Abordagem da dor torácica no pronto-socorro: diagnóstico e manejo
A dor torácica é uma das queixas mais frequentes em urgência e emergência e exige avaliação rápida e organizada para identificar quadros graves, como infarto agudo do miocárdio, ou causas menos críticas, como refluxo gastroesofágico. Este texto apresenta uma síntese prática, baseada em evidências, para estratificação de risco, exames complementares e condutas iniciais, com foco em segurança do paciente e eficiência do atendimento.
Dor torácica: primeiro contato e estratificação de risco
No atendimento inicial, priorize ABCDE, avaliação hemodinâmica e a coleta de uma história direcionada: característica da dor, fatores de risco cardiovascular, sintomas acompanhantes (dispneia, síncope, sudorese) e antecedentes pessoais. A estratificação de risco determina a necessidade de internação, monitorização ou alta com seguimento ambulatorial. Ferramentas validadas, como o HEART score, ajudam a prever eventos cardíacos adversos e a orientar decisões de internação versus observação, com boa acurácia na prática clínica (acervoMais).
HEART score
O escore HEART (History, ECG, Age, Risk factors, Troponin) é simples, rápido e útil na seleção de pacientes para observação ou alta precoce. Integre-o à avaliação clínica e aos biomarcadores para reduzir internações desnecessárias sem comprometer a segurança.
Troponina de alta sensibilidade
As troponinas de alta sensibilidade são essenciais para diagnosticar lesão miocárdica e confirmar infarto. Protocolos de 0–1h ou 0–3h com troponina hs, interpretados em conjunto com o ECG e o quadro clínico, permitem decidir por alta segura ou necessidade de intervenção emergente. Revisões práticas sobre o uso de troponinas estão disponíveis para consulta (Intramed).
Diagnóstico diferencial: causas cardíacas e não cardíacas
Considere causas cardíacas (síndrome coronariana aguda, pericardite), pulmonares (embolia pulmonar, pneumotórax), gastrointestinais (refluxo, esofagite), musculoesqueléticas e psicogênicas. O ECG deve ser obtido imediatamente e interpretado para sinais de isquemia. Radiografia de tórax e exames laboratoriais complementares orientam diagnósticos alternativos.
Exames complementares e biomarcadores
Além do ECG e das troponinas, avalie: radiografia de tórax para causas pulmonares, gasometria quando houver suspeita de insuficiência respiratória, e ecocardiograma em casos de alterações hemodinâmicas ou suspeita de complicações mecânicas. Em pacientes com dor atípica e risco baixo, testes seriados de troponina combinados ao escore HEART aumentam a segurança da decisão clínica. Diretrizes nacionais e internacionais discutem a implementação desses fluxos na sala de emergência (I Diretriz de Dor Torácica).
Protocolos de atendimento e unidades de dor torácica
Unidades dedicadas a dor torácica e protocolos padronizados reduzem tempo de diagnóstico, internações desnecessárias e custos, além de melhorar desfechos. A organização do fluxo do paciente (triagem rápida, ECG em door-to-ECG precoce, acesso rápido a troponina e cardiologia) é determinante para a eficiência do serviço.
Condutas terapêuticas iniciais
O manejo depende da etiologia presumida:
- Se houver suspeita de síndrome coronariana aguda: oxigênio se dessaturado, antitrombóticos (aspirina imediata), anticoagulação conforme indicação, controle da dor e analgesia, e reperfusão (angioplastia primária ou trombólise quando indicada). Para detalhes sobre o manejo do infarto agudo do miocárdio, consulte diretrizes clínicas atualizadas (veja o guia sobre infarto agudo do miocárdio).
- Em causas pulmonares ou infecciosas: antibioticoterapia dirigida e suporte respiratório conforme necessidade.
- Se musculoesquelético ou esofágico: analgesia, anti-inflamatórios ou tratamento para refluxo, conforme avaliação.
Monitorização e seguimento
Pacientes com risco intermediário ou alto devem permanecer sob monitorização cardíaca e ter acesso a exames seriados. Em pacientes de baixo risco com troponina e ECG normais, o alta com orientação e seguimento ambulatorial é apropriado. A integração com serviços de monitorização e programas de controle de fatores de risco, como hipertensão arterial, melhora o prognóstico — veja orientações práticas sobre monitoramento da pressão arterial.
Biomarcadores inflamatórios e avaliação auxiliar
Além das troponinas, biomarcadores como proteína C-reativa podem auxiliar na avaliação inflamatória e prognóstica em determinados contextos clínicos; entretanto, não substituem a troponina na detecção de lesão miocárdica. Para uma revisão prática sobre o uso da proteína C-reativa na clínica, consulte o material disponível em nosso site: proteína C-reativa: guia prático.
Orientações finais
Uma abordagem estruturada à dor torácica envolve triagem rápida, ECG precoce, uso racional de troponina de alta sensibilidade, aplicação de escores de risco como o HEART e disponibilidade de protocolos de reperfusão. A implementação de unidades específicas para dor torácica e a educação contínua das equipes reduzem variabilidade assistencial e melhoram os desfechos. Para embasamento adicional e revisão de protocolos, recomendamos a leitura das diretrizes e revisões citadas (I Diretriz de Dor Torácica, guia prático sobre dor precordial, avaliações sobre gestão da dor torácica), além dos recursos internos sobre manejo do infarto, monitorização pressórica e biomarcadores.
Fontes consultadas e leitura recomendada: I Diretriz de Dor Torácica na Sala de Emergência (scielo.br), revisões sobre troponina e protocolos (intramed.net) e estudos sobre estratificação de risco com HEART (acervomais.com.br).