transcraniana (TMS) é uma técnica não invasiva que usa pulsos magnéticos para induzir correntes elétricas em regiões corticais específicas, mais comumente no córtex pré-frontal dorsolateral (DLPFC). Protocolos repetitivos (rTMS) modulam a excitabilidade cortical e a conectividade de redes associadas ao humor, produzindo efeitos terapêuticos que podem perdurar semanas a meses após o ciclo de tratamento.

Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (TDCS) aplica uma corrente elétrica de baixa intensidade entre dois eletrodos no couro cabeludo. A montagem anodal sobre o DLPFC esquerdo é a mais estudada na depressão, com objetivo de aumentar a excitabilidade cortical e favorecer plasticidade sináptica. A TDCS pode ser administrada em ambiente ambulatorial ou, em protocolos supervisionados, com aplicação domiciliar controlada.

Evidências de eficácia na depressão resistente

A expressão depressão resistente refere-se à falta de resposta satisfatória a tratamentos farmacológicos e psicoterápicos bem conduzidos. As evidências para TMS e TDCS variam por qualidade e consistência; em termos gerais, rTMS apresenta maior robustez de dados enquanto TDCS mostra efeitos modestos com maior heterogeneidade entre estudos.

Eficácia da TMS

  • Metanálises e ensaios controlados indicam que rTMS aplicado ao DLPFC esquerdo aumenta as taxas de resposta (aproximadamente 30%–45%) e remissão (cerca de 20%–35%) em séries de pacientes com depressão maior resistente, dependendo dos critérios de inclusão e dos desfechos avaliados.
  • A eficácia é maior quando se utilizam protocolos padronizados, com curso típico de 4 a 6 semanas e sessões diárias. Fatores que influenciam a resposta incluem gravidade do quadro, comorbidades, medicações concomitantes e aderência ao tratamento.
  • Eventos adversos mais comuns: cefaleia, dor ou desconforto no couro cabeludo e sensibilidade no local de aplicação. O risco de convulsão é raro (<0,5% por curso) quando os protocolos são seguidos e a seleção do paciente é adequada.

Eficácia da TDCS

  • Ensaios clínicos e revisões sistemáticas mostram benefício terapêutico da TDCS na depressão maior, porém com efeito médio menor e resultados mais heterogêneos em comparação com a TMS. O efeito depende de parâmetros como intensidade (1–2 mA), duração (20–30 min), montagem dos eletrodos e número de sessões.
  • Perfil de segurança favorável: irritação cutânea local, formigamento e cefaleia são os eventos mais frequentes; eventos graves são incomuns.

Indicações e critérios de seleção — depressão resistente

A escolha entre TMS e TDCS deve considerar: gravidade do episódio, história de tratamentos prévios, logística, contraindicações e preferência do paciente. Em muitas instituições, TMS é a primeira opção entre neuromodulações não invasivas pela consistência das evidências; TDCS é uma alternativa quando há restrições logísticas, custo ou preferência por tratamento ambulatorial.

  • Gravidade: pacientes com comprometimento funcional marcado tendem a beneficiar mais da TMS.
  • Acesso e infraestrutura: clínicas com equipamento e equipe treinada oferecem protocolos padronizados de TMS. Em cenários com menor infraestrutura, a TDCS pode ser considerada com supervisão adequada.
  • Contraindicações: TMS é contraindicada em alguns implantes metálicos intracranianos e pode exigir precaução em portadores de dispositivos cardíacos; TDCS exige cuidado em lesões cutâneas ativas e em dispositivos implantáveis próximos à área dos eletrodos.
  • Preferência do paciente e custo: discutir duração do tratamento, desconforto esperado, cobertura do plano de saúde e disponibilidade para sessões frequentes.

Para orientações práticas sobre triagem e manejo em atenção primária, consulte a abordagem pragmática da depressão e ansiedade. Para estratégias voltadas a idosos, veja o material sobre promoção da saúde mental em idosos.

Como é realizado o tratamento: protocolos, duração e monitorização

rTMS — protocolo típico e logística

  • Avaliação prévia: confirmação diagnóstica, triagem de contraindicações, uso de escalas padronizadas (MADRS, HAM-D) e definição de metas terapêuticas.
  • Parâmetros: sessões de 20–40 minutos, 5 vezes por semana por 4–6 semanas (20–30 sessões), com intensidade entre 100%–120% do limiar motor individual; variantes protocoladas (por ex., estimulação excitadora esquerda vs. inibidora direita) podem ser usadas conforme quadro clínico.
  • Monitorização: avaliação de efeitos adversos a cada sessão, uso de proteção auditiva e acompanhamento com escalas de sintomatologia e funcionalidade.

TDCS — protocolo típico e logística

  • Configuração: ânodo sobre DLPFC esquerdo e cátodo em área de referência; montagens podem variar conforme protocolo clínico.
  • Parâmetros: 1–2 mA por 20–30 minutos por sessão, múltiplas sessões por semana ao longo de 2–4 semanas; protocolos domiciliares requerem treinamento e monitorização remota.
  • Segurança: observar a integridade da pele sob os eletrodos, instruir para relatos precoces de desconforto e avaliar histórico de epilepsia antes de iniciar.

Segurança, efeitos colaterais e precauções

Efeitos adversos comuns

  • TMS: cefaleia, sensibilidade no couro cabeludo, tontura; risco raro de convulsão.
  • TDCS: vermelhidão ou irritação local, formigamento, sensação térmica sob os eletrodos e cefaleia transitória.

Contraindicações e cuidados

  • Revisar implantes metálicos e dispositivos eletrônicos implantáveis antes da TMS; avaliar feridas no couro cabeludo e condições dermatológicas antes da TDCS.
  • Em transtorno bipolar, monitorar sinais de indução de mania quando combinado com antidepressivos; ajustar plano terapêutico conforme avaliação psiquiátrica.

Interações com tratamento farmacológico e psicoterapia

TMS e TDCS são tipicamente usadas como terapias adjuvantes — não substitutas — do manejo farmacoterápico e da psicoterapia. A integração com antidepressivos, estabilizadores de humor ou antipsicóticos deve ser feita com monitorização cuidadosa de eficácia e segurança. Utilize escalas padronizadas (HAM-D, MADRS) e medidas funcionais para acompanhar resposta clínica e decidir manutenção, intensificação ou descontinuação das neuromodulações.

Aspectos práticos para a prática clínica

  • Seleção criteriosa: definir critérios clínicos de elegibilidade, revisar comorbidades e expectativas do paciente.
  • Equipe e infraestrutura: treinamento da equipe, protocolos de segurança, ambiente apropriado e fluxo de atendimento para continuidade do cuidado.
  • Custos e cobertura: esclarecer custos por sessão, número estimado de sessões e possibilidade de reembolso, para que o paciente possa planejar tratamento de forma informada.

Perguntas-chave para discutir com seu médico

  • Quais evidências específicas existem para o meu caso de depressão resistente?
  • Por que recomendam TMS ou TDCS para mim? Quais são os benefícios esperados e os riscos?
  • Como será o cronograma de tratamento, qual a duração prevista e quais escalas usaremos para monitorar resposta?
  • Quais efeitos colaterais devo observar e como agir diante deles?
  • Há cobertura pelo plano de saúde ou opções de financiamento/apoio?

Resumo aplicado: fatores que aumentam as chances de sucesso na depressão resistente

O êxito da neuromodulação depende de seleção adequada do paciente, protocolos padronizados, integração com antidepressivos e psicoterapia, monitorização rigorosa e adesão ao tratamento. Em contextos com infraestrutura e equipe treinada, rTMS costuma oferecer maior probabilidade de resposta robusta; TDCS amplia opções quando o acesso, custo ou preferência do paciente tornam a TMS menos viável. A decisão deve ser individualizada e pautada por evidências, segurança e pelo diálogo entre equipe e paciente.

Observação: este conteúdo é informativo e não substitui avaliação clínica individual. Discuta sempre com um profissional de saúde qualificado antes de iniciar qualquer tratamento.

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