Anemia ferropriva: diagnóstico e manejo clínico
Introdução
Você suspeita de anemia ferropriva em um paciente com fadiga, dispneia leve ou palidez? Dados epidemiológicos mostram que a deficiência de ferro é a causa mais comum de anemia no mundo, com impacto importante em crianças, gestantes e idosos. Este texto, dirigido a profissionais de saúde, resume critérios de diagnóstico laboratorial, opções de reposição de ferro e estratégias práticas de prevenção.
O que é e quem é afetado
Deficiência de ferro ocorre quando as reservas corpóreas são insuficientes para manter a eritropoiese adequada, levando a queda da hemoglobina. Populações de risco incluem mulheres em idade reprodutiva, gestantes, lactentes, doadores de sangue frequentes, pacientes com perdas gastrointestinais crônicas e idosos com múltiplas comorbidades.
Epidemiologia e impacto clínico
- Forma mais comum de anemia globalmente, com repercussões no desenvolvimento infantil e desempenho funcional em adultos.
- Na prática clínica, identificar a causa da perda de ferro é tão importante quanto repor o elemento.
Causas, avaliação clínica e exames
Abordar histórico de perdas menstruais, sangramentos gastrointestinais, dietas restritivas, gestação e uso de medicamentos que aumentam risco de sangramento. Exame físico pode revelar palidez, taquicardia, sopro sistólico funcional ou alterações ungueais em casos crônicos.
Exames laboratoriais essenciais
- Hemograma completo (Hb, VCM, RDW).
- Ferritina (reserva de ferro) — valores baixos confirmam deficiência; lembrar que é reagente de fase aguda.
- Capacidade total de ligação do ferro (TIBC/ transferrina) e saturação da transferrina.
- Outros: reticulócitos, creatinina (em idosos), provas de função hepática e pesquisa de sangue oculto nas fezes quando indicado.
Em contexto inflamatório, interpretar ferritina com cautela; considerar marcadores de inflamação e abordagem complementar conforme diretrizes (ver Protocolo do Ministério da Saúde).
Investigar causas
- Ginecológicas: menorragia, gestação
- Gastrointestinais: úlceras, gastrite crônica, neoplasia — encaminhar para investigação endoscópica quando indicado; ver artigo sobre gastrite crônica: diagnóstico, tratamento e prevenção para correlação clínica.
- Idosos: considerar sangramento oculto e polifarmácia — integrar avaliação com estratégias de redução de risco (ex.: polifarmácia e prevenção de quedas em idosos).
Tratamento: como e quando repor ferro
Objetivos: restaurar reservas de ferro, corrigir a hemoglobina e tratar a causa subjacente. A escolha entre ferro oral e intravenoso depende da gravidade, tolerância e necessidade de reposição rápida.
Ferro oral
- Indicação: formas leves a moderadas, pacientes estáveis e sem má-absorção.
- Esquema comum: sulfato ferroso 60–120 mg de ferro elementar por dia (ou regimes alternativos como doses em dias alternados) — adaptar conforme tolerabilidade e resposta.
- Interações: vitamina C pode aumentar absorção; evitar com alimentos ricos em cálcio, café e chá que reduzem absorção.
- Monitorar: aumento reticulocitário em 7–10 dias e ganho de Hb ≈ 1 g/dL em 2–4 semanas; manter tratamento até recuperação das reservas (geralmente 3 meses após normalização da Hb).
Ferro intravenoso
- Indicações: má-absorção, intolerância ao ferro oral, necessidade de reposição rápida (ex.: anemia grave), doença inflamatória crônica com resposta inadequada ao oral e gestantes selecionadas.
- Formulações modernas (carboximaltose, ferro isomaltosídeo) permitem doses maiores em única sessão; seguir protocolos locais e monitorar reações infusionais.
- Planejar cálculo do déficit de ferro (ex.: fórmula de Ganzoni) e documentar consentimento para riscos/benefícios.
Referências de diretriz
Para recomendações práticas e fluxos diagnósticos, consulte o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde e a revisão de aspectos clínicos e terapêuticos citada na literatura.
Orientação nutricional e prevenção
Além da terapêutica farmacológica, é essencial aconselhar sobre alimentação e políticas preventivas. Recomende fontes ricas em ferro heme (carnes vermelhas) e não-heme (leguminosas, folhas verdes), associando vitamina C para melhorar absorção. Estratégias populacionais incluem enriquecimento de alimentos e suplementação em gestantes e lactentes conforme diretrizes da OMS.
Para intervenções nutricionais integradas e personalizadas, considere protocolos que abordem microbioma e educação nutricional (nutrição personalizada e microbioma) e práticas de aconselhamento em clínica.
Aplicação prática e seguimento
Ao finalizar o atendimento:
- Documente a causa investigada e plano de reposição de ferro.
- Agende reavaliação laboratorial em 4 semanas e ajuste terapêutico conforme resposta.
- Considere telemonitoração para adesão e efeitos adversos usando recursos como telemedicina na prática clínica quando apropriado.
Reforce investigação de origem sanguinolenta (por exemplo, doenças gástricas) e colaboração interdisciplinar quando necessário: gastroenterologia, ginecologia, nutrição e atenção primária.
Leitura complementar
Resumo acessível e orientações ao paciente podem ser obtidos em fontes de referência, como artigos informativos e revisões (por exemplo, AnemiaCare e sínteses na Wikipédia), além do protocolo do Ministério da Saúde citado acima.
Encerramento com insights práticos
Na prática clínica, priorize a identificação da causa da deficiência de ferro, escolha a via de reposição de ferro conforme necessidade e tolerância, e integre orientação nutricional e monitorização. Adotar fluxos claros de investigação e seguimento reduz recorrência e melhora desfechos, especialmente em populações de risco.