Abordagem da dor torácica no atendimento de emergência
A dor torácica é uma das principais causas de procura por serviços de emergência e exige raciocínio clínico rápido para distinguir causas com risco de morte daquelas benignas. Esta orientação prática foca avaliação inicial, exames prioritários e condutas que reduzem morbimortalidade, em linguagem direta para profissionais e pacientes informados.
Dor torácica: avaliação inicial e objetivos
O objetivo imediato é identificar sinais de ameaças à vida — síndrome coronariana aguda, dissecção aórtica, tromboembolismo pulmonar e pneumotórax hipertensivo — e iniciar medidas de suporte enquanto se definem exames complementares. Uma anamnese dirigida, exame físico focado e um ECG em até 10 minutos são essenciais. Para referências sobre manejo do infarto, veja as diretrizes práticas para infarto agudo do miocárdio.
Anamnese e sinais que orientam risco
- Início: súbito e intenso (dissecção aórtica) vs progressivo com esforço (angina/infarto).
- Característica: opressiva, queimação, pontada pleurítica, tipo rasgante.
- Irradiação: mandíbula, braço esquerdo, costas (dissecção ou isquemia extensa).
- Sintomas associados: dispneia, síncope, sudorese fria, náuseas, hemoptise.
- Fatores de risco: hipertensão, tabagismo, diabetes, história de trombose venosa profunda ou cirurgia recente.
Exame físico objetivo
Verificar sinais vitais (PA, FC, FR, SpO2), presença de estase jugular, assimetria de pulsos (pista para dissecção), estertores pulmonares (insuficiência cardíaca) e enfisema subcutâneo. A inspeção e palpação torácica podem sugerir dor musculoesquelética ou fratura costal.
Exames iniciais obrigatórios
Além do ECG, solicite radiografia de tórax e exames laboratoriais iniciais como troponina seriada, hemograma, eletrólitos e gasometria, conforme a suspeita. O ECG é central para diagnóstico de SCA; a troponina confirma lesão miocárdica. Para orientações sobre fluxos de avaliação ambulatorial e atenção primária, consulte as recomendações do Ministério da Saúde sobre manejo inicial de dor torácica em unidades de atenção (linhas de cuidado).
Diagnósticos críticos e condutas iniciais
Síndrome coronariana aguda (SCA)
Suspeite de SCA diante de dor opressiva com alterações no ECG ou elevação de troponina. Condutas imediatas: ácido acetilsalicílico 300 mg mastigado, considerar antiplaquetários adicionais (clopidogrel ou ticagrelor) e anticoagulação conforme protocolo institucional; nitroglicerina para dor, com cautela se hipotenso; analgesia e monitorização contínua. A estratégia definitiva (angioplastia primária) depende do diagnóstico e do tempo porta-balão. Referência clínica sobre condutas no infarto está disponível em nosso conteúdo de manejo do infarto.
Dissecção aguda de aorta
Dor torácica súbita, intensa, tipo rasgante, com possível diferença de pulsos entre membros sugere dissecção. Controle imediato da frequência cardíaca e da pressão arterial com betabloqueadores intravenosos (ex.: esmolol) e encaminhamento urgente para centro cirúrgico. Analgesia eficaz (morfina) ajuda a reduzir estímulo simpático e pressão aórtica.
Tromboembolismo pulmonar (TEP)
Dispneia súbita associada a dor pleurítica e taquicardia sugere TEP. Administre oxigenoterapia para manter SpO2 > 94% e inicie anticoagulação conforme risco e contra‑indicações. Em casos instáveis, considere trombólise. A suspeita é baseada em clínica, ECG, gasometria e angioTC quando possível.
Pneumotórax hipertensivo
Suspeite quando houver dor súbita, dispneia severa, hipoxemia e instabilidade hemodinâmica. A descompressão torácica imediata (agulha no 2º espaço intercostal em linha hemiclavicular) salva vidas; em seguida, inserir dreno pleural e avaliar radiologicamente. Para mais sobre manejo agudo, veja nosso conteúdo sobre pneumotórax hipertensivo.
Medidas de suporte e monitorização
Monitore ECG contínuo, SpO2 e sinais vitais; administre oxigênio se dessaturação. Controle pressórico é fundamental em dissecção e SCA hipertensiva — protocolos de monitoramento domiciliar e ambulatorial podem complementar o cuidado após alta, como nas orientações sobre monitoramento da pressão arterial.
Síntese prática e recomendações para a equipe
1) Priorize triagem rápida: ECG em ≤10 minutos. 2) Diferencie dor pleurítica de dor isquêmica pela história e exame; peça radiografia de tórax e troponina seriada. 3) Inicie AAS em suspeita de SCA e oxigenoterapia em hipóxia. 4) Em dissecção ou pneumotórax hipertensivo, adote medidas imediatas de controle pressórico ou descompressão. 5) Documente e comunique riscos, transferindo cedo quando houver necessidade de intervenção invasiva (angioplastia, cirurgia vascular ou torácica).
Fontes externas e guias atualizados orientam fluxos locais e protocolos: revisão sobre dor torácica em serviços de emergência (Blog Manole) e linhas de cuidado do Ministério da Saúde (artigo clínico; diretrizes de manejo inicial).
Aplicando essa abordagem sistêmica — anamnese dirigida, exame focado, ECG precoce, troponina e imagem quando indicada — a equipe de emergência pode reduzir atrasos diagnósticos e melhorar desfechos em casos de dor torácica.