Abordagem da dor torácica no pronto-socorro

Abordagem da dor torácica no pronto-socorro

Introdução

Dor torácica é um dos motivos mais frequentes de procura em serviços de emergência. Diante de etiologias que variam de causas benignas a eventos potencialmente fatais — como síndrome coronariana aguda, dissecção aórtica e tromboembolismo pulmonar — a prioridade é identificar rapidamente riscos iminentes à vida. Dados epidemiológicos mostram a magnitude do problema em diferentes cenários (ver levantamento da BVS) e reforçam a necessidade de processos claros de triagem e conduta imediata.

Avaliação inicial e triagem rápida

Na chegada ao pronto-socorro, a primeira tarefa é a triagem e a estabilização: avaliar via aérea, respiração e circulação, colocar monitor cardíaco e obter sinais vitais. Perguntas objetivas aceleram o raciocínio: a dor é retroesternal ou pleurítica? Irradia para mandíbula ou membro superior esquerdo? Há fatores de risco cardiovascular conhecidos? Houve sincope, dispneia súbita intensa ou sofrimento hemodinâmico?

Elementos essenciais da anamnese

  • Características da dor: localização, qualidade, intensidade, duração e irradiação.
  • Sinais associados: diaforese, náuseas, síncope, dispneia.
  • Fatores precipitantes e de alívio: esforço, repouso, posição, respiração.
  • História médica: cardiopatias, cirurgia torácica, trombose venosa, câncer, uso de anticoagulantes.

Triagem e prioridade

Use protocolos locais de acolhimento para priorizar atendimento. Pacientes com dor torácica e instabilidade hemodinâmica, arritmias graves, saturação baixa ou suspeita de pneumotórax hipertensivo, dissecção aórtica ou síndrome coronariana com supradesnível do segmento ST devem receber cuidado imediato e transferência para sala de emergência/centro de intervenção.

Estratificação de risco: escores e raciocínio clínico

A estratificação de risco orienta decisões diagnósticas e terapêuticas. Além do juízo clínico, utilize ferramentas validadas conforme a suspeita:

  • Escore de Wells para tromboembolismo pulmonar — integra sinais de TVP, frequência cardíaca, imobilização/ cirurgia recente e história de câncer, entre outros.
  • Escalas específicas para síndrome coronariana aguda, como HEART ou GRACE, que ajudam a prever risco de eventos e necessidade de internamento.
  • Avaliação rápida da probabilidade pré-teste (alta/intermediária/baixa) para guiar exames como D-dímero ou angiotomografia.

Ferramentas não substituem o raciocínio clínico: paciente com alta probabilidade clínica de PE ou dissecção não deve ter o diagnóstico retardado por exames de triagem.

Exames complementares e interpretação

Os exames iniciais devem ser dirigidos pela hipótese diagnóstica e pelo nível de risco.

Exame físico e imagem básica

  • ECG de 12 derivações imediatamente — repetir quando indicado e comparar com traçados prévios.
  • Radiografia de tórax para avaliar pneumotórax, mediastino alargado, consolidações ou derrame pleural.

Laboratório e biomarcadores

  • Troponina seriada para suspeita de isquemia miocárdica; considerações sobre tempo desde o início dos sintomas são essenciais.
  • D-dímero útil em pacientes com baixa a intermediária probabilidade para tromboembolismo pulmonar.
  • Hemograma, creatinina, glicemia e perfil lipídico conforme contexto e para planejamento terapêutico; atenção à função renal antes de contraste iodado.

Exames avançados

Angiotomografia pulmonar para PE suspeita, ecocardiograma transtorácico para disfunção ventricular e suspeita de dissecção quando indicada, e coronariografia ou angiotomografia coronariana conforme protocolo local e probabilidade de doença coronariana.

Conduta inicial em causas com risco iminente de vida

Enquanto os exames são realizados, implemente medidas direcionadas às causas mais prováveis e que ameaçam a vida:

  • Para suspeita de síndrome coronariana aguda: monitorização contínua, oxigenação se sat <90%, analgesia, antiagregação e anticoagulação conforme janela e diretriz (consultar protocolos locais e diretrizes da SBC), e consulta precoce com cardiologia. Ver recomendações práticas em protocolos institucionais e diretrizes referenciadas.
  • Para tromboembolismo pulmonar de alto risco: suporte hemodinâmico e anticoagulação ou trombólise conforme indicação.
  • Para dissecção aórtica: controle rigoroso da pressão arterial e encaminhamento emergencial para cirurgia vascular/cardiotórax.
  • Pneumotórax hipertensivo ou tamponamento: procedimentos imediatos de descompressão/toracocentese conforme treinamento.

Documente contraindicações (por exemplo, trombólise) e comunique de forma clara com equipes de cardiologia, cirurgia torácica e radiologia intervencionista.

Comunicação, documentação e trabalho em equipe

A integração multidisciplinar é central: enfermagem, cardiologia, radiologia, laboratório e equipe de emergência devem compartilhar informações em tempo real. Registre tempo de início dos sintomas, ECGs, doses de medicação administradas e planos de ação. A comunicação estruturada reduz erros e acelera decisões críticas.

Recursos e referências para protocolos locais

Para atualização de rotinas e diretrizes, consulte materiais nacionais e revisões confiáveis. Dados epidemiológicos e revisão da magnitude do problema estão disponíveis na BVS, enquanto recomendações práticas para triagem e manejo podem ser consultadas nas páginas das linhas de cuidado do Ministério da Saúde e em documentos de sociedades médicas regionais. Exemplos úteis incluem a revisão sobre dor torácica em sala de emergência e as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre angina e infarto sem supradesnível.

Leituras complementares no blog: veja nossos textos sobre abordagem da dor torácica, fluxos de decisão no pronto-socorro, exames complementares e interpretação e triagem e priorização para padronizar atendimentos.

Fechamento e orientações práticas

Na prática do pronto-socorro, priorize: 1) estabilização imediata; 2) estratificação de risco com escores e juízo clínico; 3) exames direcionados e interpretação rápida; 4) medidas terapêuticas para causas de alto risco; e 5) comunicação multidisciplinar documentada. Integre protocolos locais com as diretrizes nacionais e societárias para diminuir variabilidade e melhorar desfechos. Para referência, consulte o resumo epidemiológico da BVS, a revisão sobre dor torácica em emergências e as linhas de cuidado do Ministério da Saúde nos links citados.

Fontes citadas no texto: levantamento epidemiológico e revisão (pesquisa.bvsalud.org), revisão prática em sala de emergência (socerj.org.br) e diretrizes/protocolos do Ministério da Saúde (linhasdecuidado.saude.gov.br).

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