Abordagem ambulatorial da anemia ferropriva em mulheres adultas
A anemia ferropriva é a causa mais comum de anemia em mulheres em idade reprodutiva e tem impacto direto na qualidade de vida, capacidade funcional e resultados gestacionais. Nesta orientação prática para atendimento ambulatorial, descrevemos como suspeitar, investigar e tratar a deficiência de ferro de forma objetiva, com ênfase em exames, condutas terapêuticas e medidas de prevenção que facilitam a tomada de decisão clínica.
Anemia ferropriva: sinais clínicos e quando investigar
Sintomas típicos incluem fadiga, astenia, intolerância ao exercício, taquicardia e piora da concentração. No exame físico, palidez cutânea e de mucosas são achados comuns. Suspeite de anemia ferropriva em mulheres com menorragia, gestação, história de parto recente, dietas restritivas ou sintomas digestivos sugestivos de perda crônica.
Exames iniciais essenciais
- Hemograma completo: avalie hemoglobina, VCM (microcitose) e índice de hemácias.
- Ferritina sérica: marcador das reservas de ferro (valores < 30 ng/mL geralmente indicam deficiência; em inflamação considere interpretação cautelosa).
- Saturação de transferrina (Fe/TIBC): saturação < 20% apoia o diagnóstico.
- Proteína C-reativa (PCR) ou VHS se houver suspeita de processo inflamatório que aumente ferritina.
Para orientações detalhadas sobre investigação e manejo, consulte o protocolo institucional completo sobre anemia: anemia ferropriva: diagnóstico e manejo.
Tratamento: objetivos e estratégias
O objetivo é corrigir a anemia, reabastecer as reservas de ferro e tratar a causa subjacente. A escolha entre reposição oral ou parenteral depende de tolerabilidade, gravidade e necessidade de reposição rápida.
Suplementação oral de ferro
Primeira linha na maioria dos casos: doses com 120–180 mg de ferro elementar por dia (por exemplo, sulfato ferroso). Preferir administração em jejum para melhor absorção, mas permitir tomar com alimento se houver intolerância digestiva. Oriente que vitamina C (suco de laranja) aumenta a absorção, enquanto chá, café e cálcio reduzem a biodisponibilidade.
Explique efeitos adversos gastrointestinais (náuseas, constipação) e estratégias para manter a adesão. Para suporte à adesão ao tratamento crônico veja materiais sobre promoção da adesão: adesão terapêutica na atenção primária.
Suplementação parenteral de ferro
Indicada em casos de intolerância à via oral, má absorção, perdas sanguíneas ativas severas ou necessidade de correção rápida (ex.: anemia sintomática em gestantes tardias). Preferir formulações intravenosas de baixa reatogenicidade quando disponíveis; monitorizar reações e planejar reposição total cumulativa conforme cálculo do déficit de ferro.
Transfusão
Restrinja transfusão a situações de emergência hemodinâmica ou Hb muito baixa com sintomas graves. A transfusão não substitui a investigação da causa nem a reposição das reservas de ferro.
Monitorização e seguimento
Reavalie hemoglobina após 4 semanas para comprovar resposta (aumento de ~1 g/dL em 2–4 semanas é esperado). Mensure ferritina após 2–3 meses para avaliar reposição de reservas; manter suplementação por pelo menos 3 a 6 meses após normalização da hemoglobina para recuperar estoques. Em contextos de inflamação crônica, utilize interpretação combinada de ferritina, saturação e marcadores inflamatórios.
Prevenção e medidas nutricionais
Educar sobre dieta rica em ferro heme (carnes vermelhas, vísceras) e fontes não-heme (leguminosas, verduras de folha escura) e práticas que melhoram absorção (vitamina C). Programas de fortificação e educação sexual/reprodutiva são importantes para reduzir incidência em população feminina; veja material complementar sobre prevenção de deficiências nutricionais: prevenção de deficiências nutricionais.
Quando encaminhar ou investigar causa secundária
Encaminhe para avaliação especializada se houver:
- Perdas digestivas suspeitas (sangramento oculto, história de uso de AINEs) — considerar endoscopia;
- Menorragia refratária — avaliar ginecológico e terapêutica hormonal;
- Falta de resposta apropriada ao tratamento oral (após 4–8 semanas) — investigar má absorção, hemorragia oculta ou causas hematológicas.
Fontes com revisão sistemática e orientações clínicas podem auxiliar na atualização das condutas: publicação revisada na SciELO descreve causas e tratamento (Scielo), além de revisões disponíveis em bases nacionais — consulte trabalhos como os disponíveis no Portal SciELO e no acervo CAPES para aprofundamento clínico. Um guia prático para atenção primária está disponível no portal de educação em saúde do Ministério (SECaD) para integração local das recomendações.
Referências e leituras complementares: Anemia ferropênica no adulto: causas, diagnóstico e tratamento (SciELO), Revisão sobre diagnóstico e tratamento (Periódicos CAPES) e Abordagem na atenção primária (SECaD/Artmed).
Orientações práticas para o dia a dia
- Investigar ferritina e saturação transferrínica sempre que houver anemia microcítica.
- Iniciar ferro oral e reavaliar resposta em 4 semanas; ajustar via parenteral se não houver melhora ou se houver intolerância.
- Abordar causa de perda (ginecológica, digestiva) simultaneamente à reposição.
- Educar sobre dieta, interação com alimentos e necessidade de manutenção por meses após normalização.
Para protocolos locais e fluxos de encaminhamento que facilitam o manejo ambulatorial, integrem este conteúdo com os documentos institucionais existentes no serviço e nas rotas de atenção do município.
Se desejar material de apoio para pacientes ou modelos de prescrições e acompanhamento, posso preparar fichas práticas e um plano de seguimento baseado em protocolos atualizados.