Vacinação em pacientes transplantados: orientações práticas para a prática clínica
Pacientes submetidos a transplante de órgão sólido enfrentam risco aumentado de infecções devido à imunossupressão necessária para evitar rejeição. A vacinação é uma medida preventiva de alto impacto para reduzir morbidade e mortalidade nessa população. Abaixo seguem recomendações práticas, baseadas em evidência e adaptáveis à rotina clínica.
Vacinação em pacientes transplantados: por que é prioritária
A imunossupressão reduz a resposta imune a patógenos e a vacinas, aumentando a suscetibilidade a infecções respiratórias, hepatites e outras doenças preveníveis. Atualizar o calendário vacinal antes do transplante sempre que possível maximiza a eficácia (por exemplo, vacina em imunossuprimidos na atenção primária) e reduz internações pós‑operatórias.
Imunossupressão e resposta imunológica
Após o transplante, a resposta imunológica é frequentemente atenuada. Por isso, a avaliação de títulos sorológicos (quando aplicável) e a programação de reforços devem ser individualizadas. Em pacientes com imunossupressão intensa, considerar a medição de anticorpos para hepatite B ou varicela quando relevante.
Que tipos de vacinas usar: vacinas inativadas vs. vivas
Vacinas inativadas
Vacinas inativadas (influenza sazonal, hepatite B, vacinas pneumocócicas) são seguras e recomendadas no período pós‑transplante, geralmente a partir de 3 a 6 meses após estabilização do esquema imunossupressor. A vacina influenza anual é indicada para transplantados e contatos domésticos.
Vacinas vivas atenuadas
Vacinas vivas atenuadas (por exemplo, sarampo, caxumba, rubéola, varicela em formulações vivas) são, via de regra, contraindicadas após o transplante devido ao risco de replicação vacinal. Quando necessárias, devem ser administradas antes do transplante e com intervalo de segurança em relação ao início da imunossupressão.
Vacinas prioritárias e esquemas recomendados
As vacinas com maior impacto em transplantados incluem:
- Influenza: vacina anual quadrivalente preferível; proteger o paciente e os contatos próximos reduz transmissão.
- Pneumocócica: esquema com vacina conjugada (VPC13 ou equivalente) seguida de vacina polissacarídica (VPP23) conforme intervalo recomendado pela vigilância sanitária e avaliação clínica.
- Hepatite B: esquema de três doses; considerar esquemas reforçados ou verificação de títulos em pacientes com risco aumentado.
- Hepatite A: esquema de duas doses em pacientes elegíveis, especialmente quando há risco de exposição.
- Varicela e sarampo: avaliar sorologia antes do transplante e imunizar prévio ao início da imunossupressão quando necessário.
Para vacinas novas ou plataformas emergentes (por exemplo, vacinas por tecnologia mRNA), as evidências têm evoluído; discutir riscos e benefícios com a equipe transplantadora é importante. Consulte literatura atualizada sobre plataformas vacinais para transplantados e segurança imunológica, incluindo revisões nacionais e internacionais.
Tempo e monitoramento: quando vacinar e como acompanhar
Idealmente, completar o esquema vacinal antes do transplante. Se isso não for possível, iniciar vacinas inativadas a partir de 3 meses pós‑transplante em pacientes estáveis; em casos selecionados, iniciar aos 6 meses. Monitorar resposta por títulos quando disponível (hepatite B, varicela) e considerar reforço quando a proteção for insuficiente.
Interações com imunossupressores
Alguns agentes imunossupressores reduzem a resposta vacinal. A decisão sobre ajuste temporário do regime deve ser multidisciplinar e balancear risco de rejeição versus ganho vacinal. A equipe transplantadora deve estar envolvida nas decisões.
Recomendações práticas para a equipe de saúde
- Documentar o histórico vacinal e as sorologias antes do transplante.
- Atualizar vacinas inativadas sempre que possível antes da imunossupressão.
- Educar pacientes e cuidadores sobre a importância da vacinação e da vacinação de contatos próximos.
- Registrar reforços e monitorar títulos sorológicos conforme indicação clínica.
- Trabalhar em conjunto com equipe de transplante, infectologia e atenção primária para decisões complexas.
Para uma visão ampliada sobre desafios e avanços em transplante, materiais sobre transplante de órgãos: avanços e desafios podem complementar a prática clínica. Para orientações práticas focadas na atenção primária, veja também o conteúdo sobre vacinação em imunossuprimidos na atenção primária, e para entendimento sobre plataformas vacinais emergentes, consulte a revisão sobre vacinas em tecnologia mRNA.
Resumo e recomendações finais
Vacinar pacientes transplantados é uma intervenção com forte benefício clínico. Priorize a atualização do calendário vacinal antes do transplante sempre que possível, utilize vacinas inativadas no pós‑transplante, evite vacinas vivas após início da imunossupressão e monitore resposta imunológica conforme indicado. A coordenação multidisciplinar e o registro detalhado do histórico vacinal são essenciais para segurança e eficácia.
Fontes selecionadas
- Revisão sobre vacinas e mortalidade em pacientes transplantados (Scielo)
- Diretrizes SBIm para candidatos a transplante e transplantados
- Recomendações do CDC sobre vacinação de adultos transplantados
- Materiais complementares: vacinação em imunossuprimidos (Bruzzi)
- Transplante de órgãos: avanços e desafios (Bruzzi)
- Plataformas vacinais e evidências recentes (Bruzzi)