Tratamentos de primeira linha para otite média aguda: revisão completa
Otite média aguda: diagnóstico e apresentação clínica
A otite média aguda (OMA) é uma infecção do ouvido médio que acomete principalmente crianças, manifestando-se por otalgia súbita, febre e, por vezes, otorreia. O diagnóstico baseia-se em anamnese cuidadosa e exame otoscópico: presença de abaulamento e hiperemia da membrana timpânica e, quando presente, secreção purulenta. Em dúvida diagnóstica, a timpanometria auxilia na detecção de efusão e impacto da tuba auditiva na mobilidade timpânica.
Amoxicilina como primeira linha
A amoxicilina permanece o antibiótico de escolha inicial para a maioria dos casos não complicados de OMA, por seu espectro, segurança e custo-efetividade. Recomenda-se dose entre 50–90 mg/kg/dia, em duas administrações, por 5 a 10 dias conforme idade e gravidade: crianças <2 anos ou com quadro grave geralmente recebem 10 dias; crianças mais velhas com sintomas leves, curso mais curto (5–7 dias) pode ser suficiente.
O uso de dose elevada tem respaldo para vencer cepas com menor sensibilidade de Streptococcus pneumoniae. A decisão terapêutica deve considerar histórico de uso recente de antibióticos, alergias e comorbidades.
Falha terapêutica e alternativas
Quando há falta de melhora clínica em 48–72 horas ou piora do quadro, pensar em patógenos resistentes, infecção por Haemophilus influenzae betalactamase produtora ou baixa adesão. Alternativas incluem amoxicilina associada ao ácido clavulânico (melhoria do espectro contra produtores de beta‑lactamase) e cefalosporinas de terceira geração, como a ceftriaxona parenteral em casos de vômito persistente ou adesão oral impossível.
Escolhas racionais e escalonamento adequado são essenciais para reduzir seletivo de resistência bacteriana e preservar o microbioma infantil; diretrizes sobre manejo de resistência detalham estratégias de de‑escalonamento e preservação da eficácia antimicrobiana (gestão de antibióticos na prática clínica).
Quando considerar drenagem ou encaminhamento
Otorreia persistente, sinais de complicação (paralisia facial, celulite periauricular, sintomas neurológicos) ou suspeita de coleção subperiosteal exigem avaliação otorrinolaringológica imediata e possível drenagem ou manejo hospitalar.
Manejo sintomático: analgesia e observação vigilante
Além do antimicrobiano quando indicado, controle da dor com paracetamol ou ibuprofeno é fundamental. Em crianças com quadro leve e sem fatores de risco, a estratégia de observação vigilante por 48–72 horas é eficaz para reduzir uso desnecessário de antibióticos, com início da terapia se não houver melhora clínica — essa abordagem deve ser acompanhada por orientação clara aos cuidadores sobre sinais de alarme.
Diagnóstico diferencial e exames complementares
A otoscopia pneumática e a timpanometria são úteis para confirmar efusão e distinção entre otite média aguda e otite média com efusão. Em contexto de infecções respiratórias recorrentes ou surtos, testes respiratórios multiplex podem ajudar a identificar co‑infecções virais que influenciam a decisão terapêutica (teste multiplex PCR para infecções respiratórias).
Prevenção: vacinação, amamentação e ambiente
Medidas preventivas reduzem incidência e gravidade da OMA: amamentação exclusiva até 6 meses, manutenção do calendário vacinal (vacina pneumocócica e Hib quando indicadas) e evitar exposição ao tabagismo passivo. Em populações de alto risco, estratégias vacinais específicas e orientações para imunocomprometidos são prioritárias (vacinação em pacientes com risco imunológico).
Referências e evidências clínicas
Revisões e estudos recentes reforçam a eficácia da amoxicilina como primeira linha e detalham alternativas em falha terapêutica; para aprofundamento clínico veja análise sistemática disponível na literatura (ResearchGate) e a revisão prática do MSD Manual sobre otite média aguda. Recursos clínicos adicionais discutem abordagens de observação e implicações para o microbioma:
- Revisão: Manejo da otite média aguda (ResearchGate)
- MSD Manual: abordagem clínica da otite média aguda
- Artigo clínico sobre abordagem terapêutica
Para integrar esse tema com práticas locais, consulte também materiais sobre manejo de resistências e estratégias diagnósticas em nosso acervo: gestão de antibióticos e testes diagnósticos para infecções respiratórias.
Orientações práticas
Resumo prático para clínicos e cuidadores: 1) confirmar diagnóstico por otoscopia; 2) iniciar amoxicilina na maioria dos casos; 3) considerar amoxicilina‑ácido clavulânico ou ceftriaxona em falha ou fatores de risco; 4) usar analgesia e orientar observação vigilante quando aplicável; 5) priorizar medidas preventivas como vacinação e amamentação. A prática baseada em evidências e a prescrição responsável reduzem complicações e preservam a eficácia dos antibióticos no longo prazo.
Conteúdos relacionados do nosso blog: gestão da resistência bacteriana, diagnóstico respiratório por PCR multiplex e orientações vacinais para grupos de risco — leituras úteis para ampliar a tomada de decisão clínica.